A Unidade na Adversidade

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre unidade na adversidade do povo Brasileiro

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BRASIL! “O que mais admiro no nosso povo é essa unidade na adversidade!”, sou um fã de Ariano Suassuna! Melhor dizendo, sou fã de pessoas inteligentes. E, Ariano, além de muito inteligente sempre me fez pensar e ainda me faz pensar, enquanto rio. Rir e rio, um paradoxo um tanto mórbido para o momento em que vivemos. Um momento em que se faz difícil pensar e rir ao mesmo tempo, pois entre uma imagem e outra, uma frase e outra, diante de minha retina aparecem os rios transformando suas margens em verdadeiros lagos, lagoas e lagunas e o Rio Grande do Sul em uma tragédia anunciada.


Nasci no pampa! Também chamado metade sul do Rio Grande do Sul. E ao nascer em Canguçu sempre aceitei ser chamado de canguçuense, consequentemente por minha cidade natal estar no estado do Rio Grande do Sul, gaúcho me tornei!


Quando comecei a viajar para outros países, as pessoas me chamavam e me chamam de brasileiro. Fui me moldando e tendo a certeza que sou canguçuense, gaúcho, brasileiro, latino-americano e um pouco cidadão do mundo. Mas nos últimos tempos, não é isso que queriam nos fazer acreditar que éramos, ou somos. Tentaram nos dividir entre nós e eles! E quase conseguiram!


Meus estudos me levam a dizer que a evolução da vida tem o formato de uma espiral, ou seja, as épocas se repetem, porém em um patamar de evolução mais elevado, para alguns, mas trazendo junto, toda carga de energia do que deu errado e do que não presta, naquele exato ponto da espiral evolutiva um ou dois degraus abaixo. Degraus estes que as vezes estão alguns séculos entre si. Tal como se na idade das trevas, o que não prestou dela tentasse novamente se apresentar como a melhor forma de governar e viver.

“…eu acho o nosso país um grande país! Eu acho o nosso povo, um grande povo! O que eu mais admiro no nosso povo é essa unidade na adversidade”
(Ariano Suassuna)


Essa maneira de evoluirmos, penso eu, é um teste que nos é posto a prova para ver se somos capazes, em um outro patamar evolutivo, de lidar com o que não presta de uma maneira mais eficaz e porque não dizer, de uma maneira definitiva. Uma maneira do cosmos, da natureza vital, do que quer que venha nos reger como forma de vida, inclusive uma possível inteligência avançada, que no final nos aplauda como uma unidade que venceu as trevas, venceu o mal e o mal existe sim e está entre nós, se fez gente, se fez pessoa e certamente destrói a natureza e tenta destruir a humanidade espalhando mentiras – “fake news”, criam uma falsa realidade paralela e enganam a parte da população cujo discernimento ainda não se faz presente.


Nessa última semana, diante das imagens e notícias do que passei a chamar de o “grito de socorro da mãe natureza”, que bradou para que todos pudessem escutar em alto e bom som o mesmo brado do líder indígena Sepé Tiaraju: “Co Yvy Oguereco Ijara”, simplesmente, “Essa Terra tem dono”, percebi que o ponto de mutação em que nos encontramos equivale ao mesmo ponto e momento do que foi chamado de “Idade das Trevas”, aquele momento em que a toda poderosa Europa convivia com guerras, invasões bárbaras, epidemias, crises agrícolas, imposição da Igreja e dos Malafaias da época, inquisição e a perseguição aos “hereges”, desigualdades sociais, etc., nada muito diferente do momento presente, certo?


Ao perceber o ponto de mutação que estamos vivendo, nada melhor que procurar a energia daqueles que lutaram com bravura contra esse estado de obscurantismo e já vislumbrando que se eles venceram a duras penas, nós também vamos vencer as trevas que ainda pairam sobre nossas cabeças e que chamamos de fascismo, bolsonarismo, idiotismos e outros mais que estão sob o guarda-chuva da extrema direita. Extrema direita que é dotada de um poder letal muito grande, tão grande quanto uma boiada passando e destruindo tudo que vive em seu caminho e com nossa permissão.


Eles queriam nos dividir entre esquerda e direita, nós e eles, sul e norte, estados ricos e progressistas, estados pobres e atrasados, deram literalmente com os burros na água, como fala o ditado popular. Deixamos de ser gaúchos, sulistas e passamos todos a ser brasileiros.


O Brasil se uniu em prol do estado do Rio Grande do Sul! As imagens através da televisão, das redes sociais e até mesmo nas descrições dos repórteres de rádio nos mostram pessoas de todos os cantos do Brasil unidas e se solidarizando com nossos irmão brasileiros que vivem na parte sul do país! Um só povo, sentindo a mesma dor!


O estado brasileiro do Rio Grande do Sul precisará ser reconstruído, não somente no que foi destruído através da inundação, mas principalmente no que foi destruído através dos tempos em se tratando de flora, fauna, assoreamento dos rios, lagos e lagoas, destruição das matas ciliares e a aplicação do racismo ambiental.


Em se tratando de Racismo Ambiental, vi e ouvi uma fala do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a semana em que ele havia se espantado ao descobrir que havia um grande número de pessoas da etnia negra no estado do Rio Grande do Sul. O presidente descobriu o fato ao visitar os inúmeros abrigos em Porto Alegre e região, onde inúmeras pessoas dessa etnia estão abrigadas. Eis um assunto que futuramente vou abordar, mas contra fatos não existem argumentos, as pessoas com menor poder aquisitivo e socialmente renegadas a cidadãs de segunda classe são as que mais sofrem e vão sofrer com eventos climáticos considerados graves. Essas pessoas são obrigadas, devido ao poder aquisitivo baixo ou nenhum, a habitar em locais sem acesso as mínimas condições de higiene e qualidade de vida digna.


Retorno ao mestre Ariano Suassuna e o escuto falar a frase título dessa crônica, “A unidade na Diversidade”; ele disse que havia percorrido o Brasil todo e em todos os lugares havia encontrado o mesmo povo. E acrescento eu, um povo sofrido, um povo trabalhador, um povo que sabe dividir o pouco que tem com quem precisa, um povo que ainda nutre alto grau de analfabetismo e que ainda acredita na lábia de políticos inescrupulosos e mercadores da fé advindos da inquisição.


Assim tal qual o Mestre Suassuna, a natureza entendeu que somos um povo único, tanto que ela no seu avanço, gritando e passando com sua correnteza, não distinguiu ninguém que estava no seu caminho, negros e brancos, ricos e pobres, casebres com o teto furado e casas com placas solares nos telhados, ela, a natureza, tratou a todos com igualdade. E o Brasil respondeu da mesma forma, se uniu e se tornou um país solidário com os seus irmãos.


A unidade na adversidade é o oposto do nós contra eles. A unidade do povo brasileiro para com os brasileiros do estado do Rio Grande do Sul é a prova cabal de que unidos somos melhores pessoas, melhores vizinhos, melhores amigos, melhores e mais sábios adversários, pois se com a unidade podemos reconstruir um estado, podemos também reconstruir nosso próprio país e salvar vidas, nossas vidas da mão de pessoas inescrupulosas que tentam se utilizar da situação para ganhar “likes” nas rede sociais e lucrarem milhões ao se intitularem defensores das familia e da moral cristã.


A unidade na adversidade é a natureza nos dando uma chance gigantesca de através dessa união solidaria valorizar a vida e a resiliência de nosso povo e dar um basta na divisão que querem colocar o Brasil. É a natureza, ao mesmo tempo que brada que é a verdadeira dona dessa terra, solicitando que nos mantenhamos unidos e tal qual a força da correnteza das águas façamos o mesmo, através de nosso voto, com candidatos e políticos inescrupulosos que durante essa catástrofe que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul, tentaram lucrar em beneficio próprio.


A unidade na adversidade sempre foi, tal como falou Ariano Suassuna, a maior e mais nobre riqueza do povo brasileiro, riqueza essa que nos fez ser um povo abençoado por Deus e bonito por natureza. Abençoado pelo Deus do filósofo que disse: “…minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti!”. A natureza de Espinosa veio nos alertar que ainda é tempo. A natureza de Espinosa veio nos restituir a glória.


E nós respondemos que sim, através da unidade na adversidade! Que essa unidade permaneça a ponto de varrermos o lixo dos rios, das montanhas, das florestas, das Câmaras Municipais, das Prefeituras, das Assembleias Legislativas, das Câmaras Federais, do Congresso Federal e de onde haja lixo para ser retirado, pois tal qual verso o ditado popular, povo unido jamais será vencido!

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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