A Revolução de Anita!

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre A Revolução de Anita

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ANITA! Anita foi teimosa e sabia, uma jovenzinha que nunca aceitou um não como resposta! Você deve estar se perguntando se estou falando baseado em sua participação no show da Madona ou porque ela cantou com Andrea Bocelli, não! Não é desta Anita que vos falo e sim de uma menina que nasceu na ilha de Cuba.


Antes, porém, na quarta-feira, dia 22 de maio de 2024, me deparo com o principal jornal da cidade das águas, trazer estampado na capa a manchete de que Foz do Iguaçu possui mais de 8 mil analfabetos! Para ser mais claro, 8,9 mil jovens e adultos de nossa cidade não vão ler o que escrevo pelo simples fato de não saberem ler. Não estou falando dos que não vão mel ler por serem analfabetos funcionais. Se somados, estamos diante de uma catástrofe gigantesca.


Os dados são do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – que através do censo mostrou essa faceta deverás negativa de nossa sociedade. Algo de muito errado e muito triste acontece ao nosso lado e nada estamos fazendo para que essa vergonha não mais exista. Os dados do IBGE são para fazer pensar, pois no estado do Paraná, estado em que o governador quer privatizar a educação pública, existem 400 mil pessoas sem instrução. A matéria do jornal traz que o índice de analfabetismo estadual está abaixo do índice nacional.

“Sou uma simples camponesa! Eu disse ‘não posso’ mais de uma vez, mas essa jovenzinha me convenceu que eu posso sim. Eu sou teimosa, mas ela é mais teimosa que eu, por isso nunca aceita um não como resposta. Ela diz que agora estou alfabetizada, algo que quase não posso acreditar. O meu esposo e a minha irmã mais nova também podem ler e escrever.”

(Clara Mercedes Pérez)


7% dos brasileiros acima de 15 anos também não sabem ler nem escrever, perfazendo um número de 11,4 milhões de pessoas. Ao esmiuçarmos bem os números, ficamos sabendo quais as classes sociais e a faixa etária onde se concentram o maior número de analfabetos. E isso importa? Minha respostas é não, não importa a faixa etária e ou social, ninguém deveria ser privado de aprender a ler e escrever, é o mínimo de dignidade que uma pessoa humana deve receber dos governantes de seu país.


Não conhecia a Anita! Mas, entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano estive em sua terra, em sua casa, em seu país, em sua ilha! Anita é uma menina cubana que em 1961, ainda criança aceitou o desafio feito por Fidel Castro de que não haveria nenhuma pessoa analfabeta na ilha! Eu falei nenhuma pessoa analfabeta.


A Revolução de Anita é um relato, um livro, escrito pela escritora canadense, Shirley Langer que viu o desafio feito por Fidel dar certo e retirar um milhão de pessoas da ignorância proporcionada pelo analfabetismo.


Anita se tornou brigadista e foi a campo ensinar os camponeses! “A Revolução de Anita” deveria ser um livro obrigatório na formação de professores, ao invés de investirem dinheiro trazendo para as formações os “teóricos” de sucesso no país, que cobram uma fortuna para virem falar bonito palavras que a maioria dos próprios professores não entendem e quando entendem sabem que não terão apoio ou condições de se quer ousar colocar em prática.


Sou filho de Dom Quixote e por isso persigo sim moinhos de vento e sonho que um mundo novo é possível. Sonho que o acesso ao conhecimento um dia chegará para todos e para isso precisamos de solidariedade, necessitamos nos horrorizar com um número alto de pessoas analfabetas e enquanto uma pessoa não souber ler e escrever a falha é da educação brasileira, a falha é sua, a falha é minha!


Estive em Cuba e vi um país que passa por sérios problemas, onde a comida, remédios, combustível e outras coisas faltam. Conversei com autoridades e conversei com camponeses e todos sabiam ler e escrever.

E sabem conversar, sabem dizer o que falta e porque falta, são pessoas politizadas e por isso continuam resistindo e lutando, o começo de uma luta por dignidade começa no “b a bá”, o começo da dignidade começa na fantástica magia que é saber o que as letras dizem e o que escrevemos.


Necessitamos de uma “Revolução de Anita” em nossa cidade, em nosso estado, em nosso país. Uma revolução em que aqueles que aprenderam a ler ensinem pelo menos mais uma pessoa ler, isso já faria a diferença.


Enquanto isso não acontece, eu escrevo sabendo que oito mil pessoas não vão saber que minha escrita é também por eles. E o mais triste ainda é que talvez você termine de ler esta crônica, sorria e nem se quer entenda o quanto isso é triste, o quanto isso tem a ver com todos nós.
Se cuba conseguiu é possível que nós também possamos conseguir!

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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