Polícia indicia assassino de Marcelo Arruda por homicídio duplamente qualificado

Conclusões do inquérito foram anunciadas durante entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (15).

Conclusões do inquérito foram anunciadas durante entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (15).

Por Denise Paro, Guilherme Wojciechowski e Marcos Labanca

O agente penal Jorge José da Rocha Guaranho, autor dos disparos que tiraram a vida do guarda municipal Marcelo Aloizio da Rocha, no último fim de semana, em Foz do Iguaçu, foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por perigo comum, ao colocar em risco a vida de outras pessoas.

A informação foi divulgada à imprensa, na manhã desta sexta-feira (15), pela delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Camila Cecconello. Segundo Cecconello, o indiciamento tem como base os depoimentos das 17 pessoas ouvidas e a análise das imagens das câmeras de segurança.

Delegada Camila Cecconello. Imagem: Marcos Labanca

Embora algumas testemunhas disseram que Jorge Guaranho tenha ido à ARESF para fazer ronda, a polícia diz que outros depoimentos indicam o contrário e levam a crer que ele realmente esteve no clube com intuito de provocar a vítima. “Então nesse primeiro momento fica muito claro que houve uma provocação e uma discussão em razão de ideologias e opiniões políticas”, diz a delegada Camila.

A delegada Camila Cecconelo ainda diz que não há provas suficientes indicando que ele voltou para festa com a finalidade de cometer crime de ódio. “O nó que temos é o depoimento da esposa que diz que ele alegou que ia voltar porque se sentiu humilhado porque a vítima teria jogado pedras e terra no interior do carro e acertado a esposa e o filho”. Arruda e Guaranho não se conheciam.

O celular do policial penal, que pode ser peça-chave para entender a motivação do crime, foi apreendido com a esposa após determinação judicial. A perícia no aparelho, que foi entregue protegido com senha, será efetuada nos próximos dias e deve demorar de 20 a 30 dias.

Também durante a coletiva, a titular da Delegacia de Homicídios em Foz do Iguaçu, Iane Cardoso, disse que os autores dos chutes desferidos contra Guaranho, no momento em que o atirador já estava caído, também serão indiciados. O inquérito sobre as agressões ainda não foi concluído, uma vez que faltam etapas como o exame de corpo de delito.

Delegada Iane Cardoso. Imagem: Marcos Labanca

Atirador viu imagens da festa antes de ir ao local

Conforme a polícia, Guaranho teve informações sobre a festa de Marcelo quando participativa de um churrasco de futebol. Lá ele ingeriu bebida alcoólica e ficou sabendo que havia uma festa temática do Partido dos Trabalhadores (PT).

O policial penal recebeu a informação de uma testemunha que estava no churrasco e tinha acesso às câmeras de monitoramento do clube (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu/ARESF). A testemunha costumava acessar as imagens porque o clube fica em local afastado e os sócios zelam pela segurança do local. Como Guaranho estava próximo, ele acabou vendo as imagens.

Segundo testemunhas informaram à polícia, após ver as imagens Guaranho não comentou nada, apenas perguntou onde a festa estava ocorrendo. Depois que saiu do churrasco com a mulher e o filho pequeno, ele foi até a ARESF. Com base nas imagens e nos depoimentos colhidos, a polícia diz que o policial penal chegou em frente ao local da festa ouvindo no carro uma música referente à campanha do presidente Bolsonaro. Foi quando Marcelo Arruda saiu da festa para ver quem estava no local e, aparentemente, fez um símbolo do V; então ambos começaram uma discussão sobre ideologias e posicionamentos políticos.

Na sequência, de acordo com a polícia, Marcelo pegou um punhado de terra e jogou contra o carro de Guaranho, que apontou a arma para o guarda municipal. Nervosa, a esposa de Guaranho contou que ela e o bebê foram atingidos pela terra e pediu para o marido ir embora. A polícia disse que depois desse episódio ele teria dito à esposa: “Isso não vai ficar assim, nós fomos humilhados, ele nos provocou, e eu vou retornar”. Apesar do pedido da mulher para não voltar à ARESF, Guaranho retornou.

Diante da ameaça, Marcelo e os convidados ficaram assustados e pediram para que o portão da ARESF fosse fechado, temendo a volta do policial penal. Para se prevenir, Marcelo pegou a arma e deixou na cintura.

Guaranho chegou ao local e abriu o portão, interpelando o porteiro para deixá-lo entrar. Segundo a polícia, ele mandou o porteiro sair da frente que o problema não era com ele.

Os convidados perceberam que Guaranho tinha voltado e avisaram Marcelo, que começou a sair do salão. Ao ver o guarda municipal, o policial penal sacou a arma, e ambos ficam de três a quatro segundos apontando a arma um para o outro e pedindo para baixá-la, até que Guaranho deu os primeiros tiros em Marcelo.

Para defesa, intolerância política foi causa do crime

O advogado Ian Vargas, que representa a família de Marcelo Arruda, reafirma que foi a intolerância política a causa do assassinato. Ele está avaliando os documentos reunidos pela polícia e aguarda manifestação do Ministério Público, que poderá requisitar mais diligências ou oferecer a denúncia. Nesse caso, solicitará habilitação como assistente de acusação do MP.

Três advogados foram constituídos para defender Guaranho. São Poliana Lemes Cardoso, Carlos Bento e Cleverson Leandro Ortega. Todos acompanharam a coletiva nesta sexta-feira.

A defesa de Guaranho diz que aguarda o término das investigações e a conclusão das perícias. Para Poliana, será importante verificar as conversas pela linguagem labial para saber o que seu cliente e Marcelo teriam dito um para o outro.

A advogada descarta a motivação política para o crime. “A motivação dele [Guaranho] efetivamente foi retornar em razão da primeira e injusta agressão que feriu a honra dele.” Para a defesa, o policial penal voltou ao local da festa por conta da discussão e não por ideologia política.

Os advogados ainda não tiveram contato com Guaranho, que está internado na UTI do Hospital Costa Cavalcanti em estado grave.

Nota do Ministério Público do Paraná

A respeito das apurações relacionadas ao crime de homicídio ocorrido em Foz do Iguaçu no último sábado, 9 de julho, contra um guarda municipal da cidade, o Ministério Público do Paraná informa que, a partir do recebimento do inquérito policial concluído, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) analisará o processo e trabalhará no oferecimento da denúncia, dentro do prazo legal.

Leia o que já foi publicado no portal:
10/7 – Guarda municipal é assassinado em festa com temática do PT em Foz
10/7 – Entidades e autoridades lamentam assassinato de Marcelo Arruda
10/7 – Polícia Civil investiga “real motivação” de assassinato de petista
11/7 – GAECO vai acompanhar investigações da morte de Marcelo Arruda
12/7 – Atirador que matou Marcelo Arruda é transferido de hospital
12/7 – Guarda municipal Marcelo Arruda foi defensor das causas coletivas e cidadãs
13/7 – Polícia avança na investigação do assassinato de Marcelo Arruda
13/7 – Ato pela paz e por justiça para Marcelo Arruda acontece neste domingo
14/7 – MP pede que Justiça decrete sigilo no inquérito que investiga assassinato

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2 Comentários
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