Ministro do Interior salvou-se de juízo político, fez mais acusações e governo aumentou imposto sobre tabaco.
O quase todo poderoso ex-presidente Horacio Cartes, líder da facção Honor Colorado do partido que está no poder, está sendo atacado de frente pelo ministro do Interior, Arnaldo Giuzzio. E está perdendo.
O grupo político de Cartes tentou um “juízo político” contra o ministro, na Câmara de Deputados, com base na atuação dele em relação ao atentado no festival de música de San Bernardino, mas Giuzzio se safou.
Como havia 67 deputados presentes, eram necessários 44 votos para o juízo político, que na prática significaria a destituição de Giuzzio do ministério. Mas só 27 votaram a favor. Houve 25 abstenções e 15 votos contra.
Ficou clara a divisão do Partido Colorado, que está no poder “desde sempre” (só perdeu a eleição de 2008, quando foi eleito Fernando Lugo. Ele não completou o mandato devido a um controvertido juízo político).
Há a ala cartista e a ala abdista, e esta última, nesta sexta-feira, 4, venceu a batalha a favor de Giuzzio.
OUTRO REVÉS
Horacio Cartes, dono da maior indústria de tabaco no Paraguai, que por sinal detém quase a metade do mercado ilegal de cigarros no Brasil, sofreu ainda na sexta-feira mais um revés: o presidente Mario Abdo Benítez aumentou em 2 pontos percentuais o imposto sobre o tabaco, que agora passa a ser de 20%.
É pouco, considerando que no Brasil a carga tributária sobre o cigarro está em 73,5%. Mas já ajuda a tirar algum da fábrica de Cartes, a Tabacalera del Este (que fica em Ciudad del Este).
ACUSAÇÕES
A tentativa de juízo político contra Giuzzio deixou o ministro ainda mais disposto a levantar novas acusações contra Horacio Cartes.
Depois de denúncia formal contra o ex-presidente, na Secretaria Nacional de Prevenção e Lavagem de Dinheiro e Bens, por contrabando de cigarros e lavagem de dinheiro, Giuzzio voltou à carga.
Em sessão fechada da Comissão Permanente do Congresso Nacional, Giuzzio revelou como é o movimento de dinheiro das empresas de Cartes, a venda e a rota de contrabando dos cigarros e até deixou entrever um possível convênio com grupos criminosos para a passagem dos produtos de sua fábrica ao Brasil, Colômbia e México, noticiou o jornal Última Hora.
Segundo Giuzzio, o esquema utilizado pelo cartismo para o contrabando de cigarros tem participação de Roque Fabiano Silveira, chefe do tráfico no Paraguai e condenado nos Estados Unidos, além de aparecer na “Operação Patrão” no Brasil, junto com Cartes e seu “irmão de alma” Darío Messer como integrantes de uma organização criminosa.
Numa tela que postou numa parede do Senado, Giuzzio mostrou um mapa da rota de contrabando de cigarros, que também é utilizada pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no Brasil e por outras máfias regionais da Argentina e do Uruguai, como explicou o Última Hora.
O ministro adiantou que essas acusações serão utilizadas no processo judicial contra Cartes, e incluem atuação em banco e na Bolsa de Valores (“bolsa de delinquentes”, segundo Giuzzio).
Mencionou, também, que a Tabesa declarou ter vendido, entre 2013 e 2018, “a soma de US$ 1,2 bilhão de dólares”, dos quais US$ 417 milhões foram de exportações. “Quem fuma tanto no nosso país”, perguntou-se Giuzzio.
O dinheiro do esquema de contrabando a diversos países, de acordo com o ministro, chega ao Brasil e, por meio de casas de câmbio, entra no Paraguai e é emprestado a empresas do próprio Cartes.
“VENDETTA“
Arnaldo Giuzzio, em outra matéria publicada no Última Hora, disse que a “guerra” ou “vendetta” com Horacio Cartes vai ter continuidade. Reconheceu que teme por sua vida, mas garantiu que “essa gente não vai me acovardar”.
“Esta é uma guerra convencional, não é uma vendetta da máfia, é uma vendetta política que pretende continuar assim como está”, afirmou à rádio Monumental 1080 AM.
Arnaldo Giuzzio disse que a grande habilidade do ex-presidente Cartes é manter gente sua em postos chaves do governo de Mario Abdo Benítez. E Cartes pretende manter esse esquema, que o ministro comparou ao que tinha o traficante colombiano Pablo Escobar Gaviria.
IMPOSTO SOBRE O FUMO
Em outra frente, Cartes teve de engolir um aumento sobre o fumo, que passou de 18% a 20%, conforme decreto assinado pelo presidente Marito.
Na verdade, o presidente apenas cumpre uma lei que prevê o aumento gradual deste imposto até chegar a 24%.
Como no ano passado não houve aumento de um ponto percentual, como previsto, devido à pandemia, agora foi decretado o acumulado de dois pontos.
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