Itaipu Binacional reintegrou ao quadro de funcionários, nessa segunda-feira (10), a tradutora e secretária bilíngue Sonia Lúcia Castanheira, demitida em fevereiro de 1977, durante a ditadura militar, pelo então diretor-geral brasileiro, Costa Cavalcanti. A alegação para o desligamento foi de “suspeita de atividades subversivas”.
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“Fui demitida sem saber se havia cometido algum erro, se era pelo meu desempenho. Somente em 2009, com a abertura dos arquivos da ditadura militar, descobri que a causa era política”, disse Sonia, de 78 anos, que voltou à empresa acompanhada pelos filhos, Mauricio e Claudia, e pelos advogados que a representaram, Daniel e Andrea Godoy.
A reparação chega quase cinco décadas após a demissão da profissional. Além da reintegração ao quadro, Sonia também receberá uma indenização de Itaipu e terá direito aos benefícios oferecidos pela binacional, como assistência médica e odontológica.
“Minha maior alegria é estar viva neste momento, em que a injustiça cometida contra mim e a minha família é reconhecida”, celebrou. “Não guardo rancor da Itaipu, eu amava a empresa e não entendia se eu tinha falhado ou o que poderia ter feito de errado.”
Atual diretor-geral brasileiro, Enio Verri entregou em mãos o crachá funcional de Sonia. Para Verri, que assumiu no último mês de março, a medida “é um gesto de respeito à profissional, ao próprio estado democrático de direito, à Constituição brasileira e àqueles que sempre lutaram por um país mais justo e igualitário”.
Sonia, que afirma não ter participado de atividades contrárias ao regime, recordou que o marido também foi alvo de perseguição. “Meu marido trabalhava na Unicon [empreiteira terceirizada] e foi demitido antes de mim, em 1976. Uma mulher nos acusou de estarmos envolvidos em atividades contrárias à repressão. Nós nunca fizemos nada”, assegurou.
Nos arquivos da ditadura, consta uma carta do general Costa Cavalcanti ao chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), relatando que Sonia e Dario Anibal Galindo foram demitidos com base nos “antecedentes” recolhidos pela Assessoria Especial de Segurança e Informações (AESI), órgão que monitorava os empregados e familiares.
Em 2012, Sonia teve acesso ao relatório completo produzido pela AESI e entrou com uma ação trabalhista na 1.ª Vara do Trabalho de Foz do Iguaçu, buscando o reconhecimento de seu vínculo empregatício. A sentença favorável à autora foi concedida em 2017, pela juíza Erica Yumi Okimura. À época, Itaipu recorreu. Agora, acatou a determinação.
“Com eleição do presidente Lula, o Brasil mudou; e a Itaipu, também. A defesa dos direitos humanos é uma das obrigações da empresa. A reintegração de Sonia é o reconhecimento de uma violência cometida pela ditadura e a demonstração clara de que nosso país respeita a dignidade e os direitos humanos”, concluiu o diretor-jurídico, Luiz Fernando Delazari.
(Com informações de Itaipu Binacional)
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