Itaipu: Enio Verri expõe desafios e ações prioritárias da nova gestão na binacional

Renegociação do tratado que criou a usina, obras, desenvolvimento regional, investimento em inovação e relação com a Unila integram a agenda.

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Indicado diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Enio Verri (PT-PR) se prepara para assumir o cargo na segunda quinzena de março, após os trâmites à posse formal. Em entrevista ao programa Marco Zero, produção do H2FOZ e Rádio Clube FM 100.9, ele antecipa qual deverá ser o perfil da gestão, os desafios e as ações prioritárias.

Assista à entrevista:

Paranaense, o parlamentar será o 15.º ocupante do cargo. A nova diretoria iniciará a gestão com a dívida do financiamento da construção da usina quitada, resultado da pactuação entre brasileiros e paraguaios que perdura há 50 anos, desde a assinatura do Tratado de Itaipu, em 1973. E a revisão desse documento, especificamente o seu Anexo C, será o primeiro grande desafio.

“O que mais estamos estudando é o Anexo C”, enfatizou. “Essa parceria completa 50 anos em 2023. É uma data histórica porque, a partir de 1.º março, a Itaipu está quitada, sendo 50% do Brasil e 50% do Paraguai”, frisou Enio Verri. Em abril, o país vizinho vai às urnas em eleição nacional, e o novo governo assumirá em agosto, data para as negociações.

“Portanto, inicia-se um novo momento da história da Itaipu, que é como será a parceria Brasil–Paraguai daqui para frente”, reforçou. “O Paraguai vai continuar vendendo a energia que não utiliza para o Brasil? Quais serão os investimentos prioritários para os dois países? Como será o pagamento de royalties? Tudo isso vai começar do zero”, ressaltou Enio.

Nesse contexto de tratativas binacionais de vulto, seu papel será o de entabular a negociação juntamente com os ministérios de Minas e Energia e de Relações Internacionais, órgãos do governo federal, explicou. “Para construirmos um acordo muito bem-sucedido de 50 anos e que dure ainda centenas de anos pela frente”, pontuou.

Foz do Iguaçu e Itaipu

Durante a entrevista, Enio Verri afirmou que sua gestão será comprometida com a comunidade iguaçuense, que as obras iniciadas terão continuidade e que as não começadas serão analisadas para, se estiverem dentro da missão da usina, ter andamento. “Foz do Iguaçu terá não só presença física, porque eu ficarei a semana inteira morando na cidade, como presença em investimentos”, asseverou.

“As obras iniciadas vamos terminá-las todas, tenho certeza disso. Não se para obras, salvo se houver algum problema legal, que eu não creio ocorrer pela seriedade do corpo técnico da Itaipu”, declarou Enio Verri. “O que começou terminaremos. Obras que não foram iniciadas, vamos analisá-las e, se estiverem dentro da missão, continuadas.”

Ele declarou que a nova diretoria irá investir em desenvolvimento regional, para replicar seus efeitos em todo o estado. “Itaipu é um canhão enquanto instrumento de desenvolvimento regional, que tem que ter um efeito irradiador para melhorar a vida da população de Foz do Iguaçu, do Oeste, do Sudoeste, mas tem que chegar a todo o Paraná”, defendeu.

Paraná e Itaipu

Um dos meios para propagar o desenvolvimento é a inovação, exemplificou Enio Verri, a ser uma frente de investimentos da binacional. “A tecnologia não tem limite geográfico”, disse, para expor que soluções para melhorar a produção industrial ou desenvolver fontes de energia diversificadas podem ser utilizadas no Paraná e no Brasil, elencou.

Unila e Itaipu

Questionado sobre como pretende conduzir a relação institucional com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), unidade federal independente e com autonomia, sediada em Foz do Iguaçu, Enio Verri recorreu à sua formação. Graduado em Economia, é doutor em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP).

“Só de dizer o meu doutorado já é possível entender qual é meu modo de pensar, neste momento de grandes blocos econômicos mundiais”, mencionou. “Temos que ter a América Latina muito unida, trabalhando no desenvolvimento econômico, social e cultural. E a Itaipu, assim com a Unila, são grandes instrumentos para isso”, refletiu.

Unila deve ser parceira para desenvolver inovação e conhecimento – foto: Divulgação

“Vou mais adiante: a Itaipu é o melhor exemplo da história da humanidade de integração regional”, considerou Enio Verri. O parlamentar comparou o debate sobre a União Europeia, que remonta a uma história de 80 anos, disse, com os entendimentos em torno da criação da Itaipu Binacional, que completará cinco décadas em abril.

Mesmo com distinções geográficas e econômicas, Brasil e Paraguai conseguiram ter uma parceria bem-sucedida, contabilizou. “Entendo que a Itaipu tem que continuar sendo esse modelo, e a Unila é a grande parceria em inovação e conhecimento que a gente quer construir”, sublinhou.

Perfil da empresa

No Marco Zero, Enio Verri informou que o funcionamento e a autonomia da Itaipu Binacional não são alterados com a constituição da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (ENBPar), após a privatização da Eletrobras. “Não muda nada o que já foi feito e continuará com a mesma autonomia para o futuro”, sintetizou.

À frente da empresa, pretende adotar como perfil de gestão o modelo do ex-diretor Jorge Miguel Samek, aliando desenvolvimento, investimentos e compromisso ambiental e social. Reforçou que irá administrar a binacional casando as políticas do governo Lula, citando como exemplos ações da agricultura familiar a parcerias com universidades públicas.

“Vamos lutar por uma energia da melhor qualidade possível, com o menor preço possível, apostando na inovação, porque vivemos um processo de substituição da matriz energética no Brasil e no mundo”, relatou Enio. “Também temos que discutir nossas dívidas sociais”, prosseguiu.

A binacional de energia elétrica quitou a sua dívida de construção – foto: Rafael Kondlatsch/Itaipu Binacional

Entre essas demandas, citou a dívida com a comunidade indígena e a população originária da região, e demarcou as questões ambientais, que para Enio Verri deverão ser uma marca muito forte da Itaipu. “Portanto, vamos fazer um trabalho em que é importante olhar a infraestrutura, mas sobremaneira as políticas que são determinadas pelo presidente Lula, e as parcerias na região e no Paraná serão políticas [alinhadas] com ministérios.”

“Contem comigo como parceiro de toda a região. Itaipu fez muito pela região e pode continuar fazendo ainda mais”, comprometeu-se. “O resultado da negociação do Anexo C determinará o tamanho e o que faremos. Mas, se depender da nossa boa vontade e, em especial, da disposição do presidente Lula, vamos continuar fazendo muita coisa para melhorar a vida da população”, concluiu Enio Verri.

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