O próprio presidente Alberto Fernández reconhece “erros que temos cometido”; e diz que “dos erros aprendemos”.
O governo argentino esperava uma vitória apertada nas primárias deste domingo, quando são escolhidos pelo voto da população os partidos e candidatos que poderão disputar as eleições de 14 de novembro.
As listas de pré-candidatos apresentadas pela Frente de Todos, união governista, só foram mais votadas em sete das 24 jurisdições argentinas, para deputados.
As listas de senadores governistas foram mais votadas em duas das oito províncias que este ano vão eleger representantes.
Além de eleger os candidatos que vão disputar as 127 vagas que serão renovadas na Câmara de Deputados, também foram eleitos nas primárias aqueles que vão postular os 24 lugares no Senado, pelas províncias de Corrientes, Santa Fe, Córdoba, Chubut, Mendoza, La Pampa, Catamarca e Tucumán.
Os analistas consideram que as primárias representaram uma espécie de plebiscito, em que a população disse se concorda ou não com a política econômica de Fernández. Discordou.
Deu vitória à direita de Macri, mas cedeu espaço também para a Frente de Esquerda-Unidade, que se tornou a terceira força política do país.
CRISE
Fenández assumiu num período marcado pela recessão deixada por Mauricio Macri (2015-2019). Um ano depois de assumir, enfrentou a pandemia de covid-19.
Logo ao saber os resultados iniciais, o presidente e sua vice, Cristina Kirchner, analisaram a derrota, junto com outros representantes do governo, e concluíram ser necessário “impulsionar a reativação econômica”. Mas sem definições concretas, como diz o jornal La Nación.
A agência noticiosa Télam, do governo argentino, noticiou a derrota de Frente de Todos para a aliança opositora Junto por el Cambio, “que se impôs em municípios-chaves como Buenos Aires, Córdoba, Santa Fe e CABA (Cidade Autônoma de Buenos Aires, capital do país)”.
“Escutamos com respeito e muita atenção o veredito do povo. Há erros que temos cometido e que não deveríamos ter cometido. Dos erros aprendemos”, disse o presidente Alberto Fernández, ainda no domingo à noite.
FESTA NO MERCADO
A derrota do oficialismo nas primárias na maioria das províncias, com especial surpresa na província de Buenos Aires, trouxe euforia ao mercado, em Buenos Aires e no exterior, informa La Prensa.
Em Wall Street (Nova York), as ações argentinas dispararam 17%, enquanto o índice Merval subiu 10%, o dólar blue caiu três pesos e o risco país diminuiu 6%.
MISIONES E IGUAZÚ
Na província de Misiones, onde fica Puerto Iguazú, a frente governista ficou em terceiro lugar. O candidato mais votado nas primárias foi Carlos Fernández, da Frente Renovadora, segundo o portal El Territorio.
Juntos pela Mudança obteve 40% dos votos; Frente Renovador, 33%; Frente de Todos, 18%; Partido Obrero, 3,3%;e Libertad, Valores y Cambio, 3,1%.
Entre os seis candidatos mais votados em Puerto Iguazú, lidera Carlos Fernandez, do Frente Renovador; os outros cinco são da Frente Juntos por El Cambio.
O QUE ERROU
Depois da derrota, o que não falta, na imprensa do país – e dentro do próprio governo – são explicações.
As mais contundentes se referem à crise econômica, que com a pandemia aumentou o índice de miséria no país para 40% dos argentinos.
O economista Aldo Abram, presidente da Fundação Liberdade e Progresso, disse ao jornal La Nación que a economia argentina estava na UTI desde 2018.
A chegada da pandemia de covid-19 mandou a economia “à beira da morte, mas logramos nos safar e agora há uma recuperação”.
“O problema do governo é que não está fazendo nada para curar o paciente das enfermidades terminais que o mandaram à terapia intensiva, previamente ao vírus (coronavírus)”, prossegue o especialista.
Para concluir: “O mais provável é que, se a Argentina não muda o diagnóstico e adota um tratamento que consiga tratar o paciente de forma global, que são as reformas estruturais, vai para outra crise dentro do prazo de não mais de um ano”.
FRONTEIRAS
A situação política do governo argentino favorece negociações para que sejam reabertas as fronteiras, uma das soluções para melhorar a situação em algumas partes do país e reativar o turismo.
Afinal, um dos erros argentinos foi não conseguir combater a pandemia sem destruir – ou manter como estava, no chão – a economia.
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