Candidato ‘analógico’ pode levar surra na eleição para prefeito de Foz do Iguaçu

O matemático Luiz Carlos Kossar esmiúça o perfil do eleitor que irá às urnas, desafios atuais e futuros, em série especial sobre os 109 anos da cidade. Assista.

O eleitorado considerado jovem irá definir as próximas eleições em Foz do Iguaçu, projeta o matemático Luiz Carlos Kossar, com base em estudo sobre o perfil da população que irá às urnas ano que vem escolher prefeito(a) e vereadores. Ele pontua os principais problemas de hoje e o desafio dos futuros gestores.

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O analista discutiu o cenário pré-eleitoral, finanças, desempenho do turismo e economia em entrevista especial do programa Marco Zero sobre passado, presente e futuro de Foz do Iguaçu, que celebra 109 anos neste sábado, 10. O jornalista Aluízio Palmar e o professor José Afonso de Oliveira completam a série.

Assista à entrevista na íntegra:


Para Kossar, o sistema político e eleitoral distancia o cidadão do candidato, o que leva a uma frustração do eleitor, que não vê o representante como determinante na transformação da cidade. A maioria do eleitor iguaçuense – 109.445 pessoas ou 55,8% – é considerada por ele “jovem e em movimento”, entre 16 e 44 anos.

“Ele tem boa escolaridade e é solteiro, com predominância do sexo feminino”, completa. “Em sua maioria, estão em idade produtiva ativa, isto é, em movimento. É um perfil que pode escolher o inesperado”, prevê, concluindo que é um público conectado a “tribos e grupos”, por conta da internet e mídias sociais.

“O modelo que eu chamo de analógico [candidatos e grupos políticos tradicionais] pode levar uma surra nas próximas eleições, como já aconteceu em vários lugares do Brasil, devido à internet e às redes sociais que levam a novas concepções”, reflete o matemático. “De um momento para o outro, esse eleitorado pode escolher um candidato inesperado, que pode estar sendo germinado neste momento”, frisa.

“Por que esse jovem que está em movimento quer uma perspectiva de futuro”, prossegue. “Quando ele vê todos esses dados que a gente levanta e que começam a aparecer sobre a realidade da cidade, percebe que não se identifica com o sistema atual e pode arrumar alguém que o represente”, afirma Kossar.

Sem muita abertura

Podendo parecer paradoxal, Luiz Carlos Kossar não vê uma eleição para prefeito tão aberta quanto apostam muitos analistas, com base no desempenho e número de postulantes. Segundo ele, o modelo de escolha dos representantes sofrerá ainda mais mudanças provocadas pela hiperconexão, com programa de tevê e marqueteiro, por exemplo, perdendo espaço na decisão.

“Não será uma eleição aberta. Acredito que vão ser três ou quatro candidatos principais”, projeta. “Temos uma estrutura partidária que é cartorial, em que tudo é decidido em Brasília e Curitiba. Os ‘donos’ das siglas são quem decide quem será candidato ou não, geralmente em acordos em função das próprias eleições futuras”, expõe.

Peso da folha de pagamento

Em um de seus estudos que acaba de ficar pronto, Kossar demonstra que Foz do Iguaçu destinou, em uma década, R$ 2,4 bilhões a mais do que cidades de mesmo porte, como Cascavel, Ponta Grossa e Maringá. “Qual é a justificativa? Os gestores públicos devem ser cobrados por essa disparidade”, propõe.

Luiz Carlos Kossar no Marco Zero, em série especial sobre os 109 anos de Foz do Iguaçu – foto: Alexandre Palmar


O estudioso da realidade iguaçuense atribui esse quadro a “leis criadas pela burocracia”, de uma “elite de servidores”, juntamente com a Câmara de Vereadores. “Isso interfere no desenvolvimento da cidade, pois são 2,4 bi que deixam de ir para investimentos. Todas as obras estruturantes de hoje chegam a um 1,5 bi”, comparou.

Esse montante acima das outras cidades faz com que Foz do Iguaçu perca competitividade e também condição de reposição de servidores em novos concursos, por ter as receitas comprometidas, avalia. “Uma das pautas dos próximos gestores é como solucionar esse problema”, defende.

Turismo

Na entrevista durante o Marco Zero, Luiz Carlos Kossar constatou a ausência de um plano turístico do município. Ele foi aos dados para embasar sua afirmação: Gramado (RS) tem 40 mil moradores, recebe sete milhões de visitantes por ano; Foz do Iguaçu, com 250 mil moradores, recebe dois milhões de turistas anualmente.

Falta gestão e planejamento, aponta. “São necessários gestores com visão e o envolvimento direto da sociedade. Não se vê um projeto consistente de turismo, para incluir e agregar essa massa de pessoas que está aí desprotegida, atravessando a ponte [com o Paraguai] para ganhar migalhas”, elenca.

Temos uma massa de trabalhadores na informalidade, de baixa qualidade profissional, e cem mil pessoas no cadastro social do governo, conforme dados oficiais, completa. “Não podemos ver nossos vizinhos se desenvolvendo, a 40 quilômetros e também do outro lado da ponte, enquanto Foz do Iguaçu está estagnada”, critica.

Itaipu na economia de Foz

Ao analisar a produção econômica da Itaipu Binacional além dos royalties, bem como seu impacto na cidade, Kossar enxerga uma realidade preocupante. “Qual é a contribuição da empresa em termos de massa salarial? É insignificante. São somente seus cerca de 1,8 mil funcionários”, contextualiza.

De acordo com ele, produção gera emprego e renda – e, consequentemente, massa salarial. “Quando separa Itaipu, veja como fica Foz do Iguaçu: perde feio para qualquer outra cidade. Por que massa salarial é dinheiro na mão das pessoas e em circulação, sendo o que faz a economia girar”, ressalta o matemático.

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