Inelegível para a disputa presidencial de 2026, o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019–2022) disse que, “se for presidente de novo”, permitirá a instalação de uma base militar dos Estados Unidos (EUA) na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
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Bolsonaro fez as afirmações à jornalista Mônica Bérgamo, do jornal Folha de São Paulo. De acordo com ele, o retorno de Donald Trump ao poder nos EUA facilitaria um eventual “acordo militar parrudo” com o Brasil.
Em referência à fronteira trinacional, o ex-presidente citou a suposta presença de “terroristas” e disse que facilitaria a presença militar dos Estados Unidos na região. “Eu vou permitir que seja instalada uma base militar dos EUA ali”, declarou.
Bolsonaro também afirmou à colunista da Folha: “Eu, se for presidente de novo, saio do BRICS [bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, entre outros] e da OMS [Organização Mundial da Saúde].”
Terroristas na fronteira trinacional
Em paralelo, o jornalista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, publicou que aliados de Bolsonaro “dizem, nos bastidores, ter feito chegar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a preocupação sobre a suposta presença de terroristas do Hamas e do Hezbollah na tríplice fronteira Brasil, Paraguai e Argentina”.
De acordo com Gadelha, “o alerta teria sido enviado a Trump por meio de autoridades israelenses que estiveram em Washington D.C. nesta semana”. O aviso teria ocorrido durante a visita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu à Casa Branca, na terça (4).
A comunidade árabe residente em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este refuta a suposta presença de “organizações terroristas” do Oriente Médio na região. Nas eleições de 2018 e 2022, Bolsonaro contou com o apoio de lideranças árabes locais.
Base dos Estados Unidos na fronteira
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, circulava na região o rumor de que os EUA teriam uma base no Paraguai.
Os boatos citavam a localidade de Mariscal Estigarribia, no Chaco, onde há uma pista de pouso de grande porte, construída com o apoio dos EUA. No local, contudo, funciona apenas um quartel do Exército do Paraguai, sem a presença de militares estrangeiros.
Bolsonaro e a segurança nacional
As declarações de Bolsonaro de que, se voltar à Presidência da República, permitirá a instalação de uma base militar dos EUA na região, contrariam os interesses de segurança nacional.
A presença de uma potência militar estrangeira, a poucos quilômetros de uma estrutura crítica como a hidrelétrica de Itaipu, deixaria o Brasil vulnerável.
Em caso de animosidade, por exemplo, bastaria à tropa estrangeira ocupar a subestação da Eletrobras (ex-subestação de Furnas) em Foz do Iguaçu. Com isso, impediria a transmissão da energia de Itaipu ao território brasileiro.
Prejuízos ao turismo na região
Além disso, o retorno das menções sobre a suposta presença de “terroristas” na fronteira, atribuídas a Bolsonaro e aliados, gera imagem negativa e prejudica o turismo de Foz do Iguaçu.
Atualmente, os turistas dos Estados Unidos estão entre os que mais visitam a cidade, figurando entre os cinco primeiros colocados na maioria dos atrativos.
No início dos anos 2000, em razão das frequentes publicações a respeito, a região estava na lista de destinos considerados perigosos por empresas de turismo dos EUA.