Patrimônio histórico de Foz do Iguaçu à beira da ruína por descaso público

Adquirida pela prefeitura, a casa de Laly Schinke sofre com depredação desde o ano passado e com a ação do tempo; gestão afirma que Guarda Municipal faz rondas no local.


A casa de Laly Schinke, patrimônio histórico de Foz do Iguaçu que era para abrigar um museu ou espaço de memória, alusivo ao pioneiro Harry Schinke, está ruindo pelo descaso do poder público, o que inclui falta de segurança adequada. A edificação foi adquirida pela prefeitura no ano passado, em um processo de permuta, aprovado na Câmara de Vereadores.

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Nada foi feito desde então, quando os antigos moradores entregaram o imóvel, nem em segurança efetiva e muito menos quanto à preservação do bem. No local, a reportagem apurou que a estrutura está deteriorando-se, com infiltrações de chuva no telhado danificado, e com o agravante de furtos, vandalismo e destruição do antigo sobrado.

Telhado danificado e infiltração de chuva no imóvel – foto: Marcos Labanca

Laly era filha de Harry Schinke, pioneiro que chegou a Foz do Iguaçu na década de 1920, presumidamente a pedido do médico Amilcar Barca Pellón. Atuou como farmacêutico e fotógrafo, entre outras atividades que exerceu, sendo seus os muitos dos registros icônicos de acontecimentos que marcam a história da cidade.

Depredações e furtos diários

Não foi possível acessar a parte interna da casa de Laly Schinke. Mas o H2FOZ apurou com moradores de perto da área que os danos ao imóvel aumentaram a partir de novembro de 2024. São depredações e furtos cometidos diariamente por pessoas possivelmente em dependência química.

O teto foi arrombado, assim como janelas e piso. Um buraco foi aberto no chão pelos vândalos para terem acesso à parte inferior da casa, relataram vizinhos. Espelhos das tomadas elétricas e lustre foram furtados, e pias, avariadas. Os moradores das proximidades já detiveram, por conta própria, duas pessoas depredando e furtando a residência.

Questionada sobre como realiza a segurança da casa de Laly Schinke, a prefeitura afirmou que a Guarda Municipal faz rondas diárias, diuturnamente. “Os guardas municipais também fazem policiamentos da modalidade ponto-base prolongados no local, considerado estratégico para garantir a segurança na área”, diz a nota.

Tragédia de uma morte anunciada

Em 15 de abril de 2024, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Cepac) enviou ofício para a Guarda Municipal. O documento pedia a manutenção de ronda ostensiva periódica e segurança patrimonial para garantir proteção aos imóveis em que a família Schinke morou, que estão sob proteção da lei municipal.

Estrutura danificada para a entrada de quem vandaliza e furta – foto: Marcos Labanca

“Os imóveis estão passando por uma série de ataques de vandalismo, em diversas horas do dia e da noite, por invasores que adentram as edificações para roubar seus pertences históricos e deteriorar sua estrutura”, asseverou o conselho. As danificações, reforçou o ofício, eram contra “bens físicos mas também os resquícios materiais da memória iguaçuense”.

Com o cenário atual, se precisasse ter um título o enredo que envolve a preservação do patrimônio cultural de Foz do Iguaçu, especialmente em relação aos bens culturais legados por Harry Schinke e familiares, o mais adequado – não mais original – seria: “Tragédia de uma morte anunciada.”

Patrimônio histórico

A casa de Laly Schinke foi tombada pelo conselho de patrimônio cultural, o Cepac, em outubro de 2024. A lei municipal já garante a conservação dos bens desde o início do pedido de proteção, mas para o processo ser concluído é necessário decreto assinado pelo prefeito, o que não aconteceu desde o ano passado.

A reportagem indagou à prefeitura sobre esse passo, que cabe à gestão. “O documento será encaminhado oficialmente à Fundação Cultural nos próximos dias para dar sequência aos procedimentos administrativos de homologação, inscrição no Livro Tombo e assentamento em cartório”, declarou a assessoria de comunicação.

A mesma legislação também diz:

“O Poder Público Municipal deverá promover, garantir e incentivar a preservação, conservação, tombamento, fiscalização, execução de obras, estudos ou serviços visando à proteção, à valorização e à promoção do patrimônio cultural iguaçuense.” E deverá fazê-lo em conformidade com a atuação do Cepac.

Uma história de descaso

Em que pese a ação do conselho de políticas públicas da área, que conta com a participação da sociedade civil, o patrimônio cultural – que abrange as referências históricas, artísticas e naturais, tangíveis e imateriais – está à mercê do descaso governamental. Reforça a crítica de moradores que fazem analogia ao filme “Uma cidade sem passado”.

A casa de Laly Schinke foi adquirida para ser restaurada e constituir um museu, juntamente com a parte dos bens que fica ao lado, a residência onde viveu Harry Schinke, que permanece como propriedade particular. A família morou no imóvel de Laly até quando pôde, como guardadora da casa, dos objetos e de bens que traduzem recorte relevante da história de Foz do Iguaçu.

O H2FOZ também perguntou à prefeitura sobre o processo de conservação desse patrimônio e o andamento da criação do museu ou casa da memória nos antigos endereços da família Schinke. O que foi dito pela administração de Foz do Iguaçu é:

A restauração e a implantação do Museu/Casa de Memória aguardam a finalização do processo de compra. A prefeitura conseguiu adquirir a casa de Laly Schinke, sede da antiga Panair Brasil, através lei n.º 5.40, de 19/04/2024, que autorizou o Poder Executivo Municipal a permutar áreas de propriedade do Município por imóvel de propriedade de Ademir Fernandes dos Santos, então proprietário do espaço. Já a Casa de Harry Schinke ainda possui entraves burocráticos dos familiares proprietários, o que até o momento não permitiu o seguimento do processo de compra.

Fotos de Marcos Labanca/H2FOZ:

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2 Comentários
  1. David Diz

    Tudo normal em Foz do Iguaçu.

  2. May Akemi Diz

    GUARDA MUNICIPAL FAZER RONDAS PARA PROTEÇÃO É PIADA. MAIS FÁCIL ESTAREM NO AEROPORTO, RODOVIÁRIA, VILA PORTES, PARQUE NACIONAL, ATRASANDO A VIDA DE TODOS OU TOMANDO O CAFEZINHO DE MEIA EM MEIA HORA, QUE É O QUE PRESTAM A FAZER, ESSA CAMBADA DE INÚTIL, QUE SÓ GASTAM COMBUSTÍVEL.

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