Papi, 70 carnavais de alegria em Foz do Iguaçu

Iguaçuense, Hector Saucedo foi brincante nos clubes históricos e deu vida ao Carnaval da Saudade, a folia democrática da Rua Marechal Deodoro; assista.


Poucos brincantes do carnaval de Foz do Iguaçu angariaram tanto carinho e respeito. Dividiu sua alegria nas épicas folias dos clubes da cidade, mas o maior reconhecimento é o de ter sido um dos responsáveis por dar vida – e alma – ao Carnaval da Saudade. Falamos de Hector Saucedo, o Papi.

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Iguaçuense de 1947, em agosto completará 78 anos. São sete décadas de alegria e irreverência, tendo começado a pular carnaval em um tempo em que o mundo era não só mais seguro, como também mais cândido. “Era menino, lá pelos oito anos. Entrava de ratão, por baixo do pano”, diverte-se.

Nos antigos carnavais, em Foz do Iguaçu, a festa era promovida por grêmios recreativos, como o Oeste Paraná Clube, fundado em 1928, o Gresfi e o Country, dos anos 60. Depois vieram outros. O Gresfi, de militares, ficava a meia quadra da casa de Papi, que até hoje mora na esquina das ruas Marechal Deodoro e Quintino Bocaiuva.

Papi, 70 carnavais de alegria em Foz do Iguaçu
O sorriso fácil e a irreverência fizeram de Papi o ícone do Carnaval da Saudade – foto: Marcos Labanca

Com a folia no DNA, casou-se com Carmen Sauer, que também adorava carnaval, juntando a “fome com a vontade de comer”. O casal chegou a ser escolhido por Zacarias, dos Trapalhões, como os foliões mais animados do Country. “Imagina a nossa felicidade. Naquele tempo era difícil trazer um artista para Foz do Iguaçu”, comemora.

Nos tempos idos, foi um dos primeiros a pular carnaval vestido de mulher, ao lado de um dos primos. Foi barrado, só conseguindo entrar no baile com a intervenção da “turma do deixa disso” – todos conhecidos na cidade na época.

Papi e Carmen – foto: arquivo familiar

Papi reunia os Papi’s Boy’s, uma turma que hoje seria chamada de bloco, composta por não mais de vinte foliões, presentes em todas as noites da festa da carne. Em sua memória, jovem, guardou uma fantasia de Nero, vista em um folião, até que pôde criar a sua própria e incorporar o imperador romano de sotaque castelhano.

Carnaval da Saudade

Papi organizou, por muitos anos, o encerramento festivo do Festival Internacional de Educação Física, que atraía milhares de pessoas de todos os estados e países vizinhos. O evento, realizado em frente ao seu restaurante, na Marechal Deodoro, era repleto de música, dança, diversão e muita água para lavar a alma.

Por isso, foi procurado pelo ex-presidente da Fundação Cultural, Rogério Bonato, para organizar o Carnaval da Saudade. As primeiras edições, nos anos 2000, eram formadas por um coreto na esquina e uma banda tocando marchinhas.

Carnaval da Saudade na Rua Marechal Deodoro – foto: Marcos Labanca/arquivo

“Nós mesmos decorávamos a avenida, convidávamos as pessoas”, recorda Papi. “E foi crescendo, por causa das marchinhas e porque lembrava os carnavais dos clubes antigos – era o Oeste, o Gresfi, o Country – com crianças, famílias, idosos, pessoas de todas as idades se divertindo.”

A folia mais espontânea da cidade cresceu bastante, abarcando concursos de fantasias e vários blocos. Em 2020, Papi foi homenageado com um samba-enredo do bloco Papi Urso, por ter colaborado para recuperar e fomentar o carnaval iguaçuense. Naquele ano, os brincantes saíram às ruas a cantarolar:

Chama o síndico da rua
Esse Papi tem história
Papi é Pop

Foram quase quinze anos do espontâneo Carnaval da Saudade na Marechal. “Eu dava risada, ficava feliz, abraçava todo mundo. Até que o tiraram daqui”, diz o folião, com a voz embargada. “Até hoje eu saio nas ruas e as pessoas me dizem que era o melhor carnaval. Eu me emociono. Fico feliz. Mas dá uma saudade daquele carnaval”, conclui Papi.

O fim

O Carnaval da Saudade era uma das programações da cidade, mas não deveria ser a única. A prefeitura deixou de fazer o carnaval de rua, com os brincantes migrando para a Marechal Deodoro, em uma quantidade incompatível com o espaço. Uma igreja evangélica e moradores de um prédio da rua passaram a questionar o evento.

Democrático, Carnaval da Saudade reunia foliões de todas as idades – foto: Marcos Labanca/arquivo

A administração pública não buscou outras soluções senão transferir a folia para a Avenida JK, misturando-a com a programação mais ampla, que foi retomada. Assim, 2020 marcou o fim do Carnaval da Saudade da Rua Marechal Deodoro. Papi permanece na mesma esquina, com seu sorriso largo, sua memória e suas saudades.

Hector Saucedo, o Papi

Na escola da vida, atuou em diferentes alas, de engraxate a comerciante. Papi é filho de Pedro e Eleodora, pai paraguaio e mãe argentina. O patriarca dos Saucedo tinha uma olaria atrás do Batalhão do Exército, tendo ajudado a erguer várias edificações, inclusive parte da estrutura da unidade militar.

Papi, um dos caçulas, é irmão de Blanca, Célia, Fernando, Eliza, Elma, Elza, Erna e Pedro. É pai de três: Hector Filho, Leo Gustavo e Neide Cristina. A esposa e companheira de tantos carnavais, Carmen Sauer Saucedo, faleceu em 2001, aos 67 anos.

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