Dias antes de morrer, em 19 de janeiro de 1982, a cantora anotou sua passagem por Foz do Iguaçu no livro de ouro do Hotel das Cataratas: “Espero revê-los breve!”; veja o manuscrito deixado pela artista.
A voz potente de Elis Regina se silenciou há 40 anos, em 19 de janeiro de 1982. O sorriso aberto, a vida intensa, a personalidade altiva e a posição politizada sobre assuntos e dramas do mundo de seu tempo couberam em curtos 36 anos, grande parte deles vividos no palco, que dominou como ninguém, lançando-se à vida artística ainda na adolescência.
À frente de seu tempo, Elis defendeu as liberdades e os direitos das mulheres e dos músicos. Sua voz consagrou verdadeiras obras-primas, como “Águas de março”, ao lado do maestro Tom Jobim, “Como nossos pais”, “Arrastão”, “Madalena” e “O bêbado e o equilibrista”, tornada hino para os brasileiros que ansiavam retornar a um país golpeado.
A passagem fulminante de Elis Regina pelo mundo inclui Foz do Iguaçu. Em 27 de dezembro de 1981, três semanas antes de falecer, a cantora considerada uma das maiores intérpretes da música brasileira deixou um agradecimento escrito à mão, no livro de ouro do Hotel das Cataratas, que fica dentro Parque Nacional do Iguaçu, onde se hospedou.
A artista passou o Natal no hotel. Educada e gentil, agradeceu no recado a hospitalidade. “Muitíssimo grata por sua atenção, gentileza e carinho. Espero revê-los breve! E sempre que disponha de dias de descanso, creiam, voltarei ao convívio de vocês. Nosso Natal foi muito. Abraços, Elis Regina”, escreveu.
O conteúdo integra o acervo de quatro livros que registram a passagem de hóspedes que são personalidades públicas. Esse material inclui fotos de diversos ícones, como quando Lady Di, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o ator Anthony Hopkins estivarem no estabelecimento, cada qual a seu tempo.
Essas preciosidades históricas integram a exposição alusiva aos então 47 anos do Hotel Cataratas, em 2005. São 36 painéis garimpados a partir de pesquisas feitas nos cinco volumes existentes na época, além de jornais antigos e relatos de pioneiros.
Agora, como sempre, uma estrela
Nascida em março de 1945, em Porto Alegre (RS), Elis Regina revolucionou a música e os palcos. Da inspiração dos cantores de rádio ao sucesso nos festivais de música televisionados da segunda metade dos anos 1960, embalou multidões com o seu cantar que sobrava, era extenso, ao ponto de ser considerado, não raramente, com o de divas da música mundial.
A jornalista gaúcha Patrícia Duarte registrou a dimensão de Elis Regina. “Ela pertence ao mundo, pertence a nós. Por muito tempo, precisamos e temos a obrigação de reverenciar a sua memória e seu legado, porque Elis Regina não só se traduziu como uma grande intérprete, mas também foi uma desbravadora da MPB”, afirmou ao programa Viva Maria, da EBC.
“Ela lutou por direitos autorais e por direitos iguais para músicos e compositores”, explicou a jornalista. De acordo com Patrícia Duarte, a artista se engajou na causa da emancipação das mulheres, da redemocratização e da anistia política, pontuou, ao ser entrevistada no programa que marcou os 70 anos do nascimento de Elis Regina e foi ao ar em 2015.
Um monólogo levado aos palcos durante seu último espetáculo acabou por ser uma espécie de despedida: “… e aí estou pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo. Um rascunho. Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra. Como uma estrela. Agora eu sou uma estrela”. E seguiu, como sempre, uma estrela.
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