A construção da Itaipu Binacional teve impacto social e ambiental profundo na Região Oeste, proporcional à magnitude da obra. É o caso das Sete Quedas, em Guaíra, que foram submersas, desapareceram, para a criação do lago da usina.
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A pauta figurou em várias reportagens do jornal Nosso Tempo. Em uma delas, o periódico editado em Foz do Iguaçu mostrou o acampamento de protesto e adeus às belezas naturais, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, vindas de várias cidades e até de outros países, durante três dias.
A imersão junto à natureza foi em julho de 1982; três meses depois, em outubro, na manhã do dia 13, foi a submersão. Não fosse isso, hoje a região teria três belas quedas de água com enorme potencial turístico: Sete Quedas, Cataratas do Iguaçu e Saltos Monday – em Presidente Franco, no Paraguai.
O Nosso Tempo reportou que foram três dias de artes, de música a teatro, missa ecológica, palestras, debates e até uma procissão ao último salto. Uma passeata estava programada para as ruas de Guaíra, o que foi impedido pelo Exército naqueles anos derradeiros da ditadura militar.
A reportagem ouviu vários participantes do protesto em forma de despedida. “Jamais a natureza conseguirá formar outra beleza igual a esta, e os homens destroem em pouco tempo em nome do progresso que eles tanto falam”, criticou o guairense Luiz Alberto dos Santos.
“Olha, moço: o que eu tenho a dizer é que as Sete Quedas são obras de Deus”, disse Marco Aurélio de Moraes, morador de Niterói (RJ). “O que vai destruí-las é obra do demônio”, esbravejou o carioca, que participou do acampamento pelas Sete Quedas.
A tristeza tomava conta das pessoas. “A festa está bonita, mas eu não consigo ficar alegre. Dói no coração da gente ver eles destruírem essa maravilha que a natureza levou milênios para construir. Os que idealizaram isto certamente têm coração de pedra”, avaliou o estudante Luiz Rogério, de Curitiba (PR).
“Cachoeiras, arco-íris e cataratas”
A eliminação das quedas, é sabido, rendeu um poema de Carlos Drummond de Andrade. Menos conhecida, porém não menos indignada, é a música composta por Marcão, morador de Guaíra, que o jornal Nosso Tempo reproduziu um trecho na matéria:
Venham, venham todos conhecer
A maior das maravilhas
Que vai desaparecer
Adeus Sete Quedas
Rainha da beleza universal
Este ano lamentamos na avenida
O seu último carnaval
O adeus às cachoeiras, arco-íris e cataratas
Será para nós uma eterna serenata
ÔÔÔ o que Deus criou
O homem sepultou
Nas águas da ilusão.
Sete Quedas
As Sete Quedas, formadas no Rio Paraná, formavam o maior conjunto de cachoeiras do planeta em volume de água. Eram 19 saltos, com até 40 metros de altura, em sete grupos. A força do rio fazia jorrar vazão média entre sete e nove vezes maior as águas das Cataratas do Iguaçu.
As cachoeiras faziam parte do Parque Nacional das Sete Quedas, em área de 144.000 ha. A unidade foi criada em 30 de maio de 1961, pelo presidente João Goulart, e foi extinto em 4 de julho de 1981, com o Decreto n.º 88.071, no então governo de João Figueiredo.
Acesse a edição do Nosso Tempo com a reportagem
História a um clique
O portal Nosso Tempo Digital reúne todo o acervo do jornal, projeto lançado para marcar o aniversário de 30 anos do periódico rebelde. O objetivo é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional, e democratizar a consulta ao acervo midiático por meio da internet.
O acesso é gratuito. O acervo constitui fonte valiosa para o morador desejoso de vasculhar a história da cidade e de seus atores, contada nas 387 edições do jornal que foram digitalizadas, abrangendo de dezembro de 1980 a dezembro de 1989.
Isso foi o maior crime contra a natureza realizado na história do Brasil. O pior é que existiam diversas alternativas para contrução de hidrelétricas, onde as Sete Quedas seriam preservadas – só que a megalomania do governo militar não aceitou essas opções.
Obrigada pela matéria. Ainda espero que um dia seja feito um documentário (dossiê) digno, em memória das Sete Quedas, como forma de reparação histórica por esse crime hediondo, ambiental, social e econômico sem precedentes na história. Uma obra cujos estudos de impacto nunca foram divulgados, repleta de obscuridades promovida pela Ditadura Militar.
Foi muito triste e escandalosa a criação desta gigante chamada ITAIPÚ, …sem dúvidas…?, más a obra nos colocou ESTRATÉGICAMENTE na SUPREMACIA MILITAR na AMÉRICA DO SUL. aliada ainda à maior produção energética mundial até hoje, impulsionando o desenvolvimento do país ???