Após 15 anos no exílio, primeiros dias do retorno foram na Terra das Cataratas: “Monumento natural à grandeza e à generosidade”.
Ao pisar em território brasileiro depois do exílio de 15 anos, forçado pelo golpe militar de 1964, Leonel Brizola, referência do “trabalhismo”, afirmou ter o “coração cheio de saudades, mas limpo de ódios”. Seu retorno foi por Foz do Iguaçu, em 6 de setembro de 1979, recebido por lideranças da cidade e simpatizantes.
Neste sábado, 22, completam-se 100 anos do seu nascimento. Brizola governou o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, foi deputado federal e prefeito de Porto Alegre. Para surpresa de boa parte dos analistas da época, não conseguiu chegar ao segundo turno da eleição para presidente em 1989, a primeira pós-ditadura, que levou à disputa Collor e Lula.
Vídeo histórico mostra a chegada do avião com Leonel Brizola:
Em Foz do Iguaçu, na sua volta, Brizola foi recebido na pista do aeroporto, onde desembarcou de um bimotor vindo de Assunção, no Paraguai. A centenas de lideranças locais e vindas de outras cidades, gente do povo cativada pela trajetória e o carisma do político nacionalista, somou-se quem aderiu à resistência contra o regime civil-militar que durou de 1964 a 1985.
“Foram recebê-lo na pista os combatentes da luta armada contra a ditadura militar Ubiratan de Souza [Gregório], Aluízio Palmar [André] e José Angeli [Mires]. Todos oriundos da Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR”, relembrou o escritor e jornalista Aluízio Palmar. Ele dirigiu em Foz do Iguaçu o Nosso Tempo, jornal de oposição à ditatura.
Em solo iguaçuense, nas suas primeiras entrevistas à imprensa, Leonel Brizola exultou a importância de Foz do Iguaçu e do Panará para o país. Essas palavras elogiosas também foram registradas no livro de ouro do Hotel das Cataratas, onde esteve antes de viajar para São Borja (RS), cidade em que visitou os túmulos de Getúlio Vargas e João Goulart, o Jango, seu cunhado.
“Após quinze anos de exílio, tenho a satisfação de passar meus primeiros dias no território nacional neste verdadeiro monumento natural à grandeza e à generosidade de nosso povo”, escreveu. E assinou: “Hotel das Cataratas. 7 de setembro de 1979. Leonel Brizola”. Os 18 anos do retorno ao país foram celebrados por ele em Foz do Iguaçu, durante ato político na cidade.
Legalidade
Em 1964, assim que houve o golpe que depôs o então presidente João Goulart, o caudilho enfrentava o regime fardado defendendo a reação popular. Com outros resistentes e parte do 3º Exército, acionou a “Rádio Nacional da Legalidade”, conclamando a defesa da democracia e insistindo para que Jango não aceitasse a deposição.
Seu objetivo era relançar o “movimento pela legalidade”, que anos antes, em 1961, contribuíra para defender a posse de João Goulart na Presidência da República, conforme preconizava a Constituição. Na ocasião, parte das Forças Armadas não aceitava que Jango assumisse o cargo, após a renúncia de Jânio Quadros.
De volta, sem o PTB
O exílio de Leonel Brizola durou mais de cinco mil dias e teve início no Uruguai, estendendo-se pelos Estados Unidos e Europa. Ao retornar, enfrentou e perdeu a disputa pelo PTB, partido fortemente vinculado à imagem de Getúlio Vargas e João Goulart. O controle da legenda coube à deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, de alinhamento mais à direita, com uma questionada decisão da Justiça.
Com isso, Brizola fundou e organizou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Além da defesa nacional, do povo brasileiro e do trabalhismo, ele tem sua trajetória fortemente marcada pela valorização da educação pública, com destaque para o ensino integral. Esse objetivo para o país, o engenheiro civil por formação dividia com o aliado Darcy Ribeiro, antropólogo e um dos grandes intelectuais brasileiros. Brizola morreu em 21 de junho de 2004.
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