Usuário acessa o serviço público com autonomia e independência, mas foi questionado por estar desacompanhado; Viação Santa Clara relata que apura o caso.
Há mais de dez anos, Joaquim Arão utiliza o transporte coletivo de Foz do Iguaçu frequentemente. Com deficiência visual total, ele acessa o serviço público com autonomia e independência, no exercício do seu direito de ir e vir pela cidade.
Porém, ao voltar de um treino esportivo nessa segunda-feira, 16, Joaquim teve de enfrentar discriminação da parte de um motorista de ônibus. Isso é o que denuncia a Associação de Deficientes Visuais de Foz do Iguaçu (Adevifoz). A entidade emitiu nota repudiando a situação e cobrando providências.
Relata a Adevifoz que o caso aconteceu na linha Três Lagoas–HMCC–UPA, no Terminal de Transporte Urbano (TTU), por volta das 17h. Ao entrar desacompanhando no ônibus, como sempre faz, Joaquim Arão foi questionado pelo motorista, em meio a passageiros, o qual disse, segundo a associação: “Quem é o louco que deixa uma pessoa cega andar por aí desacompanhada?”.
Durante o trajeto, o rodoviário “disse que ‘entraria em contato com um fiscal, e que, em ônibus que ele dirigisse, o deficiente visual não entraria mais desacompanhado’”, narra a nota. Para entrar no ônibus dirigido por esse motorista, o passageiro precisaria estar acompanhado.
Joaquim, prossegue a nota, explicou-lhe ser seu direito, mas o motorista voltou a repetir que “não levaria cego desacompanhado”. Para a associação, foi um ato de discriminação e de humilhação praticado pelo motorista contra o passageiro.
A entidade reforça que a deficiência visual não é algo incapacitante para locomoção e que as pessoas cegas recebem cursos para deslocar-se com autonomia. A instituição cobra respeito à pessoa cega que utiliza ônibus em Foz do Iguaçu.
“Somos cidadãos plenamente capazes de exercer a vida civil e de tomar decisões próprias”, diz a nota de repúdio. “Gozamos dos mesmos direitos e deveres que toda a sociedade, excetuando alguns direitos extras que visam garantir nossa inclusão e nosso desenvolvimento com autonomia.”
Ao repudiar a situação, a Associação de Deficientes Visuais cobra:
- da Viação Santa Clara: investimento na capacitação e no preparo de seus motoristas e colaboradores, para que estejam mais bem preparados para atender uma pessoa com deficiência;
- do Foztrans: medidas de capacitação, preparo e fiscalização, a fim de orientar e evitar a ocorrência desse tipo de situação.
Acesse a íntegra da nota.
O que diz a empresa
Em nota à reportagem, a Viação Santa Clara afirmou estar ciente da carta pública de repúdio e que, desde o recebimento da informação, passou a apurar os fatos, “inclusive, conversando com o motorista que estava fazendo a linha 245, na segunda-feira (16)”, expôs. Segundo a empresa, ela investe em formação.
“A VISAC informa ainda que desde o início dos trabalhos em Foz do Iguaçu, no dia 13 de março, tem tido o cuidado de capacitar os 180 motoristas que atuam no transporte público do município”, reporta a assessoria da concessionária do serviço de ônibus em Foz. “A cordialidade e a empatia com o passageiro tem sido prioridade entre os temas abordados nos treinamentos”, conclui.
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