“Tiraram o primata da Selva, mas não a selva do primata” – assim inicia mais uma edição do Café Filosófico, no último sábado, na voz do professor “Caverna” com sua banda “Os Primatas”, no Zeppelin Old Bar.
A performance inicial é de impacto. Na área externa do bar, umas 300 e tantas pessoas acompanham a introdução do Café Filosófico, evento idealizado pelo Professor Caverna que propõe abrir de forma livre o debate sobre filosofia, a vida e o amor.
O público majoritário são adolescentes do ensino médio e curso pré-vestibular, foco até então principal do Café Filosófico. Além desses, vários profissionais liberais de diversas áreas, do setor público e privado, se fizeram presentes, assim como professores, médicos, advogados, pesquisadores e uma tal diversidade de expressões que tanto contemplaram como intervieram de forma ativa na conversa proposta.
Terminada a música de abertura, o professor “Caverna” inicia a fala, em tom de conversa e descontraído. Justifica o tema do café desta edição após contar aos presentes sua recente perda familiar, que o levou a revisar sua vida e o conceito que tem dela. Disso, viu a importância de abrir tal debate com seus alunos e a juventude, em um modelo de conversa de “toma lá, dá cá”, onde cada presente pode perguntar, opinar e discorrer suas ideias sobre o tema em questão.
Um ambiente “neutro” filosoficamente, se é que é possível uma filosofia “neutra”. Mas a ideia não é ser um espaço para tal neutralidade; a ideia é que o espaço seja livre de doutrinas e dogmas, e que haja liberdade de pensamento e o fluir das ideias.
Durante a discussão, os participantes foram encorajados a romper com padrões impostos pela sociedade, um ato que é tanto uma forma de afirmação da própria existência quanto uma resistência ao medo do julgamento e à autocensura. A autenticidade, embora desafiadora, é basilar para a criação de uma sociedade plural e justa, onde cada voz é valorizada e ouvida.
Nesse tempo, o professor Caverna apresenta mais dois personagens: o “Primata”, que é ele mesmo em sua forma mais essencial da infância e adolescência, e o “Tempo”, o ele, o eu, o você depois da metade da vida. Esses personagens serviram de figuras catalisadoras para o debate, cristalizando aspectos que foram destilados do aspecto da alma comum a todos nós.
A autenticidade, no entanto, enfrenta obstáculos, como o receio de não ser aceito e as complexidades das interações sociais. O desejo de pertencimento pode muitas vezes conflitar com a necessidade de ser verdadeiro consigo mesmo. O Café Filosófico se propõe a ser um espaço seguro, onde o medo é minimizado e a sinceridade é celebrada.
A liberdade de expressão deve ser defendida e promovida, criando oportunidades para que vozes diversas possam se manifestar. Cada ato de autenticidade, por menor que seja, contribui para a construção de um tecido social mais robusto, onde as narrativas individuais se entrelaçam em um panorama coletivo de experiências.
A busca pela autenticidade no Café Filosófico é um processo contínuo. O convite à reflexão e ao diálogo é um passo na luta pela liberdade e pelo reconhecimento das individualidades.
Ficou em minha mente de como faz falta debates assim e espaços desenhados dessa forma em outros locais, onde a juventude não privilegiada é privada do livre pensar, agir e destituída do senso crítico por força de um sistema que oprime e esmaga os menos favorecidos.
Assim, o grito de liberdade que ecoou no Zeppelin Old Bar transcende o pessoal e se transforma em um apelo universal por aceitação e compreensão. O Café Filosófico reafirma que a vida, em sua essência, deve ser vivida com sinceridade e paixão.
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