Paz Encina não titubeia quando o assunto é cinema e América Latina. Reconhecida internacionalmente pelos filmes que produz, a cineasta paraguaia diz que os países latino-americanos foram submetidos a colonização, ditaduras, guerras e desocupações.
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Por isso, a população sabe bem o que implica o poder, principalmente do ‘norte’. E o cinema tem importante papel neste contexto. “Ao fazer cinema, estamos gerando memória e nosso verdadeiro território é a memória”, diz.
Encina participou do Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine) realizado de 7 a 10 de novembro na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Com o tema, “Volverse Otras: Imagens, políticas, sons e fronteiras”, o evento marcou a primeira década do curso de cinema da universidade.
Para ela, estar em uma universidade federal latino-americana é muito importante como também realizar o evento em um ambiente acadêmico. “Me parece um luxo ter esse momento, sobretudo no atual contexto político mundial. Estou agradecida”, diz.
A diretora lamentou o fato de o Paraguai ainda não ter uma universidade pública de cinema, porém diz que o país passa por um momento muito bom quando se trata de produções audiovisuais. Isso se deve muito em razão do histórico recente, tratando-se do sucesso de produções como Hamaca Paraguaya (2006) de autoria dela e 7 Caixas, dirigido por Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori.
Com a aprovação de um fundo para produções locais, o Fundec, resultado de uma luta de 20 anos, o cinema paraguaio tem tudo para crescer, diz Encina. Para ela, dentro de dois anos deve haver um boom no setor.
Encina diz que é importante fazer cinema com uma linguagem própria, sem a gramática colonizadora e a alfabetização norte-americana, predominante nas produções dos países latino-americanos. “Se as pessoas vão ao cinema, esperam ver um filme de ação, rápido, de assassinato, sexo, com 4 minutos de mortes; há uma fórmula que estabelece como fazer um tipo de filme. Eu não posso fazê-lo”.
A cineasta criticou os canais de streaming. Para ela, esse tipo de plataforma gera telenovelas um pouco mais caras que não representam avanço na arte, além de levar o público a ficar sem a experiência proporcionada pelas salas de cinema.
Prestígio
Na abertura do evento, Encina falou sobre sua trajetória profissional para uma plateia formada por mais de 400 pessoas, entre professores, pesquisadores e estudantes. Graduada em direito, tempos depois a cineasta curso comunicação e pegou gosto pelos filmes ao entrar em uma produtora de televisão.
Foi com 24 anos que decidiu estudar cinema na Argentina e lá diz ter tido muita base do pensamento contemporâneo e crítico.
A última produção de Encina, o longa Eami ganhou o Tigre, principal prêmio do Festival de Cinema de Roterdã, ano passado, e foi premiada na 1ª. edição do Festival de Cinema Latino-Americano de Paris (CLaP), em Paris, este ano.
Veja o trailer
Gravado na comunidade do povo Ayoreo Totobiegosode, no Chaco paraguaio, Eami conta a história de uma menina de cinco anos que incorpora a mulher-deusa-pássaro Asoja quando sua terra é invadida e o povo é obrigado a partir.
Com uma linguagem esteticamente diferente do padrão difundido pela indústria cultural, Eami desperta atenção para os massacres dos povos indígenas e mostra conflitos com os menonitas que vivem no Chaco.
A diretora se projetou internacionalmente com o filme Hamaca Paraguaya (2006), obra que recebeu prêmios da crítica no Festival de Cannes e na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Ela também dirigiu o longa Exercícios de Memória (2017) e os curtas-metragens Supe que estabas triste (2000) e Viento Sur (2011).
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