
O governo do Paraguai analisará, nesta semana, a retomada das negociações com o Brasil sobre a nova versão do Anexo C do Tratado de Itaipu. O documento define as bases financeiras para a operação da hidrelétrica binacional.
Leia também:
Crise diplomática: Paraguai formaliza pedido de explicações por espionagem
As conversações sofreram brusca interrupção, na semana passada, após denúncia de que autoridades paraguaias teriam sofrido espionagem. O monitoramento, conforme publicação do portal UOL, teria partido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Em nota, o governo brasileiro confirmou a situação, apontando que a operação começou em junho de 2022, na gestão de Jair Bolsonaro. A suspensão, de acordo com o Itamaraty, ocorreu em março de 2023, quando da posse do diretor da Abin nomeado por Lula.
À época, o Paraguai era governado por Mario Abdo Benítez. Santiago Peña, o atual presidente, está no cargo desde agosto de 2023. Em declarações à rádio Mitre, da Argentina, na última sexta-feira (4), Peña falou pela primeira vez sobre o caso.
“É uma notícia bastante desagradável. Vemos com grande preocupação, porque não condiz com o tipo de relação que queremos propor”, afirmou.
Peña também citou que a denúncia de interferência brasileira “lastimavelmente abre velhas feridas”, em referência à Guerra do Paraguai (1865–1870).
Como resposta à denúncia de espionagem, o Paraguai convocou o embaixador brasileiro no país e formalizou pedido de explicações. As negociações sobre o Anexo C, cujo cronograma prevê conclusão ainda neste semestre, seguem paralisadas desde então.
Boa vontade do Paraguai
Em participação no programa Cara o Cruz, do Unicanal, nesse fim de semana, o ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, Javier Giménez, disse que há boa vontade do país em solucionar o impasse.
“Devemos nos sentar com as autoridades brasileiras e recompor a confiança que ficou afetada”, declarou. “Se, no dia seguinte, nós continuássemos conversando como se nada tivesse acontecido, sem pedir explicações, seria um ato de irresponsabilidade.”
“Valorizamos muito o gesto do Brasil de admitir que existiram ordens infelizes. As relações seguem vigentes, intactas. […] Esperamos que o episódio seja esclarecido para que possamos sentar à mesa e avançar também em outros pontos da agenda”, indicou.