
Erguida por mãos brasileiras e paraguaias, a Ponte Internacional da Amizade completa seis décadas nesta quinta-feira, 27. O trajeto de 552 metros sobre o Rio Paraná transformou a geopolítica de Brasil e Paraguai, mas também vincou e mudou a vida de muita gente.
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A atmosfera fronteiriça da ponte envolve trabalhadores, turistas, policiais, fiscais e estudantes. Cidadãos e cidadãs das mais distintas nacionalidades e origens.
Histórias e memórias se perpetuam no vaivém entre Brasil e Paraguai, fazendo a via de concreto muito mais que uma passagem sobre o Rio Paraná.
Na noite de inverno, uma surpresa
Foi na ponte que o estudante de medicina Edmar Júnior, 33 anos, viveu uma história que vai contar por muito tempo. Mineiro de Nova Serrana, antes de mudar-se para Ciudad del Este, ele morou na Vila Portes por um ano e meio e passava pela via todos os dias a pé.
“Levava uma hora e meia para ir e voltar da faculdade”, diz. Pelas manhãs, a ponte era fresca, pelas tardes, lembra, um mormaço intenso, mas no inverno a paisagem se embelezava com a neblina.
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Uma das travessias que cravou a memória de Edmar foi em uma noite de inverno. Vestido de roupa preta e de boné, acabou chamando atenção da polícia. “Na hora que cheguei, tomei uma enquadrada”, conta, em tom de risada.

“Na ponte, eu carrego duas vidas”
Lá na ponte todo mundo o conhece por “Baby”. O mototaxista com cara de garoto é, na verdade, Uanderson Braga, 38 anos. Ganhou o apelido porque começou a trabalhar na Vila Portes com 18 anos, logo que conseguiu comprar a primeira moto.
“Baby” informa que iniciou a vida laboral em uma loja do Paraguai aos 16 anos. Lá, ganhava ao mês cerca de R$ 500. Quando chegou à maioridade, resolveu comprar a moto pagando uma parcela de R$ 350, que mal cabia no bolso.

Decidiu fazer um bico como mototaxista, e dali não saiu mais. Nestes 20 anos de ponte, ele tem muita história para contar. Viu muito acidente, mortes nas correrias diárias com turistas e compristas. “A gente carrega duas vidas. Tem que cuidar da minha e do passageiro”.
Tudo pela pontualidade: a pé, de moto ou carro
A paraguaia Lorena Benítez, 32 anos, apresenta um sorriso no rosto. Há oito anos, ela deixa Ciudad del Este para trabalhar em Foz.
No começo da jornada, até que tinha um pouco de medo de cruzar a gigante de concreto. Mas com o tempo tudo ficou mais fácil.

Cozinheira em uma lanchonete da Vila Portes, Lorena acorda todos os dias às 5h para pegar o ônibus e chegar ao trabalho nas bandas brasileiras às 6h30.
Ela cultiva a pontualidade e, às vezes, depara-se com a confusão do trânsito. “Essa semana, quando fechou a ponte, tive que descer no meio e passar a pé para chegar no horário certo no serviço. Cheguei no serviço, e a patroa estava bem sorridente. Eu tinha medo né, era a primeira vez.”
Na ponte, fiz muitos amigos
O mototaxista Cleber de Souza Lemos tem 43 anos e muito a revelar quando o assunto é a ponte.
Ele começou a trabalhar na região da Vila Portes quando o fluxo era apenas em uma pista e não existia a aduana para entrar no Brasil. “Era magnífico trabalhar aqui”, lembra.

Cleber chegou a trabalhar por um tempo no Hotel das Cataratas, porém nada melhor que a ponte. “Aqui fiz muitos amigos.”
Uma engrenagem da economia
Conhecido por “Magrão”, o comerciante José Carlos de Almeida, 67 anos, fez de tudo um pouco na ponte. Começou vendendo água e cerveja na fila lá pelos idos de 1988. Trabalhou de camelô, mototaxista e hoje toca uma lanchonete na Vila Portes.
Para ele, sem a ponte, não existiria Paraguai e Brasil. “É uma engrenagem. A ponte é uma fonte de renda.”
