Jovem menonita é mantido refém, enquanto a família e a colônia menonita se esforçam para conseguir US$ 500 mil em víveres.
“Melhor morrer do que aceitar”, disse Alejandrino Martínezo, coordenador do grupo de 100 moradores da favela La Chacarita, de Assunção, vítimas de um incêndio que destruiu o pouco que tinham. Ele disse que a maioria da comunidade pensa assim.
Os favelados fazem parte das 20 comunidades que o autodenominado Exército do Povo Paraguaio (EPP) escolheu para receberem doações da família do jovem menonita Peter Reimer Loewen, sequestrado na segunda-feira, 6.
A família, que tem poucos recursos, está angariando doações de amigos e conhecidos para completar a quota de US$ 500 mil em donativos (cerca de R$ 2,8 milhões), que deverão ser entregues às comunidades – conforme a exigência – até segunda-feira, 13, sob risco de o rapaz, que é eletricista, ser executado.
Alejandrino disse à TV ABC que aceitar os mantimentos representará fazer parte da dor da família menonita, além de cumplicidade na extorsão que os sequestradores estão praticando.
Bernarda, uma das pessoas prejudicadas pelo incêndio na favela, disse que nem ela nem sua família vão aceitar as “doações’. “O sacrifício e as lágrimas nós não vamos aceitar, apesar de que precisamos”, afirmou, conforme também reportagem publicada no jornal ABC Color.
O menonita sequestrado mora na Colônia Rio Verde. Ele é casado, tem três filhos e mora numa casa alugada, conforme o comissário Nimio Cardozo, chefe do grupo Antissequestro da Polícia Nacional.
Na colônia, que fica a 250 km de Assunção, a comunidade menonita continua a coletar víveres para fazer a entrega, em sacos que precisam ser identificados com o aviso: “Gentileza do EPP”.
A família havia pedido um novo prazo aos sequestradores, porque não tem recursos para arrecadar os mantimentos até segunda-feira, 13, mas não houve resposta.
CUMPRIU, MAS… NADA
Beatriz Denis, filha do ex-senador Óscar Denis, sequestrado há exatos 15 meses (em 9 de setembro de 2020), também por uma facção do EPP, disse que a família cumpriu com as exigências para que ele fosse libertado, mas até hoje não teve nenhuma notícia.
Ela negou que seja verdade o que veio escrito num panfleto assinado pelo EPP, entregue aos homens que estavam com o eletricista sequestrado, liberados algum tempo depois, de que a família não cumpriu o que foi “acertado” para a liberação do ex-senador.
“Quem não cumpriu foram foram eles”, disse Beatriz. Ela contou que foi um grande esforço repartir o equivalente a US$ 2 milhões para as comunidades carentes assinaladas pelos sequestradores.
Com o jovem menonita, hoje há quatro pessoas que ainda estão sendo mantidas como reféns do EPP (ou foram mortas, não é possível saber).
Beatriz Denis desabafou: “A indústria do sequestro está instalada há 20 anos e os que dizem o contrário não vivem neste país”.
E contou o que muita gente já sabe: que os criadores de gado e os menonitas são obrigados a pagar uma “quota revolucionária” ao EPP, para não serem alvo de ataques, conforme publicou o jornal El Nacional.
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