Projeto sofreu alteração na Câmara para livrar fábricas de cigarros da nova lei, agora promulgada pelo presidente Mario Abdo Benítez.
O contrabando de cigarros é uma das principais fontes de lavagem de dinheiro no Paraguai.
“Isso é indubitável”, afirmou Emilio Fúster, coordenador executivo da Unidade Interinstitucional de Prevenção e Combate ao Contrabando, em entrevista ao ABC Color.
Em três anos, contou, foram apreendidas mais de 30 milhões de carteiras de cigarros, além de 35 caminhões e 60 embarcações usados no contrabando.
No entanto, Fúster reconheceu que as investigações do Ministério Público não avançam até chegar aos responsáveis, para que sejam punidos.
E quem mais lucra com o contrabando de cigarros paraguaios, que invadem o mercado brasileiro, argentino e de outros países? Os fabricantes, em primeiro lugar.
Depois, o crime organizado, já que o contrabando é altamente rentável e não envolve riscos como o tráfico de drogas. Aliás, os traficantes utilizam a renda obtida com os cigarros para melhorar sua infraestrutura de “comercialização”.
Entre os fabricantes, está o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes, dono da Tabacalera del Este, em Hernandarias, uma gigantesca fábrica com quase 60 mil metros quadrados de área construída.
Se o cigarro é reconhecidamente uma fonte de lavagem de dinheiro, as autoridades deveriam dar uma atenção especial a esses fabricantes, não é mesmo?
A POLÍTICA E A LEI
É aí que entram os interesses políticos. Nesta sexta-feira (20) à noite, o presidente Mario Abdo Benítez promulgou a lei que previne e reprime atos ilícitos destinados a legitimar dinheiro ou bens, noticia o jornal Última Hora.
No Senado, o projeto de lei aprovado previa que os clubes esportivos e as fábricas de cigarros estariam na mira desta lei, que prevê a atuação da Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (Seprelad).
Ao chegar à Câmara de Deputados, no entanto, a bancada cartista, com apoio dos liberais, retirou do controle da Seprelad os clubes e as “tabacaleras”.
Foi com estas exclusões que o presidente Mario Abdo Benítez promulgou a lei, num aceno amigo ao poderoso ex-presidente.
Da Câmara de Deputados, a explicação para a exclusão dos fabricantes de cigarros foi dada pelo porta-voz da Comissão de Assuntos Constitucionais.
Segundo ele, as fábricas de cigarros já têm seus movimentos de ativos sob controles bancários e financeiros, o que dispensaria o controle da Seprelad.
Mas o detalhe é que o Paraguai terá eleições municipais em 10 de outubro deste ano.
Nem os deputados cartistas e nem o presidente paraguaio se esqueceram deste “detalhe”.
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