Uma empresa paraguaia, que pertence a um casal de brasileiros, pode estar envolvida no tráfico de quase 11 toneladas de cocaína, apreendidas no porto de Antuérpia, na Bélgica, na sexta-feira da semana passada.
A droga estava escondida em uma carga de retalhos de couro que saiu num navio do porto privado Terport S.A., em Villeta, próximo a Assunção. O navio passou pelo porto de Buenos Aires em 26 de fevereiro e atracou no porto belga em 2 de abril, dia em que a polícia encontrou os 10.964 quilos de cocaína, como informa o jornal ABC Color.
No mesmo dia em que o navio saiu do porto de Buenos Aires, em 26 de fevereiro – “coincidentemente e paradoxalmente”, como analisa o ABC Color -, a polícia alemã apreendeu no porto de Hamburgo uma megacarga de cocaína proveniente do Paraguai. Escondida em contêineres com latas de tinta que embarcaram no Puerto Seguro Fluvial, de Villeta, havia 16.174 quilos de cocaína “paraguaia”.
A primeira apreensão de cocaína “paraguaia” foi no dia 26 de junho de 2020. A droga estava em contêiner de um navio procedente também de Villeta. Em 19 de outubro do ano passado, nova apreensão: 2.906 quilos de cocaína, que teve como origem o mesmo porto paraguaio.
O jornal ABC Color critica a Diretoria Nacional de Aduana, que em todos os casos de apreensão de cocaína na Europa ficou num “silêncio quase cúmplice”.
No caso da última apreensão em Antuérpia, figura como empresa exportadora a empresa paraguaia Neumáticos Guairá, ou NGSA, de importação e exportação de pneus, que funciona em Pedro Juan Caballero e pertence a um casal de brasileiros. A empresa tem filiais em Assunção, Mariano Roque Alonso e Salto del Guairá.
ESTÁ NO SITE
A cocaína estava num contêiner com peças de couro exportadas pela empresa. Em busca no Google, o H2FOZ conseguiu apurar que a exportação da Neumáticos Guairá consta no site, em inglês, da empresa internacional ImportGenius (veja o link).
Quando fala da Neumáticos Guairá, o site conta que os principais destinos de exportação da empresa são Bélgica, Holanda e Israel.
Consta, também, a exportação para a Bélgica, com saída do porto paraguaio, de uma carga de 2 mil unidades de couro “wet blue”, com peso total de 56,5 toneladas. A carga saiu do Paraguai no dia 17 de fevereiro.
Mas não foi a única exportação pela empresa de retalhos de couro. Desde outubro de 2020, aparecem cinco exportações de couro “wet blue”, num total de 16 mil unidades. O nome dos compradores não aparece.
Curiosamente, pelo ramo de atividade (pneus), a Neumáticos Guairá também fez cinco exportações de farinha de soja em saca, cada uma delas de 48 toneladas.
Tanto a Bélgica como a Holanda apreenderam toneladas de cocaína “paraguaia”. E Israel apareceu, no noticiário sobre apreensão de cocaína no próprio porto paraguaio, como destino da droga.
SEM INFORMAÇÃO
Embora o site da empresa ImportGenius, que atua com importadores e exportadores do Paraguai, informe sobre a exportação de peças de couro pela Neumáticos Guairá, a ministra da Secretaria Nacional Antidrogas, Zully Rolón, disse ao ABC Color que até o momento “não existe nenhuma comunicação oficial (confirmando) se este contêiner saiu do Paraguai ou saiu de Buenos Aires”.
E disse que seriam solicitadas informações à Bélgica sobre qual era o contêiner contaminado e suas características. O Ministério Público paraguaio, que até agora não conseguiu ir à frente na investigação sobre a participação de uma empresa de tintas na “exportação” da cocaína apreendida no porto de Hamburgo, também fará investigações.
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De acordo com o ABC Color, a ministra da Senad adiantou que, junto com a Aduana, o órgão planeja a compra de 10 escâneres, sete dos quais fixos, que serão montados e instalados nos portos, e outros três móveis, para verificar a carga contida nos contêineres.
Haverá uma licitação nacional e internacional nos próximos dias e a previsão, segundo ela, é que em oito meses o Paraguai terá os equipamentos.
PROVEDORA DE SERVIÇOS
As autoridades belgas descobriram a entrada de cocaína no porto de Antuérpia graças a um trabalho de dois anos decodificando o sistema cifrado adotado pela empresa Sky ECC, do Canadá. O resultado foi a apreensão de 27,64 toneladas de drogas, nas últimas seis semanas, e a prisão de 48 pessoas que formariam parte da organização de traficantes.
As mensagens criptografadas que a Sky desenvolveu para várias empresas de telefonia e Internet eram utilizadas por organizações criminosas envolvidas no tráfico de drogas.
A administração da Sky era suspeita de conluios. Depois de serem desbaratadas várias organizações criminosas em diversos países, no início deste ano, a parte europeia da Sky foi desmontada e a Justiça dos Estados Unidos emitiu um mandado de prisão contra o CEO da empresa, o canadense Jean-François Eap.
A empresa encerrou operações depois que a fabricante de celulares e de tablets BlackBerry, também canadense, cortou-a de seus serviços. O site da Sky foi confiscado pelo FBI. Se você tentar acessar qualquer link da empresa, em inglês ou português, encontrará apenas a mensagem de que “a página que você está procurando não existe”.
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