José Elias Castro Gomes – OPINIÃO
Imagine disputar uma partida de tênis, só que, ao contrário do seu adversário, você tem de usar uma raquete de pingue-pongue e precisa pular num pé só, jogando em cima de um piso besuntado de óleo, sendo que, se desobedecer a qualquer uma dessas regras, não apenas sairá derrotado como também punido severamente, e ainda acusado de infrator e desonesto. Imaginou? Então agora você já tem uma leve noção de o que é combater a corrupção no Brasil.
Enquanto os inimigos da corrupção estão perdendo o jogo (o que é o mais comum), não há qualquer gritaria, protesto ou lamúria por parte das autoridades que acompanham a partida, tudo segue em perfeita “normalidade”. Porém, basta o time da corrupção amargar um único tento que logo se forma uma corrente de agentes poderosos entrando em campo para interferir na disputa, caluniando e desviando a atenção da plateia para supostos abusos de autoridade. Trazendo a metáfora para nosso universo político e social, a Lava Jato se mostrou um raríssimo fenômeno, único em mais de cinco séculos de Brasil, em que a corrupção foi realmente afrontada de frente, ou melhor, de todos os lados. Os feitos foram tão impressionantes que hoje seus detratores tentam fazer parecer um delírio, uma falsa proeza, uma conquista mentirosa – é o que lhes resta. Porém, a história sempre será mais forte que os protagonistas do momento, e certamente fará justiça à mais épica e bem sucedida operação anticorrupção já realizada no Brasil, tornando-se referência mundial e tendo levado multidões às ruas para lhe dar respaldo. A propósito, com feitos tão extraordinários, a Lava Jato nem precisa esperar que os louros da história venham a reconhecê-la, pois nem toda campanha difamatória de políticos e de parte da mídia conseguiu acabar com seu crédito: segundo levantamento divulgado pelo jornal Gazeta do Povo no dia 4 de março, os eleitores acreditam que a Lava Jato fez bem ao país e ajudou a combater a corrupção
Os números da Lava Jato são tão impressionantes que falam por si. Em apenas cinco anos, mais de 600 réus foram investigados e ocorreram 285 condenações cujas penas, somadas, chegariam a mais de 3.000 anos de prisão. A Operação teve 80 fases, realizou mais de mil mandados de busca e apreensão, chegando ao seu clímax com a prisão do então ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ironicamente, quem acabou com a Operação Lava Jato não foi Lula nem os políticos que ela aprisionou, e sim o presidente que, a princípio, mais lhes deveria oferecer oposição. Quão pessimista alguém poderia ser para prever tal desfecho? O argumento utilizado na época foi de que o Brasil não tinha mais corrupção. Quão otimista ou ingênuo algum poderia ser para dar crédito a tal afirmação?
Agora, confortavelmente protegidos e do alto de seus microfones, comentaristas políticos execram os feitos da Lava Jato acusando o juiz Sérgio Moro de parcialidade e de a Operação ter sido mal executada. Primeiramente, entendamos que a justiça é parcial: ela visa o bem e nenhum juiz é uma máquina insensível, ele tomará partido e, sendo um juiz, penderá para o lado da verdade e da correção. E, em segundo lugar, como acusar de mal feita uma operação que condenou tantos bandidos do colarinho branco e de costas quentes, apoiados por um sistema implacável e orientados por advogados de cachê milionário? Se isso é algo mal feito, precisamos de mais malfeitores desse quilate em nosso país.
Para “celebrar” essa década de corrupção, as autoridades federais não param de dar canetadas para anular condenações da lava Jato. Segundo levantamento do jornal O Globo, ao menos 61 investigados e réus ficaram livres de ações, inquéritos e condenações. O próprio presidente Lula passou de condenado a símbolo máximo da luta contra a Lava Jato e ao que ela representa, conquistando não só o mais elevado cargo do executivo como também a anulação das condenações (ocorridas em três instâncias) de lavagem de dinheiro e corrupção. É o poder oficial querendo mostrar que o combate à corrupção no Brasil é uma batalha perdida. E querem usar a Lava Jato como prova cabal de que os brasileiros honestos não têm a mínima chance contra esse mecanismo cruel e impiedoso.
No dia 17 de março de 2014 nasceu a Lava Jato. Em fevereiro de 2021 a Procuradoria Geral da República, então capitaneada por Augusto Aras, decidiu acabar com as forças-tarefas da Operação, decretando definitivamente seu fim. Não há, aparentemente, uma data oficial nessa certidão de óbito, talvez porque tenha sido uma sucessão de mortes, com tantos e tão improváveis golpes que ninguém conseguiu perceber o exato momento em que o cadáver esfriou durante o linchamento. A corrupção em nosso país nunca deixou de existir e, muito provavelmente, sempre existirá. Como também sempre existirão os homens e mulheres que nunca se cansarão de lutar contra esse mal, por mais que sejam perseguidos, caluniados, agredidos e desencorajados. E são eles que hoje prestam tributo à Maior Operação de combate à corrupção da História do Brasil.
José Elias Castro Gomes, é empreendedor em Foz do Iguaçu.
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