Por Renato Martins – OPINIÃO
Foz do Iguaçu se notabilizou nessas eleições pelo apoio majoritário ao candidato derrotado da extrema-direita. Já tinha sido assim em 2018, quando o capitão alcançou uma votação ainda maior do que a que conseguiu neste pleito. Isto não deixa de ser contraditório com os próprios interesses dos que vivem, estudam e trabalham nesta cidade.
De fato, é curiosa a preferência revelada nas urnas pelo capitão. Foz do Iguaçu é uma cidade que vive em grande parte do turismo, setor que responde, ao lado do comércio e do agronegócio, por uma fatia considerável do PIB municipal. A geração de emprego e renda depende em grande parte do turismo. E turistas, de um modo geral, não aprovavam a devastação ambiental.
Se o voto fosse uma expressão puramente racional, grande parte da população iguaçuense não escolheria um governante que desmontou os órgãos públicos responsáveis pelo desenvolvimento sustentável como o IBAMA, o ICMBio e o INPE. Além de degradar o meio ambiente, o negacionismo ambiental também prejudica o turismo e, a longo prazo, afeta toda a cadeia de serviços vinculada a este setor. Por sua postura antiambientalista o governo transformou o Brasil num indesejável pária internacional, o que não é nada bom para o turismo, nem para Foz do Iguaçu.
Na mesma ordem de irracionalidade se inscreve o apoio ativo do iguaçuense às manifestações golpistas desse feriado de finados. Agindo como seres abduzidos, as classes médias foram para as portas do batalhão militar questionar o resultado legítimo das urnas. Pareciam robotizados vivendo em uma realidade paralela, alimentada pelo ódio e intolerância das redes sociais.
A interdição da rodovia 277 é outro inacreditável tiro no pé do cidadão comum. Ela confina a população, impede o escoamento da produção, prejudica os serviços de saúde e educação, pressiona a inflação e viola o sagrado direito de ir e vir. Restringe-se a liberdade a título de defender a liberdade. Vai entender! Especialistas em psicologia social consideram que este estado de desconexão cognitiva coletivo é produzido pela extrema direita mundial para implantar estados autocráticos em todo o planeta. O Brasil não seria senão um laboratório desses experimentos maléficos, tendência que Foz do Iguaçu, infelizmente, parece confirmar.
É claro que os órgãos tradicionais da mídia também têm a sua parcela de responsabilidade, seja quando se omitem diante dessas loucuras autoritárias, seja quando se prestam ao papel de retransmissores de mensagens destinadas a abduzir a população. Identificar e reconhecer estes problemas implica um processo urgente de reeducação com vistas a um convívio pacífico entre os que pensam de modo diferente.
Foz arrisca perder irremediavelmente os marcos de sua coesão social, que diga-se de passagem nunca foram muito robustos em razão os altos indicies de desigualdade presentes no município. O fato é que nos encontramos diante de um enorme desafio político, cultural e educacional. Oxalá a cidade reflita sobre o futuro que deseja deixar para seus filhos e netos: se de decadência econômica, ódio e intolerância ou o de prosperidade, inclusão social e democracia.
Renato Martins é professor da UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), lotado no ILAESP (Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política).
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