Taça meio cheia ou meio vazia?

O exato momento em que os ponteiros se unem na transição entre dois anos é motivo de dupla comemoração: festeja-se tudo de bom que se viveu nos 365 dias passados e o que ainda se viverá nos próximos 365.

José Elias Castro Gomes | OPINIÃO

O exato momento em que os ponteiros se unem na transição entre dois anos é motivo de dupla comemoração: festeja-se tudo de bom que se viveu nos 365 dias passados e o que ainda se viverá nos próximos 365. No entanto, para muitos, o Réveillon 2020/2021 parece encontrar terreno propício para celebração em apenas um dos lados dessa fronteira, afinal chegamos ao desfecho de um período que ficará marcado como o ano dos sonhos postergados, mutilados ou até mesmo aniquilados. Mas cabe a você olhar para a taça de champanhe pela metade e interpretá-la como meio cheia ou meio vazia.

Convenhamos, encontrar pontos positivos em uma tragédia global que ceifou mais de 1.8 milhão de vidas é um desafio que pode soar como cinismo ou indiferença. Parece haver um limite para se brincar de Pollyanna, mas Roberto Benigni no oscarizado “A Vida É Bela” nos mostra que é possível ressignificar até mesmo horrores como o holocausto nazista. Não se trata de relativizar ou minimizar nosso drama coletivo, mas sim de buscar os efeitos colaterais da doença, de encontrar algo de positivo, o avesso do avesso, uma flor de lótus. Talvez até um jardim repleto delas.

No ano de 2020 fomos condenados à clausura sem cometer nenhum crime, mas essa sentença nos levou a perceber a verdadeira importância de nossos colegas de “cela”: nossa família, as pessoas pelas quais nos protegemos com máscaras e álcool em gel a fim de não sermos contaminados, evitando trazer a doença para dentro de casa. Também aprendemos a olhar melhor nosso lar, a valorizá-lo. Uma das poucas áreas que não entrou em crise na pandemia foi a de móveis e eletrodomésticos (cresceu cerca de 30%!), pois passamos a aproveitar mais o sofá da sala e a notar o quanto é gostoso curti-lo com nossos filhos vendo um bom filme – um dos muitos passatempos que deixaram de ficar restritos aos finais de semana.

Se por um lado esses dois efeitos poderiam nos tornar mais egoístas, nos encastelando e protegendo apenas os que nos são caros, por outro aprendemos que precisamos cuidar uns dos outros em escala global, pois ficou claro que realmente o bater de asas de uma borboleta na China é mesmo capaz de gerar um furacão no outro lado do planeta.

Nesse sentido, curiosamente, a Campanha da Fraternidade 2020 parece ter sido profética, pois clamava por “relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum”. Talvez tenha sido o ano que, de maneira quase apocalíptica, evidenciou a necessidade de uma consciência global. Ela faz cair por terra as diferenças, as ideologias e os segregacionismos. As divisões sociais são artificiais e construídas com o único e exclusivo interesse de legitimar os poderosos em seus cercadinhos de conforto, ignorância e soberba.

Há, portanto, aspectos positivos de 2020 que precisamos levar em consideração. E se mesmo assim você tem reservas em olhar para trás, olhe para si mesmo. Sim, você é um sobrevivente. Considere o estouro da champanhe não apenas um simbolismo para comemorar uma passagem, mas uma verdadeira celebração da vitória. Que ela ocorra como se você estivesse no alto do podium, tal qual um campeão de Fórmula 1, afinal conseguiu chegar até o final de um ano considerado por muitos como o pior da história, conforme ilustra a capa de uma edição recente da Revista Time.

Espero que sua taça esteja transbordando, o ano todo. Tim, tim.

José Elias Castro Gomes é empresário em Foz do Iguaçu.
zeelias@usa.net
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