Por José Elias Castro Gomes – OPINIÃO
Muito se fala em democracia, mas muito pouco se debate sobre sua prática. Um equívoco recorrente é o de se pensar que ela se restringe às eleições de nossas lideranças públicas. Porém, de fato esse é o momento mais relevante em qualquer país democrático, pois é quando vivenciamos o ápice da participação popular. Daí o motivo de precisarmos estar tão cuidadosos para que cada pleito seja blindado contra injustiças e respeite a decisão da maioria, qualquer que ela seja. E uma das formas mais corretas de garantir isso é a eleição em dois turnos, sendo esse apenas um dos benefícios desse “tempo extra” para a decisão popular. Pois, lamentavelmente, Foz do Iguaçu não conta com segundo turno nos pleitos municipais – e, pasmem, por uma quantidade muito pequena de eleitores para chegarmos ao número mínimo exigido pelo TSE.
Foz do Iguaçu conta atualmente com 196,1 mil eleitores, estando, portanto, a apenas 3,9 mil votantes para se tornar uma cidade com segundo turno nos pleitos municipais. A situação é um tanto incômoda e gera até certa perplexidade, posto que Foz é uma cidade cujo contingente populacional é formado, em boa parte, por pessoas de diversas regiões do estado, do país e do mundo, que encontraram aqui oportunidades de crescimento e de gozar de ótima qualidade de vida. Se um percentual significativo dos radicados transferisse seu título eleitoral para nossa cidade, certamente já teríamos segundo turno na eleição passada. E não estou culpando aqui esses imigrantes e migrantes, mesmo porque eles são a força que faz de Foz do Iguaçu uma cidade de tantas oportunidades e de tanto progresso, mas não tenho como deixar de lamentar a falta de articulação de setores públicos e da sociedade civil para promover uma campanha nesse sentido. Talvez nos tenha faltado sensibilidade, talvez a polarização política tenha inviabilizado o diálogo e a formação de um plano que unisse os iguaçuenses, enfim, não vem ao caso agora analisar os motivos. Mas estou aqui propondo, sim, uma ação conjunta de toda a comunidade de Foz em torno da causa do segundo turno.
Ainda não sei ao certo onde esse meu clamor encontrará eco, mas acredito não ser mais o caso de ficar esperando por uma ação espontânea de alguma grande entidade ou do poder público, pois o tempo está correndo e não podemos colocar em risco a oportunidade de termos segundo turno no nosso próximo pleito. Faço desse texto, portanto, uma carta-manifesto em prol das eleições em segundo turno para Foz do Iguaçu, citando, a seguir, alguns benefícios dessa conquista:
1º) Lideranças eleitas por uma maioria real
Quando um prefeito sagra-se eleito com menos de 50% dos votos, fica difícil afirmar que a democracia prevaleceu. O segundo turno legitima muito mais a liderança empossada e dá à população uma sensação maior de justiça, mesmo a quem não tenha ficado satisfeito com o resultado do pleito.
2º) Percepção real do universo votante
Quanto mais pessoas vão às urnas, maior a força popular e sua representatividade. Em Foz temos, no momento, uma falsa percepção desse contingente, pois há muitos cidadãos que, mesmo possuindo residência permanente em nossa cidade, ainda não transferiram seu título de eleitor para cá. É por isso que essa campanha precisa do apoio de toda a população, já que assim poderemos fazer com que os iguaçuenses apelem a amigos e familiares radicados aqui que façam sua transferência de título. É realmente uma campanha de todos e para todos.
3º) Maior tempo e espaço para debate
As propostas dos candidatos podem ser melhor apreciadas quando ocorre um segundo turno. Elas não mais se diluem na percepção do eleitorado, algo que geralmente acontece no primeiro turno devido à quantidade maior de candidatos à vaga de prefeito. Assim, fica muito mais nítido o que cada qual pretende fazer com as verbas destinadas à educação, saúde, segurança, etc.
4º) Dimensionamento de ações mais preciso por parte do novo prefeito
Nossa maior liderança municipal, vereadores e agentes públicos passam a atuar com noção real do contingente populacional, deixando de ficar à deriva quanto ao número correto de munícipes a serem atendidos. Assim, as ações deixam de gerar frustração com a alocação insuficiente de verbas e recursos.
5º) Noção mais clara dos principais apelos da população
É no segundo turno que os candidatos buscam redirecionar seu planejamento de gestão de acordo com os clamores populares que mais ficaram nítidos no primeiro turno. Um candidato que enfatizava a saúde pública mas dava pouca ênfase à educação pode ter notado que esse segundo tema inviabilizou sua vitória em primeiro turno, fazendo com que tenha de rever tanto seu discurso quanto sua estratégia de gestão nesse campo.
Os benefícios de um segundo turno não param por aí, mas fiquemos de momento com esses cinco e deixemos a população se dar conta de outros mais, afinal reflexão é outra forma de exercitar a democracia.
A meta de 3,9 mil eleitores transferindo o título para Foz é plenamente viável, haja vista a situação de nossa vizinha Cascavel, que, em dois anos, aumentou seu contingente eleitoral em mais de 8 mil votantes, ou seja, o dobro do nosso objetivo.
Por não ser um iguaçuense de nascimento, mas sim de coração, acredito que isso me torna ainda mais legitimamente apto a dar o pontapé inicial nessa iniciativa. Amo Foz, não seria justo deixar de prestigiar essa cidade justamente no momento de escolher nossas lideranças, daí o motivo de ter transferido meu título eleitoral para cá há muito tempo. Também não seria justo guardar apenas para mim e para pessoas próximas essa percepção da importância do segundo turno, pois é uma causa de todos nós, quer tenhamos nascido aqui ou não. Para mim e para todos que moram aqui e amam essa cidade, a verdadeira certidão de nascimento é o Título de Eleitor.
José Elias Castro Gomes é empresário, ex- Secretário de Transparência e Governança da Prefeitura de Foz do Iguçau e ex-Mantenedor do Colégio Semeador.
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