Wemerson Augusto – OPINIÃO
Santos Dumont encurtou as distâncias para a humanidade e deixou grandes legados, às vezes esquecidos ou desconhecidos dos brasileiros. O gênio brasileiro atingiu o ápice em sua carreira no dia 23 de outubro de 1906, após o histórico voo, no 14-bis, às 16h45, no Parque de Bagatelle, na cidade de Paris, na França.
Esse é um fato que tornou Dumont uma estrela da engenharia aeronáutica. E ele permanece sendo uma fonte inesgotável de inspiração que transcende o mundo da aviação. A forma como lidou com as suas criações o tornou ainda mais relevante.
O espetáculo no Parque de Bagatelle que rendeu a criação do Parque Nacional do Iguaçu
Sabedor de sua influência, seguiu uma agenda pública inspiradora pelo mundo. Nessa agenda concorrida, Santos Dumont foi convidado a participar da 1.ª Conferência de Aeronáutica Pan-Americana, em Santiago, no Chile. Ao retornar por Buenos Aires, na Argentina, chegou a Foz do Iguaçu, em abril de 1916, cerca de dez anos depois de ganhar os ares de Paris.
Na cidade brasileira da Tríplice Fronteira, em 26 de abril de 1916, o “Pai da Aviação” visitou a área onde hoje é o Parque Nacional do Iguaçu, que abriga as Cataratas do Iguaçu, na fronteira com a Argentina. Quem levou o brasileiro foi Frederico Engel, dono do Hotel Brasil, o primeiro estabelecimento hoteleiro de Foz.
Todos os registros dão conta de que Santos Dumont estava leve, em paz e observador. Topou o convite para conhecer e adentrar a mata, de carroça, para ver os Saltos de Santa Maria, como eram chamadas na época as Cataratas do Iguaçu. O trajeto durou aproximadamente seis horas.
Ao concluir o passeio, o brasileiro ficou com dois sentimentos: o primeiro de alegria pelo que tinha vivenciado e pela oportunidade que aquele lugar poderia oferecer para o mundo; o segundo de tristeza ao saber que o local era uma propriedade privada, acessível apenas aos amigos do dono da “fazenda”, na época, o uruguaio Jesus Val.
Após voltar das Cataratas, ao estilo da fronteira, teve festa para agradecer a visita de Santos Dumont, com um baile no Hotel Brasil. De forma disciplinada ao modo do gênio, na manhã do dia seguinte, ele e alguns moradores da cidade partiram a cavalo, antes de o Sol raiar, para a cidade de Curitiba, com o objetivo de conversar com o governador do estado.
O aviador já havia visitado muitos parques e entendia a necessidade de as pessoas visitarem e conhecerem parques para colaborarem na conservação. Com essa pauta na cabeça, Dumont foi recebido por Afonso Camargo, que escutou atentamente os argumentos do “Pai da Aviação”.
Dias depois da reunião, o feito do ilustre brasileiro já era um sucesso. O antigo proprietário havia sido indenizado, e toda a área das Cataratas e de seu entorno passou a ser pública, com a finalidade de permitir a visitação, conforme reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 11 de maio de 1916. Com muito domínio e segurança do que representariam as Cataratas para o mundo, o aviador disse, na entrevista intitulada ‘Conversando com Santos Dumont’: “O Iguaçu, sem exagero nenhum, é uma maravilha. Maior, muito maior que o Niagara.”
Em 1939 a área foi ampliada para a criação do Parque Nacional do Iguaçu. Diante da grandeza de Santos Dumont, há uma praça e uma estátua sua no final da Trilha das Cataratas. No dia 3 de agosto de 2023, para reforçar os feitos e celebrar a vida e obra do brasileiro, o Parque Nacional do Iguaçu e a Força Aérea Brasileira proporcionaram uma apresentação histórica da Esquadrilha da Fumaça, em comemoração aos 150 anos de Dumont, para 3.643 visitantes de 42 países. Um dos atos mais belos e genuínos voltados ao “Pai da Aviação”, patrono da Aeronáutica Brasileira e “Pai do Parque Nacional do Iguaçu”.
Wemerson Augusto é gerente de comunicação no Parque Nacional do Iguaçu.
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