Por Heleno Licurgo do Amaral – OPINIÃO
Primeira coisa que é necessário fazermos é remover as falsas expectativas sobre o que é Inteligência Artificial (IA, ou AI do inglês, “Artificial Intelligence”). Atualmente, e, provavelmente, por mais muitas décadas, ou séculos, qualquer futuro distópico governado pelas máquinas, é pura fantasia de ficção científica (sci-fi). Até mesmo em uma das mais famosas obras de sci-fi na qual se discute de forma profunda as “máquinas pensantes”, que é na concepção de “Butlerian Jihad” elaborada por Frank Herbert (“Duna”), a revolução não é contra as máquinas, mas contra aqueles que as controlam. Ou seja, máquinas, por mais “inteligentes” que pareçam, não são capazes de ações de grande complexidade. Vamos entender isso…
O que temos de AI hoje é dividido em dois campos muito bem definidos ANI – “Artificial NARROW Intelligence” (em português, Inteligência Artificial Fraca) e AGI – “Artificial GENERAL Intelligence” (em português, Inteligência Artificial Forte ). Sistemas de ANI executam, com grande eficiência e rapidez, uma e somente uma atividade. Por exemplo, um dos muitos “motores” de buscas na web, um aplicativo de reconhecimento de voz, um sistema de reconhecimento e contagem de cabeças de gado etc. Todos esses exemplos executam de forma muito competente uma e somente uma função. Já os sistemas de AGI executam as múltiplas funções que os humanos são capazes ou, até mesmo, de forma mais ágil e sem erros, que é a ASI – “Artificial Superintelligence”.
O primeiro, ANI, tem um desenvolvimento atual muito grande e seus produtos estão incluídos no nosso dia-a-dia de forma quase imperceptível, por exemplo, os sistemas que automaticamente (inteligentemente) decidem se um e-mail é spam ou não. Porém, o segundo, AGI (e ASI), praticamente não tem nenhum progresso e ainda não possuímos nada como um teórico e-NovoGuimarãesRosa, escrevendo novas e originais peças de Literatura com palavras inéditas, atribuindo novos significados a essas e capaz de representar e compartilhar algo que só existe em sua mente, mas é concretizado através da representação artística.
Se existe uma Inteligência Artificial, assim como na Inteligência Natural, é necessário um aprendizado para realizar uma ou mais funções quaisquer. Na AI, esse aprendizado é chamado de “Machine Learning”, ML, ou, em português, “Aprendizado de Máquina”. O tipo mais comum de ML atual é o “Supervised Learning”, SL, ou, em português, “Aprendizagem Supervisionada”. Ele, ML, é a principal ferramenta em AI e responsável pelos maiores desenvolvimentos na ANI, por exemplo, os sistemas que, baseados nas ações de Marketing e e-Marketing da sua empresa, são capazes de estimar quantos clientes irão passar a (ou deixar de) seguir o perfil da empresa em uma rede social.
O “Supervised Learning”, SL, é construído para que um sistema seja capaz de executar uma função que possui uma entrada (“input”) e retorna uma saída (“output”). Por exemplo, um sistema de reconhecimento de voz para liberar acesso a um determinado local, recebe um “input” que é a voz e, depois de analisar o recebido, retorna à autorização de entrada, ou negação dessa – lembre-se que a negação de algo é apenas o inverso desse, não algo novo. SL é uma metodologia que permite que um grupo de dados seja usado para “ensinar” ao sistema como produzir o resultado esperado, e um outro grupo de dados que é usado para verificar se esse aprendizado está correto ou não. Usando ainda o exemplo do reconhecimento de voz, o sistema é alimentado por um conjunto de arquivos de áudio com vozes humanas e recebe a instrução para verificar igualdades entre eles. Depois, ele recebe um outro conjunto de arquivos de áudio para testar se esse aprendizado está certo. Quando colocado em prática, o sistema irá receber o comando de voz, comparar com seu banco de dados de vozes, buscar se aquela voz está no banco de dados, e decidir, baseado na comparação, se permite ou nega o acesso.
Em ANI não tem nada cinza, é tudo binário, zero ou um, preto ou branco, sim ou não, por isso, “Narrow” ou “Limitado”.
Nas nossas próximas conversas vamos falar sobre Dados e o que uma Inteligência Artificial pode ou não fazer.
Até mais!
* Heleno Licurgo do Amaral é professor em Foz do Iguaçu.
Acompanhe o trabalho dele pelo site https://heleno.net.br/
[1] Escolhi não fazer o uso do termo “Fraca” ou “Forte” pelas deficiências de generalização e explicação desses, mesmo eles sendo muito comuns atualmente em Língua Portuguesa.
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