O “pink money” fronteiriço na Marcha do Orgulho e Diversidade: Foz do Iguaçu conhece a economia arco-íris?

Lufe Sahn, fala sobre a nova edição da Parada do Orgulho LGBTI+ em novembro de 2023.

 Lufe Sahn – OPINIÃO

O domingo do dia 12 de novembro de 2023 marcará em Foz do Iguaçu a realização da 4a Parada do Orgulho LGBTI+ e Marcha pela Diversidade, serão mais de 40 artistas se apresentando em programação que tem início às 13h na frente da Caixa Econômica da Avenida Brasil e encerra às 22h na Praça da Paz. Com tema “Sem discriminação e pela paz”, o evento acontece em contexto de conflitos mundiais sensíveis à fronteira, turismo em recuperação da maior pandemia dos últimos 100 anos e as contradições da nossa cidade de interior com vocação mundial.

Desde a primeira Parada, em 2018, muita coisa mudou. O trajeto, que naquele ano foi feito apenas em parte na Avenida Brasil, desta vez começa em frente ao 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado, os dias de atividades que totalizavam quatro, e aconteceram em diferentes pontos da cidade, agora são dois e concentrados na região central. Além da Marcha, na noite de sábado, 11 de novembro, a Pré Festa da Parada acontece em parceria com o Tetris Hostel, às 19h30, e tem como objetivo arrecadar fundos para o evento no domingo. Já estão confirmadas as apresentações das Drag Queens Sofia Ariel e Amazonita Estelaris, DJs Fernando Santana e Flora Wonder, e cantores Kyara Diamond Lisboa, Késya Lavínia e Lulu Henrique.

O pano de fundo que antecede a primeira marcha tem a demonstração do Fórum de Turismo LGBT de que este segmento teve um aumento de 11%, em 2017, enquanto o turismo de modo geral cresceu apenas 3,5%. Agora, em 2023, Foz do Iguaçu lidera a lista de classificados na Estratégia Nacional de Destinos Turísticos Inteligentes divulgada pelo Ministério do Turismo. Qual o poder da fronteira mais movimentada da América do Sul e as fortes instituições da região- como Itaipu Binacional- para impulsionar a IGU Pride? O ramo empresarial iguaçuense conhece esse público?

Retornando a 2019, o tema da 2ª Marcha da Diversidade e Orgulho LGBTI+ da Tríplice Fronteira foi “Amor sem Censura, Não à LGBTfobia” e reuniu, segundo organizadores na época, mais de 2500 pessoas. Destacou-se a presença de turistas vindos do Paraguai, Argentina e Venezuela e nenhum recurso de dinheiro público foi recebido. Em 2021, na 3ª Marcha da Diversidade e Parada do Orgulho LGBTI+,  as novidades continuaram: mais de 50 feirantes participaram da edição extra da feirinha durante a parada e, além de turistas internacionais, passou a receber cada vez mais visitantes regionais e de todo o estado do Paraná.

Retornando a 2019, o tema da 2ª Marcha da Diversidade e Orgulho LGBTI+ da Tríplice Fronteira foi “Amor sem Censura, Não à LGBTfobia”. Foto: Ong de Malhu

Dentre muitos motivos, sobretudo a falta de tornar sistemático o evento dentro do calendário de atrações da cidade, em 2022 não foi realizada Parada LGBTI+ em Foz do Iguaçu. Nesse mesmo ano, a 26ª edição da Parada em São Paulo bateu recorde de 4 milhões de participantes, com 80% da capacidade hoteleira ocupada e estimados R$500 milhões movimentados a partir do evento na Avenida Paulista. Em 2019, antes da pandemia, haviam sido 3 milhões de pessoas e R$400 milhões injetados na economia paulistana. Em 2020, o ano do impacto pandêmico, quando Foz também não teve uma Marcha, em Belo Horizonte uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais com a Belotur revelou que girou-se em torno de R$4,3 milhões na parada municipal.

Na Parada de São Paulo de 2022 o Mercado Livre, Terra, Smirnoff, Burger King, Amstel, Vivo, Jean Paul e Gaultier foram patrocinadores e Doritos, Accor, Avon, Doritos, Philip Morris e LAIS apoiadores, todos esses nomes envolvidos tiveram de retorno de exposição midiática calculado em mais de R$ 57 milhões. Uma explicação para isso pode estar no estudo do Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX) que demonstrou que somente em 2020 mais de R$450 milhões foram movimentados em consumo pela população LGBTI+, e tudo isso baixo o crivo da preferência por empresas que tenham diálogo com suas causas em busca de humanidade plena.Definitivamente um fim de semana como esse é capaz de colaborar com a reputação de marcas que se associam ao evento.

Para a realidade iguaçuense e o desenvolvimento econômico estratégico os bons exemplos nos mostram um caminho e os dados também: o público LGBTI+ também tem gastado mais. O estudo “Rainbow Homes”, da Nielsen, usou dados de 2022 para mostrar que a população LGBTI+ movimenta R$10,9 bilhões anualmente somente no comércio eletrônico e no geral gastam em média 14% a mais que os demais. Entre as chamadas “famílias arco-íris” são 29,2% aquelas de indivíduos com alta renda e 13,6% tendo alguém com ensino superior e/ou pós-graduação. Em comparação aos demais lares, são 27% e 9,8% repectivamente.

Uma pesquisa Perfil e Satisfação de Público Parada LGBT+ 2022, realizada pelo Observatório do Turismo da cidade de São Paulo, ainda demonstrou que o gasto médio do turista individualmente na cidade, foi de R$ 1.881,84 – 15,1% a mais que em 2019 (R$ 1.634,20). A pesquisa ouviu 1.223 pessoas e identificou que turistas de outros estados equivalem a 13,6% do público, 0,7% de turistas estrangeiros e 58,9% dos presentes eram moradores da capital paulista. E aqui um ponto central na discussão que este texto provoca: essa parte que é mais da metade de público do município aponta para que moradores e o direito a lazer e a experiências que confraternizações como essa proporcionam.

Para 2023 só em artistas LGBTI+ na programação aqui da Tríplice Fronteira já estão confirmadas pessoas de Ourinhos (SP), São Paulo (SP), Cascavel (PR), Curitiba (PR), Toledo (PR),  Ciudad Del ESte (PY) e, como não poderia ser diferente, uma grande presença de artista de Foz do Iguaçu. São cantores, profissionais de dança e teatro, Drag Queens, DJs, rappers e influencers que estarão no palco do mesmo espaço que recebeu recentemente manifestações de apoio à causa Palestina durante a invasão de Israel à Faixa de Gaza. Prega-se o amor, a autodeterminação de seus destinos e a reprovação a preconceitos discriminatórios.

As complexidades da terra onde vivemos são muitas. Que outra cidade no interior do Brasil passou pelo processo de securitização internacional de Foz do Iguaçu a partir da chamada “Guerra ao terror” dos Estados Unidos? Dentre os países do Mercosul qual região pode dar o melhor exemplo de integração entre diferentes povos, religiões e nacionalidades? Como jovem, não é difícil sonhar com o futuro deste município.

Baseado nos dados de 2020, Foz do Iguaçu entrou na década de encerramento dos objetivos da Agenda 2030 da ONU entre as 20 cidades com maior PIB do interior do Brasil, à frente desse crescimento econômico: turismo, produção de energia, serviços e logística. Estamos à frente de grandes cidades do Paraná, como Cascavel e Ponta Grossa, e penso que não poderia ser diferente. Porque o município da segunda maior estatal brasileira, Itaipu Binacional, não está rivalizando com Curitiba?

A dimensão econômica a nível nacional do poder de consumo foi checada em um estudo do fundo LGBT Capital que estimou contribuição de US$96 bilhões, cerca de R$ 460,3 bilhões, ou 4,65% do PIB brasileiro em 2022. Se usarmos essa porcentagem, de maneira grosseira, para Foz do Iguaçu é como dizer que do PIB de R$17 bi algo próximo de R$900 mil é contribuição da população LGBTI+ brasileira. Aos que se interessam pelos números, o dito pink money está aí, considere isso um chamamento.

Já temos exemplos de sucesso nesse ano quando o assunto for a injeção de desenvolvimento econômico local. Em 2023 a 27 Parada LGBTQIA+ de São Paulo estampou manchetes informando sua causa e consequência: “90% dos hotéis ocupados e R$600 milhões na economia”. No setor de comércio houve um aumento de 5,3%, mais especificamente com força nas áreas de recreação, lazer, bares e restaurantes. Na capital paranaense, Curitiba, mais de 50 mil pessoas foram esperadas para a Marcha pela Diversidade organizada pelo Grupo Dignidade, Coletivo Cássia, Aliança Nacional LGBTI e UNA LGBT PR.

Todas as comparações que trouxe neste texto tem como objetivo dimensionar o potencial da semente que plantamos em 2018 e o tamanho da árvore de diversidade, respeito e negócios que cresce aqui na fronteira. Pergunte-se “onde o movimento LGBTI+ de Foz do Iguaçu quer chegar?” e lhe dou resposta: uma Foz onde a lei é aplicada corretamente, em que saúde e educação não sejam uma lamentação, onde o lazer e entretenimento são o ápice cultural de uma sociedade feliz e bem sucedida. Do empresariado aos artistas de rua, das travestis aos heterossexuais convictos, busquemos o município exemplo para qualquer pessoa que escolhe nossa bonita fronteira como lar.

Dia 12 de novembro é dia de história, este é um convite para participação. Não deixemos a história acontecer sem nossas vozes.

Lufe Sahn, jornalista e corretor de imóveis turísticos.

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Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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