O ano letivo de 2021 está prestes a começar e em muitos locais as aulas presenciais já são sinalizadas como certas. Mesmo que estejamos em meio a uma pandemia e não tenhamos vacinas suficientes para imunizar sequer os grupos prioritários. Mesmo que muitos desses alunos convivam diretamente com pessoas dos grupos de risco, como os idosos.
Desde que a pandemia da Covid-19 tomou conta do cotidiano da vida em sociedade, muito é discutido em relação aos males psicológicos que o necessário distanciamento social causa às pessoas em geral e, como não poderia deixar de ser, às crianças em idade escolar.
Quem seguiu os critérios da Ciência reduziu drasticamente seus hábitos sociais e muitos governantes optaram por fechar as escolas, obrigando-se a uma repentina transição para os meios remotos.
Por ser uma doença desconhecida, a cada período os cientistas reveem decisões tomadas, o que de certo modo divide a população. Um exemplo, que muita gente deve lembrar era a informação de que crianças não eram acometidas por Covid, mas poderiam ser grandes disseminadores. Porém, prestes a completarmos um ano do anúncio do primeiro caso oficial no Brasil, a constatação é de que crianças podem ser até vítimas fatais, mas que não são necessariamente grandes disseminadores do vírus. Não são grandes disseminadoras, mas podem sim transmitir, mesmo sem sintoma algum.
Do mesmo modo que alguns países preferem manter as escolas abertas, como no Japão, em outros a decisão é oposta, como no caso de Portugal. Diante dos mais variados motivos apontados como a evasão escolar e déficit de aprendizado, no Brasil chama a atenção a necessidade do retorno presencial para alunos que não têm acesso à internet, refeições básicas e segurança. Jamais a defesa da reabertura de escolas em uma pandemia deveria ser motivada porque uma parcela dos alunos não consegue acessar aulas remotas, não pode comer o suficiente e não está livre das mais variadas formas de violência em suas próprias casas. Nota-se, desse modo, que a Escola é usada para ‘tapar o buraco’ que o Estado não consegue preencher a seus pagadores de impostos.
Se por um lado há quem defenda o retorno às aulas, inclusive epidemiologistas, pediatras e outros profissionais, por outro há o temor do que essa exposição significa. Por mais que se diga que ‘serão seguidos todos os protocolos de segurança’, nós bem sabemos o que isso significa. Desde o porteiro à cozinheira ou vendedor da cantina, o pessoal da faxina ou da secretaria, os professores e a direção de modo geral, o entregador ou prestador de serviço, entre inúmeros outros profissionais. Todos estarão convivendo em um mesmo ambiente sem testagem ou vacina em massa. Mesmo que haja a opção para quem desejar continuar com o ensino remoto ou com aulas intercaladas, serão pessoas e não hologramas no ambiente escolar, todos expostos ao vírus de modo mais ou menos intenso.
Poderíamos estar discutindo a reabertura de escolas com segurança, se lá atrás, no segundo semestre de 2020, o Brasil tivesse participado dos acordos mundiais para investimento e posterior rateio das vacinas que estavam despontando.
O Brasil não fez a lição de casa, que era investir em vacinas e agora quer empurrar a tarefa aos cidadãos que mais uma vez ficam divididos entre mandar os filhos para a escola e trazerem na mochila um vírus traiçoeiro ou manter as crianças em casa, em ambientes em que muitas vezes podem ser tão cruéis quanto a doença. E o que fazer? Uma atitude essencial é cobrar dos políticos em quem votou que se ‘virem nos trinta’ para conseguirem vacinação em massa. Sim! De quem é a responsabilidade em zelar pela saúde da população? De nossos governantes, pagamos impostos para isso. Cobre. Cobre a tarefa do vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente. “Ahh, mas não tem vacina para todos, é assim mesmo…”. Se virem! Professor com um salário, muitas vezes medíocre, dá conta de cuidar de suas turmas, os políticos que ‘cuidem’ de sua população.
Se quem nos governa não tivesse faltado nas aulas de Ciências, de Economia, Saúde Coletiva, Ética ou mesmo Direitos Humanos, teríamos vacina para dar e vender, com escolas reabrindo e o vírus com notas cada vez mais baixas, cada vez mais longe de passar de ano. Literalmente. Aliás, a maior parte de quem nos governa parece mesmo que nunca colocou os pés na escola.
Aida Franco de Lima – Professora universitária. Dr.ª e Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Jornalista e Especialista em Educação Patrimonial (UEPG – PR); Guia Especializada em Atrativos Turísticos Naturais (SENAC – EMBRATUR);Técnica em Vestuário (CEEP – PR); escritora (Série: Guardador de Palavras da Gabi).
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