Do lado de lá …

Jakeline Placido Marcon fala sobre a desconstrução dos arquétipos
tradicionais em filmes.

Jakeline Placido Marcon – OPINIÃO
Nos últimos anos, muitas histórias vêm desconstruindo o papel tradicional das
princesas, apresentando personagens femininas mais independentes e donas de
seus próprios destinos. No entanto, os príncipes ainda costumam ser retratados
dentro de padrões rígidos de masculinidade, muitas vezes resumidos à figura de
heróis perfeitos ou salvadores inquestionáveis.

No caso do novo filme da Branca de Neve, a Disney traz uma abordagem inovadora
ao introduzir Jonathan, um príncipe que foge do arquétipo clássico. Ele não é
herdeiro de um reino, mas sim um ladrão que defende os mais desfavorecidos,
lembrando a figura de Robin Hood. Mais do que um simples interesse amoroso da
protagonista, ele é um rebelde que luta contra a Rainha Má, apresentando-se como
um herói relutante e multifacetado. Diferente do Príncipe Encantado das versões
anteriores, Jonathan adiciona camadas à história e estabelece uma relação mais
coerente com Branca de Neve, tornando a dinâmica entre os personagens mais rica
e envolvente.

Essa releitura é interessante porque nos apresenta um príncipe que não precisa ser
o herói absoluto nem o salvador da princesa. Pelo contrário, ele também está em
uma jornada de autodescoberta, podendo ser sensível, inseguro e questionador.
Sua construção foge da obrigação de personificar uma masculinidade inabalável,
permitindo que ele expresse emoções e fragilidades sem comprometer sua força ou
relevância na trama.

Clique aqui e receba notícias no seu WhatsApp!

Essa desconstrução não ocorre apenas no cinema. A literatura infantil também tem
explorado novas representações dos papéis de gênero. Um exemplo disso é o livro
O Sapo que Não Queria Ser Príncipe, que apresenta um sapo que, ao contrário do
tradicional príncipe encantado, não tem interesse algum em ser transformado,
desafiando a expectativa de que deve seguir um papel predestinado para conquistar
a princesa. Essa história subverte o clássico conceito de transformação e revela
uma visão mais livre e autêntica dos personagens, mostrando que todos têm o
direito de ser quem realmente são, sem a pressão de se conformar aos estereótipos
sociais. Essas histórias reconhecem que não são apenas as princesas que
carregam uma persona construída em torno de aparências e expectativas; os
príncipes também enfrentam a pressão de corresponder a ideais de coragem e
heroísmo que muitas vezes ignoram sua humanidade.

Outro exemplo marcante é o filme Shrek, que também desconstrói os arquétipos
tradicionais. No início, Shrek é retratado como um ogro solitário e não convencional,
desafiando a figura do príncipe heroico e perfeito. Já a princesa Fiona, que
inicialmente parece ser a típica donzela em apuros, revela-se uma mulher forte,
decidida e com suas próprias vulnerabilidades. A história de Shrek e Fiona é um
exemplo claro de que os príncipes e princesas podem ser imperfeitos,
multifacetados e, ao invés de se encaixarem em moldes rígidos, têm o direito de
buscar seu próprio caminho, viver suas próprias histórias e ser felizes do jeito que
são, sem a necessidade de se conformar aos padrões de beleza ou heroísmo
impostos pela sociedade.

A questão central não é uma luta contra os homens, mas sim contra a imposição de
papéis rígidos que limitam a expressão da dor, do sofrimento e da fragilidade,
independentemente do gênero. Afinal, a violência e a opressão não são exclusivas
de um único sexo; elas podem ocorrer de mulheres para com homens ou entre
pessoas do mesmo gênero.

Como nos versos de Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré:
“Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão”
A canção, um hino de resistência e luta por direitos iguais, nos lembra que a
verdadeira batalha é por liberdade e justiça para todos. Ao ampliar as possibilidades
de representação nas narrativas, abrimos caminho para um mundo onde cada
indivíduo possa ser reconhecido em sua complexidade, livre de estereótipos que o
aprisionam. Afinal, como também diz a música:

“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

LEIA TAMBÉM
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.