Em 1987 havia uma propaganda que virou bordão e hoje viralizaria. Ela dizia a respeito de você fazer escolhas. Era um sujeito que pedia uma dose de vodka e escolhia uma desqualificada. E então, aparecia o seu eu do futuro e o impedia de fazer tal besteira. Recomendava Orloff para ele não se arrepender. Incrédulo, perguntava: ‘mas afinal, quem é você’? Ao que ouvia: ‘eu sou você amanhã”.
Nós estamos vivendo o efeito Orloff nessa pandemia. O nosso ‘eu do futuro’ mostrou tudo que ia ocorrer. Nos avisou para fazermos lockdown, mas um lockdown bem feito, não um de boteco de beira de estrada. Nos ensinou a fazermos distanciamento social, usarmos máscaras e álcool em gel. O ‘eu do futuro’ também orientou a fazer testagem em massa, antecipar compras de respiradores, materiais hospitalares, a apostar nos consórcios mundiais de saúde que pesquisavam vacinas, garantindo lotes mesmo que ainda não estivessem aprovadas pelas agências de saúde. O ‘eu do futuro’ falou para que fossem compradas seringas e agulhas também. O último recado do ‘eu do futuro’ foi para não comemorarmos Natal e Ano Novo de 2020 com pessoas de fora de nosso núcleo de convivência, pois ele poderia ser o último para milhares de pessoas. O ‘eu do futuro’ também avisou: ‘aguentem as pontas para não morrerem na praia. A vacina é o nosso farol. Já estamos vendo uma luz!’.
Mas não foi isso que aconteceu. Foi tudo ao contrário. Fizemos tudo errado. Não escutamos. Demos as costas para o ‘eu do futuro’. Agora já assistimos cenas de desespero de familiares e médicos, em busca de cilindros de oxigênio, para os pacientes de Manaus e congestionamentos da carros funerários. As informações preliminares dão conta de que 28 pessoas morreram por falta de ar! E as UTIs dos mais variados pontos do Brasil estão lotadas. O risco do colapso da rede hospital brasileira é real. A corrida em busca de oxigênio hospitalar é tão desesperadora que até mesmo a Venezuela, quem diria, está sendo acionada para ajudar.
Mas o ‘eu do futuro’ falou somente no balcão do bar e não nos grupos do Zap ou outras redes sociais. E então, uma parcela da sociedade não o escutou. O ‘eu do futuro’ deu o seu recado, e agora aqui estamos nós com essa ressaca interminável. Ressaca de quem fez péssimas escolhas. Que tal oxigenar os pensamentos?
Aida Franco de Lima – Professora universitária. Dr.ª e Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Jornalista e Especialista em Educação Patrimonial (UEPG – PR); Guia Especializada em Atrativos Turísticos Naturais (SENAC – EMBRATUR);Técnica em Vestuário (CEEP – PR); escritora (Série: Guardador de Palavras da Gabi).
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