Brincando com a ilusão dos jovens

Professor Alejandro fala sobre as empresas que enganam jovens com a promessa do primeiro emprego.

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Por Professor Alejandro A. R. Flores – OPINIÃO

O direito de fazer negócios é próprio de todos os empreendedores e daqueles que procuram melhorar sua condição econômica, assim como de todos os empresários que, de forma legal, tentam gerar ganhos. Mas o que acontece com a ética desses sujeitos? Até que ponto as práticas comerciais podem vulnerar os direitos dos outros?

Nesta reflexão, abordarei uma situação incômoda que aconteceu com meu filho e com alguns de seus colegas. Espero que estas linhas sirvam como um alerta para a população que pode cair nesse tipo de golpe legal, que afeta todos os pais que têm filhos em idade de se tornarem jovens aprendizes (de 15 a 18 anos). A seguir, o relato:

Durante vários meses, como pai e responsável pelos meus filhos no âmbito escolar, recebi diversas mensagens de supostas empresas de recrutamento de jovens para inseri-los no mundo laboral. A verdade é que nunca dei muita importância, mas, há alguns meses, meu filho mais velho manifestou em casa sua vontade de começar a trabalhar.

Nesse novo cenário, há algumas semanas, após múltiplas entrevistas em várias empresas sem sucesso, meu filho desistiu, e seguimos em frente. No entanto, na semana retrasada, recebi uma nova mensagem de uma dessas supostas empresas de RH, na qual uma mulher muito amável me informou que meus filhos haviam sido selecionados para comparecer a uma entrevista de trabalho no sábado às 8h.

Apesar de estranharmos, acreditando que poderia ser uma boa oportunidade, meu filho e eu decidimos comparecer, já que era requisito que o jovem fosse acompanhado de seu responsável. Chegou o sábado e, por diversas circunstâncias, acabamos não indo. Contudo, com senso de responsabilidade, meu filho sugeriu que eu entrasse em contato com a empresa para pedir desculpas e verificar a possibilidade de um novo agendamento. Por isso, usando o endereço que nos forneceram, procurei na internet informações sobre a empresa em questão.

Para minha surpresa, o endereço correspondia a uma escola de idiomas, situada na região central de Foz. A partir desse momento, comecei a me sentir desconfortável, pois parecia se tratar de um engano, com a falsa promessa de emprego para vender cursos de idiomas. Mas, como não havíamos comparecido, ignorei o fato.

Meu filho, naquele dia, tinha uma atividade com seus colegas e comentou sobre a perda da oportunidade de trabalho. Para sua surpresa, os colegas relataram que também haviam sido contatados pelo mesmo método e que, ao chegarem ao endereço, não havia emprego algum; a entrevista era, na verdade, para vender cursos de inglês.

Após refletir e considerar a frustração de meu filho, bem como ouvir que outros colegas também foram enganados, resolvi escrever estas linhas. Como professor, sinto-me profundamente decepcionado, pois alguém em algum lugar da administração da educação pública está divulgando os dados dos pais e responsáveis, já que é improvável que todos os estudantes de uma turma sejam contatados pela mesma empresa.

Além disso, considero uma aberração que algumas empresas ou seus funcionários utilizem métodos tão baixos para alcançar seus objetivos econômicos. Ao se apegarem a uma ética questionável, brincam com os sonhos de muitos jovens, especialmente daqueles provenientes de famílias de poucos ou escassos recursos, que só procuram uma oportunidade de gerar renda, às vezes até para levar um prato de comida para suas casas.

Nesta reflexão, cabe chamar a atenção da sociedade: até que ponto é válido utilizar artimanhas para obter um resultado econômico? Nesta sociedade cada vez mais desumanizada, vale tudo? Em minha opinião, esses limites deveriam ser impostos pela ética e pela moral, mas, ao que parece, além das diversas falências que enfrentamos atualmente, precisamos resgatar a moral e a ética.

Minha intenção, finalmente, é alertar os jovens e pais a ficarem atentos: nenhuma oferta de emprego pode estar condicionada à contratação de serviços. Também, alerto a sociedade, pois não podemos perder as noções mínimas que fundamentam as relações sociais, como a ética e a moral. O engano, tão em voga hoje, não pode continuar comandando nossas ações. Espero que estas linhas ajudem a todos os leitores a refletir, além de dar visibilidade aos jovens e suas famílias que foram enganados.


Alejandro A. R. Flores é professor, Licenciado em Letras, Português e espanhol.

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