
O micro-ônibus, dois carros Voyage e duas motos, repassados pelo governo federal à Prefeitura de Foz, em 2014 e 2015, para atender o projeto "Crack, é possível vencer", estão sendo usados apenas no apoio à operação da Guarda Municipal.
Desde segunda-feira (29), o micro-ônibus funciona como base móvel da Guarda Municipal para fazer a segurança da Praça da Paz, durante 24 horas, com dois guardas por turno, especialmente para evitar atos de vandalismo e danos ao patrimônio público. E, também, para "reforçar o sentimento de proteção de moradores e turistas que frequentam o espaço", segundo informou a Prefeitura.
Abandonado
Quanto ao projeto "Crack, é possível vencer", o diretor de Logística da Secretaria Municipal de Segurança Pública, Enir Salvador Nicolay, disse que "foi "abandonado pelo governo federal". E completou que "nunca houve uma efetividade nesse projeto", que envolvia não só a Secretaria de Segurança, mas também as de Saúde e Assistência Social.
Ele informou, ainda, que o próprio ônibus chegou incompleto para as ações a que era destinado, e por isso mesmo já está "obsoleto". O convênio entre a Prefeitura e o governo federal (o governo do Estado também participava), como nunca foi levado adiante, "se encerrou", disse o diretor de Logística da Secretaria Municipal de Segurança.
De fato, no Portal da Transparência do governo federal, o programa "Crack, é possível vencer" não teve nenhuma despesa executada ao longo de 2019. Em 2018, aparecem ainda R$ 23 milhões, provavelmente referentes a "resíduos a pagar de anos anteriores", já que os gastos do ano passado representam menos de 10% dos recursos investidos em 2017 (R$ 258,31 milhões) e em 2016 (R$ 264,68 milhões).
Doações
A Prefeitura de Foz recebeu dois Voyage, duas motocicletas, 30 armas de condutividade elétrica e 50 sprays de pimenta no dia 25 de julho de 2014. No dia 14 de janeiro de 2015, chegou o micro-ônibus, que contava com cinco câmeras de monitoramento.
A Prefeitura – o prefeito, na época, era Reni Pereira – informou, na ocasião, que 43 guardas municipais tinham sido treinados para fazer a abordagem dos usuários de drogas, que é baseada no convencimento. E, ainda, que um estudo feito na cidade apontava que cerca de 20% da população de Foz tinha algum envolvimento com as drogas.
Ao receber os primeiros veículos, o então prefeito Reni Pereira disse que "a drogadição é uma realidade que atinge nosso município. Além do programa 'Crack, é possível vencer', nós estamos buscando ampliar programas de prevenção, investindo no esporte em locais onde temos pessoas em situação de risco".
O projeto

"Crack, é possível vencer", foi criado em 2013, último ano de governo de Dilma Rousseff, para atender, provavelmente numa primeira etapa, 82 municípios brasileiros, incluindo Foz do iguaçu. Todas essas cidades receberam motos, carros e um micro-ônibus.
Em fevereiro deste ano, o jornal A Tribuna, de Mato Grosso, denunciava o abandono dos veículos doados pelo programa do governo federal para o município de Rondonópolis, em 2016. Eles estavam abandonados no pátio de um prédio público. Só o micro-ônibus equipado com câmeras, segundo o jornal, custou R$ 1 milhão.
O jornal contou que Rondonópolis teve várias medidas implementadas pelo programa, que funcionam, mas outras, especialmente da área de Segurança, continuvam paradas, já que a cidade não tem Guarda Municipal.
Bem, ao menos em Foz as doações estão tendo bom uso, se serve de consolo pra tanto investimento público jogado fora. Considerando apenas os anos que constam no Portal da Transparência (2015 a 2019), o governo federal investiu no programa mais de R$ 850 milhões.
E, com isso tudo, parece que ao menos esta batalha contra o crack foi perdida.
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