Na Argentina, organizações criminosas brasileiras têm expansão vertiginosa

A apreensão de cocaína na “rota da maconha”, que passa por Puerto Iguazú, e a localização de uma pista clandestina em Corrientes mostram ação de “lobos solitários” do crime organizado

Depois da operação que resultou na apreensão de armas pesadas, as autoridades argentinas descobriram, com certa perplexidade, a "expansão vertiginosa" no país dos grupos criminosos brasileiros Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), como informa o jornal La Nación.

As armas apreendidas, avaliadas em mais de US$ 200 milhões, seriam enviadas ao crime organizado de São Paulo (PCC) e Rio de Janeiro (CV), via Pedro Juan Caballero, na fronteira do Paraguai com o Mato Grosso do Sul. 

As armas eram montadas na Argentina, depois de entrar no país em peças enviadas da Flórida (Estados Unidos) pelos correios. Munições vinham de países europeus. Um dos navios apreendidos, o Pakal, de Portugal, virou o nome usado pela polícia argentina nas operações contra a quadrilha de "exportadores" do país.

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A Argentina percebeu a infiltração das organizações criminosas brasileiras não só na compra de armas, mas no ingresso de drogas em seu território. 

No último sábado, dia 29, foram detidos perto de Puerto Iguazú, cidade argentina da fronteira, dois paraguaios que transportavam numa caminhonete 85 quilos de cocaína e 26 de maconha. Foi o maior carregamento de cocaína registrado na província de Misiones.

A passagem de cocaína, numa rota utilizada para o tráfico de maconha para os principais centros urbanos argentinos, como Buenos Aires, Rosario e Córdoba, revela a ação das organizações criminosas brasileiras.

Pistas clandestinas

A cocaína chega ao Paraguai via Bolívia e Peru de avião. Há pistas de aterrissagem clandestinas controladas pelo Comando Vermelho e PCC, que também têm o controle da produção de maconha.

Agora, descobriu-se uma pista clandestina também na Argentina. Um brasileiro que lidera o Comando Vermelho comprou uma área de 12 mil hectares em Corrientes, para aterrissagem de aviões trazendo cocaína boliviana e peruana. 

Tanto o Paraguai como a Argentina estão atuando em sintonia com a agência antidrogas dos Estados Unidos (a DEA), para sistematizar e cruzar informações sobre os grupos vinculados ao tráfico de drogas na fronteira.

Por enquanto, como noticia o jornal La Nación, descobriu-se que as organizações criminosas atuam na Argentina como "lobos solitários", isto é, com "representantes", enquanto no Paraguai agem abertamente no controle da produção de maconha e na entrada de cocaína. Ambas as drogas têm como destino Brasil e Argentina.

Operações 

Na Argentina, a operação contra os traficantes de armas para o PCC e CV ganhou o nome de Pakal, nome do navio de bandeira portugues apreendido no ano passado, no Porto de Buenos Aires, com peças de armas trazidas dos Estados Unidos.

Já nos Estados Unidos, a operação que investigou o envio de armas pelo correio para a Argentina ganhou o nome de Patagonia Express. 

As autoridades americanas do Homeland Security Investigations (HSI) revelaram que milhares de fuzis de assalto e de material bélico haviam sido enviados do Sul da Flórida para a América do Sul pelos correios.

Mal etiquetado

O contrabando só foi percebido, no ano passado, porque um dos pacotes com peças de armamentos foi mal etiquetado, o que chamou a atenção do Escritório de Aduanas e de Proteção Fronteiriça dos Estados Unidos. O pacote estava numa agência postal perto do centro de Miami.

A partir dali, os agentes do HSI passaram informações à polícia argentina, o que levou a apreensões massivas de armas, em outubro de 2018, e na semana passada, na operação que resultou depois da prisão dos primeiros integrantes da quadrilha.

Globalmente, foram apreendidas 5.300 armas de fogo e seus componentes. A operação americana prendeu "dois contrabandistas de alto nível" acusados de exportações ilegais para a Argentina, o Brasil e o Paraguai. John James Peterson, de 60 años, e Brunella Zuppone, de 67, foram presos por "conspirar para violar as leis de exportação de armas do Estados Unidos". 

Os agentes do HSI destacaram a facilidade de se comprar e enviar armas pelos correios, na Flórida, e também os controles fronteiriços precários nos países receptores, Argentina, Brasil e Paraguai.

Mais investigações

A ministra Patricia Bullrich observa parte das armas apreendidas na Operação Pakal. Foto Silvana Colombo, La Nación

A descoberta da "exportação" de armas, segundo a ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, não significa que o país seja o único fornecedor para os grupos criminosos brasileiros. 

"Eles têm um arsenal que pode vir da Colômbia, da Venezuela, do Peru, do próprio Brasil. Nós não cremos que esta seja a única rota, o que acontece é que nós queremos controlar, justamente para que (a Argentina) não se converta em uma rota de tráfico".  

Ela revelou que as armas levadas a Pedro Juan Caballero não eram entregues diretamente aos grupos criminosos, mas "vendidas a outra pessoa, cuja identidade não vamos revelar porque é parte da investigação".

Quer dizer, o seriado promete mais emoções.

Fonte: La Nación, Buenos Aires

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