
João Paulo Costa | OPINIÃO
Surge uma nova vertente entre os canais de música do YouTube. São as chamadas rádios lofi hip hop radio, ou low fi-delity broadcasts (transmissão de baixa fidelidade). Na prática, esses canais têm sua atuação como a de uma rádio tocando músicas 24 horas por dia e sem a participação de um locu-tor/radialista. Simplesmente as seleções, na sua maioria no esti-lo chill out music (música para relaxar), são eletrônicas, instru-mentais, suaves e com músicas de curta duração, porém emendadas sem intervalos.
A ideia surgiu na Inglaterra, a partir de dois amigos, estu-dantes do ensino médio, fãs desse estilo musical e que abriram um canal na plataforma com ênfase nos artistas que eles apre-ciavam. No princípio, entre 2014 e 2015, ainda funcionando como um canal convencional, o crescimento, até então, era de maneira modesta com novos seguidores aderindo aos poucos. Entretanto, no ano de 2016, um dos amigos descobriu um re-curso na plataforma (YouTube) que permite a transmissão ao vivo (live) 24/7, ou seja, os youtubers, se desejarem, podem transmitir um único vídeo, ao modo de uma live, continuamente, por tempo indeterminado.
Isso fez com que o canal, que em 2015 tinha menos de 800 seguidores, passasse a ter, em 2016, mais de 98 mil, e atualmente, em 2020, mais de um milhão.
A partir do início do sucesso começaram a surgir inúmeros outros canais seguindo o mesmo princípio. Basicamente, essas “estações” lofi, além de tocarem continuamente os mesmos esti-los de música, deixam na tela um GIF (Graphics Interchange Format ou Formato de Intercâmbio de Gráficos), em português, também em repetição ininterrupta, que passa a ambiência que eles desejam transmitir com a música.
Essa imagem pode ser uma menina estudando ao lado da janela, na qual se vê uma cidade às vezes chuvosa, mas com a da luz do dia ou na escuridão da noite, acompanhando a pas-sagem real do tempo; a imagem de um guaxinim andando no final da tarde por ruas vazias e usando um grande fone de ou-vido; ou alguma cena retirada do desenho Os Simpsons (Fox).
Com o surgimento de novos canais, foram incorporando-se temas às vezes não tão suaves, ou com uma seleção de músicas voltadas ao jazz americano, o jazz bossa ou até a te-mas melancólicos.
O público que ouve e vê esses canais está à procu-ra de música para ouvir durante os estudos, o trabalho, no am-biente de casa, ou mesmo para relaxar. Alguns dos canais mais conhecidos, além do College Musica (Inglaterra), são o Chill-Cow – criado por um francês de 23 anos que mora na periferia de Paris, (mas não se identifica para preservar sua privacida-de); o Chillhop Music, idealizado por Bas, de 28 anos de idade, um holandês de Roterdã, que opera seu canal de casa; e o Ne-otic, do estudante colombiano Steven Gonzales, de 21 anos. Os chats abertos nesses canais, assim como a música, não param um só segundo das 24 horas do dia, com mensagens de se-guidores de todas as partes. No Brasil, a nova onda ainda não despontou, no entanto muitos brasileiros se-guem canais de outros países e são ativos nos chats.
Com a pandemia de covid-19, os lofi live têm sido muito mais acessados especialmente por pessoas que não podem sair ou precisam trabalhar em casa, ou os dois casos ao mes-mo tempo. De qualquer maneira, apesar de alguns problemas sobre o repasse dos direitos intelectuais das músicas tocadas nesses canais, e algumas críticas de tendências a uma certa melancolia explorada por alguns dos canais, o YouTube já per-cebeu que o movimento é grande demais para ser desprezado ou repreendido com a mesma severidade que faz com outros tipos de conteúdo.
O advento das rádios lofi do YouTube tem sido considera-do por influenciadores da área como uma resposta aos serviços pagos de streaming, como é o caso do Spotfy e da Apple Mu-sic, que têm o domínio do mercado da música paga. Os maio-res canais lofi geram lucros para os detentores – alguns deles até já vivem exclusivamente de suas monetizações vindas do YouTube –, mas ainda estão longe de ser uma ameaça ao grande mercado. De qualquer maneira, a internet mostra que há espaço para quem deseja inovar e consegue encontrar nichos em vários meios. É só procurar.
Alguns canais disponíveis:
https://www.youtube.com/watch?v=5yx6BWlEVcY
https://www.youtube.com/watch?v=5qap5aO4i9A
https://www.youtube.com/user/TheStevenGFX/videos
* João Paulo Costa é psicólogo em Foz do Iguaçu.
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