Rio Paraná está com a vazão mais baixa dos últimos 120 anos

Por falta de água, Itaipu suspendeu operação para ajudar o Paraguai a escoar a safra.

Por falta de água, Itaipu suspendeu operação para ajudar o Paraguai a escoar a safra.

A vazão média do Rio Paraná, em fevereiro deste ano, chegou a apenas 6.600 metros cúbicos por segundo (m³/s), a mais baixa dos últimos 120 anos, segundo registro da hidrelétrica argentino-paraguaia de Yacyretá, que fica 480 km abaixo da usina de Itaipu.

A baixa vazão obrigou a usina de Itaipu a suspender a operação “janela de água”, que teria início neste domingo, 6, e prosseguiria até o dia 12, permitindo ao Paraguai exportar por hidrovia 200 mil toneladas de grãos. Esse total corresponde à primeira colheita de 2022.

Com a “janela de água”, 12 comboios de barcaças carregadas, que estão esperando para atravessar a eclusa da usina de Yacyretá, poderiam navegar até os portos do Uruguai e da Argentina. Depois da eclusa, é preciso que o nível do Paraná permita a navegabilidade, o que não ocorre hoje.

ACORDO

Barcaças paraguaias esperam que o nível do rio permita chegar aos portos da Argentina e Uruguai. Foto: Yacyretá

O acordo entre o Paraguai e o Brasil era que Itaipu, durante o mês de fevereiro, armazenasse água em seu reservatório até que ele atingisse a cota de 218 metros de altura em relação ao nível do mar.

A partir de domingo, 6, Itaipu ampliaria a produção de energia, e a água turbinada (que já passou pelas unidades geradoras) aumentaria o nível do rio a jusante (abaixo) da usina, melhorando a navegabilidade em toda sua extensão.

Mas não deu para reservar mais água no Lago de Itaipu. O Rio Paraná está cada vez mais seco.

Em Guaíra, o rio está na cota de 80 metros acima do nível do mar, 58% mais baixa que a cota média, que é de 137 metros, conforme medição publicada pelo Instituto Água e Terra, na quinta-feira, 3.

Na Ponte da Amizade, a cota do rio se mantém entre 11 e 12 metros abaixo da normal, de acordo com a previsão da Divisão de Hidrologia de Itaipu para este final de semana.

VAZÃO HISTÓRICA

Já os registros da usina de Yacyretá, divulgados em matéria da Agência IP, mostram que a vazão do Rio Paraná chegou ao máximo de 8.300 m³/s, em fevereiro, e ao mínimo de 5.300 m³/s. Na média, foram 6.600 m³/s, o que não acontecia há 120 anos.

Em 1915, informa a Agência IP, a vazão chegou a 8.400 m³/s, bem acima da registrada neste ano.

Agora em março, a vazão do Rio Paraná está entre 6.000 m³/s e 7.500 m3/s, em média. Esses níveis impossibilitam a entrada e saída de grandes embarcações no trecho do cais sul de Yacyretá até o Rio Paraguai.

As margens do “Paranazão” estão cada vez mais próximas. Águas encolhem. Foto: Marcls Labanca

O Rio Paraná normalmente recebe uma boa contribuição de seu afluente, o Iguaçu. No entanto, a situação do Iguaçu também não é boa.

De acordo com o monitoramento hidrológico feito pela Copel, a vazão do Rio Iguaçu, no Hotel das Cataratas, está neste sábado em 816 metros cúbicos por segundo, pouco mais da metade do normal.

Em outra medição, mostrada pelo Instituto Ambiental do Paraná, o Iguaçu está – ainda na estação telemétrica do Hotel Cataratas – na cota 101 metros acima do nível normal, quando a cota média é de 167 metros.

E as condições de seca não devem ser alteradas ao longo do mês de março, conforme preveem os meteorologistas brasileiros, paraguaios e argentinos.

JANELAS ANTERIORES

Transporte hidroviário é fundamental para as exportações e importações do Paraguai. Foto: Yacyretá

Em 2020 e em 2021, a estiagem também levou a acordos entre o Brasil e o Paraguai para operações “janela de água”, que garantiram a navegabilidade na hidrovia do Rio Paraná e possibilitaram que o Paraguai escoasse sua produção agrícola.

Mas a situação de seca não melhorou, até agora, e este ano Itaipu não conseguiu atender ao que foi acertado entre os dois países.

Tanto para exportação como para importação, o transporte hidroviário é fundamental para a economia paraguaia.

Em 2020, últimos dados disponíveis, o transporte hidroviário atendeu 70% das exportações e 50,8% das importações do país. Os índices foram um pouco inferiores aos do ano anterior, justamente porque 2020 marcou o início da estiagem, que continua até agora.

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