Por que a meteorologia erra tanto? Pra Foz do Iguaçu, então…

É um acerto a cada dois ou três erros. E assim acaba virando “imprevisão”.

É um acerto a cada dois ou três erros. E assim acaba virando “imprevisão”.

Jornalista que posta notícia sobre previsão do tempo, no Brasil, corre o risco de passar como criador de “fake news”.

Não é pra menos. O H2FOZ tem noticiado frequentemente os alertas coloridos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para Foz do Iguaçu (amarelo e laranja, felizmente, o vermelho nunca apareceu para nós), e na prática nem o próprio Inmet “acredita”.

Nesta sexta-feira, 4, por exemplo, Foz do Iguaçu está, simultaneamente, sob dois “alertas laranja” do Inmet, que significam “perigo”. O primeiro, em vigor das 11h desta sexta-feira até 11h de sábado, 5, é para “chuvas intensas”, que podem chegar a índices entre 30 e 60 milímetros por hora ou entre 50 e 100 milímetros por dia.

O outro, que vigora da zero hora até 12h de sábado, também assusta. É um alerta laranja de tempestade, com chuva no mesmo nível daquele previsto no outro alerta, mais ventos intensos (entre 60 e 100 km por hora) e queda de granizo.

Ok, a gente se assusta, leva em consideração os dois alertas e notifica os leitores de que Foz do Iguaçu está no mapa dos temporais e das chuvas intensas.

Depois, lê atentamente o que prevê o Inmet para esta sexta-feira, 4, e os próximos dias, em Foz do Iguaçu. E constata: não é a mesma coisa.

Pra esta sexta, por exemplo, a previsão é de “muitas nuvens com pancadas de chuva e trovoadas isoladas”, desde a manhã até a noite. De manhã, de fato, choveu, sem trovoadas.

Pro sábado, a previsão exclusiva pra Foz é de tempo “nublado com pancadas de chuva e trovoadas”, de manhã, de tarde e de noite.

Pro domingo, “muitas nuvens”.

É uma incoerência: se Foz está no mapa dos temporais e das chuvas intensas, por que a previsão para a cidade é tão diferente? Coisas da meteorologia.

Pra quinta-feira, 3, o Inmet previa temporais e outros serviços meteorológicos também informavam sobre chuvas, com precisão quase de 100%. Choveu? Não, chuvas aconteceram depois da meia-noite, já nesta sexta-feira.

E foi chuva “meia boca”, que se repetiu na manhã desta sexta e, às vezes, nem foi sentida em toda a cidade.

OS ALERTAS

Este é o alerta já em vigor, para estas regiões, de acordo com o Inmet: risco de temporais.
O segundo alerta, de chuvas intensas, vale a partir da meia-noite e também inclui Foz.

OUTRAS PREVISÕES

Antes de chegar ao âmago da questão, vejamos outros serviços e suas respectivas previsões pra esta sexta e pro sábado.

Pra esta sexta, além do Inmet, o Simepar, o AccuWeather, o Climatempo e o Sistema Faep estão garantindo chuvas. Considerando que já choveu, acertaram, digamos assim.

Pro sábado, o Inmet prevê pancadas de chuva e trovoadas (nada de alertas, portanto), coincidindo com a previsão do Simepar, do Climatempo (“chuva a qualquer hora”) e do Sistema Faep (100% de chance de chover).

Já o AccuWeather sinaliza para “algumas tempestades” no sábado, sem marcar chuva. E o CPTEC/Inpe mostra 90% de chances de chover.

POR QUE TANTO ERRO?

Agora, vamos tentar entender por que se erra tanto. Primeiro, porque o Brasil é um país continental, com vários climas, inclusive dentro de um Estado, como o Paraná. Não há equipamentos suficientes pra garantir a previsão no Paraná, imagine de cidades dentro do Estado. E de regiões dentro do País.

Depois, como saiu há algum tempo em matéria no site UOL, porque os equipamentos utilizados no Brasil estão defasados, tecnologicamente, e além disso se baseiam em projeções feitas para países de outras latitudes.

Isto é, conforme o UOL, a maior parte do Brasil está em região intertropical, mas a maior parte da tecnologia desenvolvida – e aplicada aqui – foi desenvolvida em países de latitude média e, portanto, descartam “nuances típicas de países como o nosso nos algoritmos”.

É mais ou menos como os algoritmos desenvolvidos para redes sociais. Se você busca por um celular, vai receber inúmeras mensagens, a partir dali, com informações e anúncios sobre o aparelho. Mas às vezes você não quer comprar, só quer ter alguma informação sobre assunto relacionado a isso. E o algoritmo não entende, claro.

Como talvez não entenda que as nuvens que avançam sobre um território no Brasil não vão causar o mesmo que provocaram em países de clima diferente, para onde foi desenvolvida a tecnologia e, por consequência, a matemática para entender o que vai acontecer.

Então, sorry, leitores. Estamos sob alerta de tempestades e de chuvas intensas e cumprimos com a obrigação de informar. Mas nem nós acreditamos nisso.

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