Paraguai pode ser um dos países mais prejudicados pela mudança no clima

O país já enfrenta este ano temperaturas recordes, de frio e calor, além de um longo período de seca.

Muitas cidades do Paraguai amanheceram nesta sexta-feira, 20, cobertas de fumaça.

A nuvem de fumaça é resultado de dezenas de incêndios florestais, provocados principalmente pela umidade do ar muito baixa.

Há hoje 97 focos de incêndio em todo o país, informou o capitão Eduardo Mendez, do Corpo de Bombeiros Voluntários, ao jornal Última Hora.

Os maiores focos estão em San Pedro e na região de Amambay. Na área entre Luque e San Bernardino, na Grande Assunção, um incêndio que começou na quinta-feira, 19, está até agora incontrolável, por atingir uma grande extensão, com pequenos focos espalhados pela região.

E os incêndios não ocorrem apenas nas áreas menos habitadas.

Na quinta-feira, o fogo atingiu várias casas do bairro Santa Ana, na periferia de Assunção. O incêndio teria começado com a queima de lixo. Ventos fortes espalharam as chamas rapidamente.

Bombeiros voluntários atuaram no combate às chamas, com ajuda dos próprios moradores. A dificuldade foi ainda maior porque havia pouca água nas torneiras.

Pastagens e campos em chamas espalham fumaça pelas cidades paraguaias. Foto Bombeiros Voluntários, publicada no ABC Color

FALTA DE ÁGUA

A empresa de saneamento do país (Essap) já preparou um plano de contingência para atender as cidades abastecidas pelo Rio Paraguai, que está perto do nível mais baixo da história.

Na região do Chaco, a situação de abastecimento de água é crítica. Os moradores estão sendo abastecidos com caminhões-pipa.

“Entre 400 e 700 caminhões-pipa, diariamente, retiram água nas cidades de Loma Plata, Neuland e Filadelfia para abastecer as caixas d’água das residências”, contou ao jornal La Nación o presidente da Essap, Natalicio Chase.

Não chove com regularidade no Paraguai há um ano e meio. E as temperaturas batem recordes, tanto negativos quanto positivos.

“COM SORTE, EM OUTUBRO”

Esta síntese de alguns problemas vividos hoje pelo Paraguai – rios secos, falta de água, incêndios florestais – resume uma situação que tende a piorar, já que antes de 2018 a temporada de incêndios de campo – “normal” nesta época – acabava em setembro, com a volta das chuvas.

Nos últimos três anos, a seca foi se prolongando mais e, “se tivermos sorte”, deve chover em outubro, disse a presidente do Instituto Florestal Nacional, Cristina Goralewski, ao jornal ABC Color.

MUDANÇAS DO CLIMA

Além do desmatamento feito pelo homem, queimadas reduzem ainda mais a cobertura florestal. Foto de Bombeiros Voluntários, publicada no Última Hora

O diretor de Mudança Climática e Políticas da ONG World Wide Fund for Nature, Óscar Rodas, advertiu que o Paraguai se encontra muito vulnerável e com risco elevado ante o impacto das mudanças no clima mundial, conforme entrevista ao jornal Última Hora.

Nos últimos anos, o desmatamento aumentou no país, enquanto as chuvas perderam ritmo e as temperaturas se alteraram, com repentinas altas e baixas.

Neste inverno, algumas regiões paraguaias tiveram a menor temperatura da história – 2 graus negativos.

No último dia 19, Assunção sufocou com 40 graus, temperatura que só havia sido registrada anteriormente há 54 anos.

“Todos os fenômenos que percebemos já são consequências da mudança climática e coincidem exatamente com o cenário descrito no sexto informe do painel de registro das Nações Unidas”, disse Óscar Rodas.

O estudo apontou que, para a região da América do Sul, as secas e as ondas de calor vão se intensificar.

É um fenômeno que o Brasil está vivendo. O Estado do Paraná, em particular, enfrenta uma seca histórica. O Rio Paraná, por exemplo, está com uma redução no nível que não era vista há mais de 70 anos.

PERDA DO PIB

Óscar Rodas destaca que, no Paraguai, “a seca extrema, tanto a nível hidrológico como agronômico, já gera perdas à nossa economia”. E deve até provocar uma queda de 3% do PIB paraguaio, conforme estudos da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), lembrou o ambientalista.

Esta queda no PIB pode ser ainda maior, segundo Roda, pela velocidade que a mudança climática vem atingindo.

Ele exemplificou com a temperatura: “Estamos com 4 graus acima da média que deveria ser registrada numa semana típica de agosto”.

METEOROLOGIA

Amanhecer desta sexta-feira, em Foz do Iguaçu. Muito calor nos próximos dias. Foto Patrícia Iunovich

A previsão para os próximos dias, no Paraguai, é de muito calor, com temperaturas próximas dos 40 graus, que devem prosseguir até meados da próxima semana.

É semelhante à previsão dos serviços de meteorologia para o Paraná, que vai ter dias de muito calor até quarta ou quinta-feira da semana que vem.

Veja o que publicamos sobre a previsão para Foz:

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