Aida Franco de Lima – OPINIÃO
A semana passada encerrou com a notícia do atentado ao candidato a presidente americano Donald Trump, 78 anos, a tiros, durante um de seus comícios, na Pensilvânia, no sábado, 13. As informações oficiais dão conta de que Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, teria usado uma arma do tipo AR-15, disparando oito tiros antes de ser abatido pelos agentes do Serviço Secreto. Não se sabe, até o momento, a origem da arma. Um bombeiro de 50 anos, participante do comício também morreu e outra pessoa está hospitalizada em estado grave.
Crooks se posicionou em cima de um telhado, a cerca de 150 metros do palco de onde Trump discursava. Tímido, Crooks sofria bullying no colégio, inclusive por conta de suas roupas com estilo de caça. Na hora do lanche, ficava sozinho. E havia sido rejeitado no clube de tiro por não ser um bom atirador. Ele acertou na orelha direita de Trump e foi morto por um sniper que estava em um telhado, posicionado em sua direção.
Sem documentos no local, em seu carro foram encontrados materiais explosivos. Ele estaria usando uma camisa com as marca do Demolition Ranch, um canal famoso que promove vídeos de seu criador atirando em alvos que incluem manequins humanos.
Tão logo as notícias sobre o ocorrido circularam, começaram as especulações se era fato ou fake, e foram lançados rumores sobre as orientações políticas do atirador e todos os questionamentos possíveis. Inúmeras contas em redes sociais foram criadas usando o nome de Crooks, inclusive para atribuir a ele as mais variadas tendências políticas, ideológicas e aspectos de gênero. As pessoas queriam vestir o atirador com o perfil que desejavam que ele tivesse!
Rastreios indicam que ele doou US$ 15 ao Partido Democrata, quando tinha 17 anos, e que aos 20 era filiado no Partido Republicano. Em suas redes sociais não havia indícios ameaçadores que possam explicar sua conduta. Até o momento também não foram encontrados discursos políticos em outras contas utilizadas por ele.
Crooks não agiu de modo absolutamente discreto ao ponto de ser considerado um completo elemento surpresa. Inúmeros entrevistados presentes no comício relatam que notaram seu comportamento suspeito, que foi visto usando uma escada para acessar o telhado, e que os policiais foram avisados. Um policial teria subido até o beiral do telhado, com a ajuda de um colega, e quando o atirador o avistou, sem que pudesse sacar a arma caiu de onde estava dependurado, fraturando o tornozelo. Foi quando Crooks disparou contra Trump e em seguida foi alvejado pelo sniper.
O atentado a Trump, com a cena dele com a orelha e parte do rosto ensanguentado, e o candidato levantando o punho gritando USA, automaticamente levou os brasileiros a se lembrarem do episódio da facada contra Bolsonaro, também na campanha eleitoral, em 2018. Porém, muitos analistas destacam que, diferentemente do Brasil, não há como garantir que a eleição esteja ganha para Trump e que ele pode faturar completamente em torno desse atentado.
O que Trump e Bolsonaro têm em comum é que defendem que a população deva estar armada. Contudo, quando são vítimas da violência, querem lavar as mãos. Quem defende o armamento irá dizer que foi por conta do sniper que a tragédia não foi maior. E de outro modo há o argumento de que se o atirador não estivesse ali, este texto nem teria sido escrito, pois o fato não existiria.
Nossa sociedade está cada vez mais desajustada, e os transtornos mentais afetam todos. Nossos líderes políticos incendeiam os palcos políticos e querem transformar seus fãs em discípulos acéfalos, a que tudo obedecem. Entretanto se esquecem de que estão falando com pessoas passíveis de comportamentos inesperados, reações adversas. O perfil de Crooks já faz parte da estatística dos considerados “lobos solitários”, pessoas que de uma hora para outra cometem uma atrocidade sem que façam parte de um grupo coordenado.
A espetacularização da violência não deve ser usada como combustível para fins políticos ou combustível eleitoral. Redundante dizer que jamais o adversário deve tentar eliminar o rival, que não seja nas urnas. E de outro modo, quando o lado atingido se apropria do sangue para ganhar votos, ele faz da violência seu principal cabo eleitoral.
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