Violência contra a escola: prevenir para não remediar

Os atentados contra as escolas refletem a violência social de modo geral.

Apoie! Siga-nos no Google News

Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

No dia 5 de abril, o Brasil tomou conhecimento do ataque a uma creche em Blumenau (SC), que deixou quatro crianças mortas e toda uma comunidade transtornada, assustada e incrédula. O impacto da tragédia passou as fronteiras da cidade e se alastrou para o Brasil.

Os pais e o país discutem a violência e as ameaças às escolas. Conheço pessoas que deixaram de mandar os filhos para estudar e estão com crise de ansiedade por conta da insegurança, ainda mais aflorada. Pais que discutem a possibilidade de municiar os filhos com arma branca como ação preventiva. Parece-me algo insano armar crianças seja com qual arma for.

Infelizmente no Brasil, medidas que precisam ser tomadas antes de grandes tragédias só acontecem depois que muitas vidas são destroçadas. Um triste exemplo é o caso das medidas preventivas que passaram a vigorar somente após o incêndio da boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013.

A morte de 242 pessoas, 636 sobreviventes e incontáveis familiares machucados psicologicamente foram um duro alerta. Na tragédia da Kiss, muita gente correu em busca de uma saída nunca encontrada.

E qual será o caminho para impedir os ataques contra as escolas? Não há fórmula mágica. As medidas de curto prazo passaram a ser implantadas por prefeituras, que anunciaram reforço no policiamento. Escolas de idiomas, que antes atendiam com a secretaria aberta ao público e fácil acesso aos alunos, agora só permitem a entrada de quem se identificar. Resolve o problema? Não, mas dificulta a uma pessoa desajustada cometer sandices e proporciona uma certa sensação de segurança, para amenizar o pânico.

O governo federal lançou dois editais na área de segurança. Na terça, dia 11, foi lançado o edital sobre um chamamento público para fortalecimento do programa de segurança nas escolas, no valor de R$ 150 milhões, a serem usados para rondas e outras ações do gênero. Na mesma data, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou o segundo edital, no valor de R$ 100 milhões – destinados às Guardas Municipais.

Essas são medidas importantes, essenciais, que já deveriam ter ocorrido. Mas antes tarde do que nunca. Claro, estamos vendo apenas a ponta do iceberg. Inclusive a mídia – ao menos os veículos mais tradicionais que medem o peso de sua responsabilidade – também tem mudado seus protocolos. Não divulgar fotos, nomes e cartas deixadas por bandidos é uma forma de não dar munição para outros psicopatas. Porém como fica a cobertura de temas violentos e a repetição constante, que atrai engajamento do público e patrocinadores?

Os pais estão aflitos com uma onda de boataria que se espalha pelas redes sociais a respeito de possíveis ataques. Muitos até evitam mandar os filhos para as escolas. E o que fazer? Os especialistas recomendam cautela, inclusive no “consumo” de notícias. E mais, no “consumo” e propagação de boataria. Se há alguma suspeita, o indicado é repassar para a polícia. Dar visibilidade para a ação não inibe, contudo proporciona o efeito contágio. Publicações que são denunciadas ajudam a chegar aos autores e coibir a prática.

Todo esse cenário reflete a necessidade de políticas públicas efetivas para a valorização da escola, dos profissionais da Educação, com “E” maiúsculo. Quantas vezes escutamos que professores doutrinam alunos? 

Qual é o papel dos pais, que nem sempre encontram tempo para saber se os filhos são alvo ou se praticam bullying? Nada justifica um crime, mas para quem o pratica qualquer ato de violência sofrida passa a ser um bom motivo para descontar nos outros. A violência no convívio familiar, dos pais que se agridem, dos filhos que agridem os pais, tudo isso reflete fora de casa. 

Há sempre um histórico de violência também na vida de quem comete tragédias. A pessoa não surta “do nada” e resolve cometer crimes. Os sinais são dados, e as famílias e amigos são as primeiras vítimas ou os primeiros a observar. É uma espécie de roleta-russa, e quem aperta o gatilho é a sociedade. Cabe também às pessoas mais próximas sinalizar às autoridades quando o indivíduo tem comportamento desviante. E ao Estado cortar esse circuito. Estar atento a esses sinais.

Detectores de metais podem impedir que alguém entre armado na escola. No entanto são os profissionais da área da sanidade mental que são capazes de detectar os problemas que afetam os indivíduos. Se o investimento em saúde mental coletiva for ao menos proporcional ao que se gasta com armamentos, talvez consigamos ter o conforto de que as portas das escolas voltem a ser o lugar em que os pais digam apenas tchau aos filhos, e não um adeus…

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.