Sobre professores que lembramos com saudades ou dor

Do mesmo modo que colhe, um professor deixa memórias doces e amargas.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Quando falamos do Dia dos Professores, 15 de outubro, rendemos homenagens a essa classe da qual tanto dependemos, mas pouco valorizamos também.

A situação atual do magistério nos leva a pensar como foi que chegamos ao ponto de um aluno tentar enforcar um professor em sala de aula, entre outros casos recorrentes por aí. Casos em que os pais enviam bilhetes malcriados aos professores, como se seus filhos fossem anjinhos sem asas nas escolas. Mas, apesar de tudo, tenho uma visão muito otimista, talvez porque eu seja apaixonada por estar em sala de aula e tento tratar os meus alunos de forma individualizada, cada qual com sua necessidade.

Todos temos memórias de nossos professores, e nós, da geração na casa dos 50 anos, sabemos muito bem como os tempos mudaram. E somos o reflexo de muitos professores que nos trataram com respeito e de outros que se sentiam no direito de humilhar-nos em sala de aula, porque tudo podiam.

Eu tenho as melhores lembranças de inúmeros professores, desde a primeira professora do primeiro ano. E depois, no segundo ano, havia uma professora que era esposa do prefeito ou ex-prefeito, eu não lembro. Ela era fisicamente linda, parecia a personagem da Mulher-Maravilha. Mas ela faltava muito, e falavam que era porque ela apanhava do esposo. E como eu era uma criança, não assimilava o que isso significava. Tenho lembranças do meu professor de Português, que elogiava meus textos, e da professora de Educação Física, que organizava as festas juninas. Enfim, uma lista enorme dos professores que transmitiram seus conhecimentos, dedicação e respeito.

Entretanto, infelizmente, tenho um trauma terrível de Matemática, justamente por conta de duas professores que eram o terror do colégio, e isso parecia tão normal. Eram aquelas professoras que faziam da Matemática a matéria mais difícil, a mais traumática. Incrível como um professor muda o destino de um aluno, para bem ou para mal. Até antes de ter aulas com essas professoras no ensino médio, pra mim a Matemática era uma disciplina como as outras. Depois, virou um grande obstáculo.

A minha professora, que no colégio particular tratava todos com educação, no colégio público parecia em surto. Eu tenho essa concepção hoje, pois na época eu a via apenas como alguém má. Ela nos humilhava se não soubéssemos fazer o exercício no quadro, puxava a orelha, jogava giz, ameaçava com sapato, xingava. E não tínhamos Estatuto da Criança e do Adolescente para proteger-nos. Quando era dia de correção de exercício no quadro, era um terror. Muitos alunos trocavam de carteira para não ir ao quadro. Então, quem tinha estudado para fazer corretamente o exercício A, e de repente tinha de fazer o B ou C, sofria. Se desse horário do recreio, quem estava no quadro ficava lá, de frente para ele, chorando, sem saber fazer nada. Até que acabava o intervalo, e ela saía da sala para dar lugar a outro professor.

Quando eu decidi ser professora, eu prometi a mim mesma que jamais faria com meus alunos o que aquelas duas professoras fizeram comigo. A outra não nos humilhava tanto, mas tornava os exercícios muito difíceis, e até colega de sala que depois virou engenheiro civil foi reprovado em sua matéria.

Porém, outro professor, que veio depois dessa fase, era um querido, o saudoso Professor Zeca, muito conhecido nos cursinhos de Maringá. Ele fazia da Matemática uma deliciosa jornada. As suas aulas eram felizes. Quem fazia gracinhas em sua aula e desviava o foco, ele só lembrava que o vestibular estava perto e que outros iriam pegar nossa vaga. Hoje já esqueci, mas foi com ele que na época conseguia compreender os Números Imaginários.

Poderia citar inúmeros outros professores que marcaram positivamente minha fase de estudante, que depois se tornaram meus colegas de profissão. Infelizmente, o trauma causado por duas únicas professoras sempre insiste em ressoar mais forte. Fico pensando se aquelas pessoas tinham ou têm consciência do que fizeram com toda uma geração que passou por elas. Creio que não. Era tudo tão normal…

Há um ditado que diz “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”. Sabemos que os extremos não são bons. Tratar o professor ou aluno como um pobre coitado, vítima da sociedade, ou ambos como tiranos, em nada nos acrescenta.

Mas o que quero dizer com isso tudo é que ao longo dos anos eu tive e ainda tenho o privilégio de conhecer alunos incríveis, daqueles que fazem a gente acreditar no futuro, em dias melhores, e que decidimos pela profissão certa.

Ainda outro dia uns alunos me agradeceram pela aula. Hoje, uma universitária me entregou um bombom, em nome dela e de outra aluna. Eu achei um gesto tão gentil… Lembrou-me de quando eu ia para a escola e levava uma flor para a professora. O mundo não está perdido. Lecionar, ainda é fantástico. Que sejamos e tenhamos motivos para que os alunos cultivem memórias de seus professores, com amor, longe da dor.

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