São Paulo ‘queima’ livros físicos em troca dos digitais

Governo de SP diz que escolas imprimirão livros, para os casos em que os digitais não atendam a demanda.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Estamos na era das telas, da conexão generalizada. Mas isso não deveria significar o fim dos produtos físicos, principalmente os livros. Porém, para o governo do estado de São Paulo, sim. Na semana passada, foi anunciado que São Paulo vai trocar os livros físicos usados pelos alunos do sexto ao nono ano para conteúdo digital. 

Isso significa dez milhões a menos de livros em circulação e 1,4 milhão de alunos que, em vez de aprenderem pelos livros físicos, estarão de olho no tablet ou outro dispositivo digital. Mas tem mais, quer dizer que o maior estado do Brasil vai dar as costas ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que amplia o leque de escolha das obras que irão para a sala de aula.

O Ministério Público quer saber o motivo dessa decisão e, por isso, instaurou um inquérito civil. Também há um mercado de editores que ficará fora dessa fatia importante que movimenta o setor, já bastante fragilizado. Isso que nem falamos da importância do contato físico com o livro, que não tem comparação com o digital.

A pandemia mostrou como foi difícil para que uma boa parte dos alunos tivesse acesso aos conteúdos digitais. Migrar, da noite para o dia, do livro físico ao digital é no mínimo preocupante. Foram inúmeros os casos que viralizaram nas redes sociais, de estudantes que improvisavam para que conseguissem assistir às aulas, fosse por falta de conexão, de aparelho ou de ambos.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc) parece que decorou uma resposta padrão para os questionamentos dos educadores surpreendidos com tal decisão. Diz que vai apenas uniformizar os livros didáticos por meio digital; que a primeira estratégia é possibilitar mais computadores nas escolas, distribuir aparelhos  celulares e liberar a impressão quando for necessário.

Imagine só, as escolas mal têm papel higiênico, e terão papel, tinta, impressora, tempo, funcionários, material extra para imprimir livros? Até lembra um pouco o tempo do mimeógrafo, mas naquela época não havia outra opção. Só falta São Paulo retornar  ao carbono! Haja logística.

Ou seja, tentam reinventar a roda, quando ela está ali. Dizer que se tudo der errado é possível imprimir as páginas dos livros, que os alunos têm direito, mas que o governo de São Paulo não quer ter acesso merece nota 0. Parece uma nova Santa Inquisição, cuja fogueira é alimentada pelo PNLD, visto que SP vai descolar de todo o resto do Brasil no quesito livros didáticos à rede pública.

De outro modo, países como a Suécia, que já sentiu na pele o que é digitalizar os livros escolares, agora tomam outro rumo. Depois de 15 anos introduzindo aos poucos as telas nas escolas, o país agora promove a reintrodução do livro físico.

  • As consequências negativas foram observadas em toda a comunidade escolar. Alunos(as) perderam o hábito da leitura, professores(as) ficaram sem acesso a livros e as mães, pais e responsáveis não conseguem ajudar seus(suas) filhos(as). (Fonte: Sinpro-DF)

O Ministério Público de São Paulo questiona se há conflito de interesse pelo fato de o secretário de Educação Renato Feder ser também acionista do grupo de tecnologia que presta serviço ao setor de educação. Feder é conhecido dos paranaenses, pois veio de São Paulo para comandar a Secretaria de Estado da Educação entre 2019 e 2022. Em 2023, voltou a SP.

“Descobriu-se que a simples proximidade de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e provocar um impacto negativo na aprendizagem em 14 países. O tempo prolongado de exposição à tela pode afetar de forma negativa o autocontrole e a estabilidade emocional, aumentando a ansiedade e a depressão”, diz relatório da Unesco. (Fonte: Sinpro-DF)

“Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?” é o nome do estudo da Unesco. E parece que São Paulo tem a resposta.

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1 comentário
  1. Marcello Diz

    Parei no “importante contato físico com o livro” ……

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