Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Quem escreve, estuda ou trabalha com meio ambiente tem uma percepção diferente das demais pessoas cujo assunto não é o foco. E o que é bastante óbvio para essa fatia de profissionais não tem a mesma clareza para as demais.
Quando estamos falando de meio ambiente e de agentes públicos, aí parece mesmo que a coisa não dialoga. Há quem realmente acredite que preservar o meio ambiente é ser contra o progresso – quando, na verdade, é preservar a espécie humana.
Diante da tragédia das enchentes, que mais uma vez tomou conta do Rio Grande do Sul, entre os dias 4 e 5 deste mês, com milhares de desabrigados e 79 cidades em estado de calamidade pública, após a passagem de um ciclone extratropical, o governador Eduardo Leite justificou que foi surpreendido com o desastre; que os modelos matemáticos, as previsões meteorológicas, não previram a intensidade das chuvas.
Até o momento são 41 mortos e 46 desaparecidos. Muçum, Arroio do Meio e Lajeado foram as cidades mais atingidas desta vez.
A fala de Eduardo Leite ocorreu durante entrevista ao vivo, na Globo News, no último dia 6, quando o jornalista especializado em meio ambiente André Trigueiro indagou o governador gaúcho sobre medidas preventivas que os gestores deveriam tomar em relação aos anunciados eventos climáticos extremos.
Houve um “climão” por conta desse questionamento do jornalista ao governador, que obviamente não imaginava ser colocado contra a parede e esperava muito mais um gesto de consternação. Consternação, solidariedade… é tudo que a população mais precisa. Porém, as autoridades devem agir preventivamente.
O RS está há três meses sofrendo na pele os estragos causados por ciclones extratropicais. Basta olhar nos sites de buscas, as notícias se repetem. Alagamento, mortes de pessoas e animais, destruição de imóveis e perdas patrimoniais.
O novo normal das mudanças climáticas está levando as cidades rio abaixo. A Defesa Civil de todo e qualquer município precisa rever seus conceitos e trabalhar com a previsão de cenários, contando com o pior deles. Só assim será possível antecipar-se, minimamente, às tragédias.
Os gestores devem pensar nas medidas que serão adotadas diante dos fatos, contudo também necessitam trabalhar para evitar as tragédias.
Lembra-se de quando nos orgulhávamos de dizer que no Brasil não havia as tragédias que aconteciam em outros países? Isso não nos pertence mais! Tudo na natureza é interligado. A conta em torno da destruição da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa está chegando. E ela será cada vez mais cara.
Até o momento, estima-se um prejuízo de R$ 1,3 bilhão provocado pela enchente que devastou cidades, e para tentar superar os estragados seria preciso um investimento de R$ 1 bilhão.
Jornalista que é jornalista vai sempre pôr o dedo na ferida. Cabe ao gestor prevenir para não remediar. A dinâmica deveria ser outra: investir em obras preventivas e não em medidas paliativas.
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