Rastros da vacina

Informações falsas que foram apagadas do banco de dados do SUS deram o alerta para esquema de falsificação

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Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

No dia 5 de abril, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou o fim da pandemia da covid-19. A notícia tão esperada finalmente chegou. Mas não para todos. Isso porque uma parcela da humanidade imagina mesmo que tudo não passou de uma teoria da conspiração, que a doença nem existiu. Afinal, a pessoa está viva para argumentar.  Mesmo que o vírus ainda circule, porém de modo menos avassalador.

Foram anos difíceis para quem acreditou ou não na doença. Até mesmo para os últimos, pois se sentiram com o direito à liberdade sufocado. Muito mais que quem se sacrificou como pôde, porque sabia que o que estava em jogo era a vida.

Contudo, na mesma semana, o noticiário foi  tomado pela informação de que o banco de dados do SUS, o ConecteSUS, sofreu uma adulteração para beneficiar integrantes do ex-governo Jair Bolsonaro, inclusive o próprio e sua filha de 12 anos, Laura, além do clã de seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, em relação à carteira de vacinação. 

Diferentemente dos demais brasileiros que morreram à espera da vacina que não chegou a tempo; daqueles que furaram a fila para conseguir uma dose, mesmo não estando na ordem de prioridade; ou daqueles que aguardaram ansiosamente nas filas, o grupo que fraudou o sistema o fez com outra finalidade.

Sem acreditarem na eficiência da ciência, precisavam dos certificados de vacinação para que não arcassem com as consequências de suas convicções. Assim, se apenas se vacinassem, teriam carteiras com os selinhos de cada ampola aplicada, os comprovantes autênticos, com os dados lançados corretamente na plataforma do SUS. Mas optaram pelo outro caminho, aquele de burlar o sistema.

Mais uma vez, o SUS demonstrou a sua grandeza, mesmo diante da falta de investimentos que o nocauteia ao longo dos anos e da enxurrada de notícias falsas que desmotivam a vacinação, inclusive contra doenças como o sarampo. O SUS foi capaz de pegar de calças curtas alguns aliados e a mais alta autoridade do Poder Executivo. Talvez justamente porque negligenciaram a missão do sistema que tantas vidas salva.

Há quem justifique, ainda, que tomar vacina é decisão pessoal. Mesmo que estejamos falando de doenças transmissíveis. Entretanto não há argumentos sólidos para defender a falsificação de informações em um banco de dados de um mecanismo público.

Ocorre que para efetuar a operação e dar veracidade à vacinação fake, por três vezes foram introduzidos dados no sistema, no caso em relação ao ex-presidente, e esses foram apagados. E nesse momento ficaram os rastros. Isso configura vários crimes, como peculato digital, com pena de 2 a 12 anos de prisão.

A clássica frase “siga o dinheiro” foi perfeitamente substituída por “siga as vacinas”. As consequências contra os investigados não sabemos. E nunca saberemos como seria a nossa realidade se os envolvidos em burlar dados do SUS para falsificar um atestado de vacina, e estavam direta ou indiretamente no comando do Brasil, tivessem tido o mesmo empenho para garantir vacinas e informações fidedignas a todos os brasileiros.

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