Quem cuida de quem cuida dos idosos?

Os cuidados com os idosos, diferente da herança, normalmente recai a uma única pessoa da família.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O tema da redação do ENEM 2023, “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, levantou o tapete e retirou dali uma porção de conflitos que envolvem a mulher e a invisibilidade de suas tarefas. São jornadas de trabalho que cercam desde quando ela começa a brincar de casinha.

E dentro dessa invisibilidade temos as pessoas cuidadoras de idosos e acamadas. Em sua maioria mulher, mas há homens também. Porém estou falando não de cuidadores que escolhem essa tarefa como uma profissão, e sim das pessoas escaladas pela família ou pelo destino para que cuidem dos genitores, principalmente. Como é na sua família?

As estatísticas, assim como o último censo, comprovam que o Brasil está envelhecendo e a Previdência Social não tem sido capaz de garantir uma aposentadoria de descanso para uma grande parte dos brasileiros. Isso os obriga a ir buscar subempregos. E aqueles idosos que, ainda sem uma fonte de renda extra, precisam dos cuidados de terceiros?

A frase bíblica que diz que um pai cuida de dez filhos, entretanto dez filhos não cuidam de um pai é muito real. Claro que há exceções, mas observe no seu núcleo familiar. São poucos aqueles filhos que revezam os cuidados diários com os pais. Sobra sempre pra um.

Na hora de dividir uma herança, ela é de direito de todos. Contudo no momento de dar os remédios diariamente, o alimento, o banho e atender à necessidade de atenção que qualquer pessoa requer, é, quase sempre, dever pra um só.

É bastante comum que quem cuida dos pais e que por um motivo ou outro more junto com eles muitas vezes seja tido como o problemático da família. Aquela pessoa que só sabe reclamar e não percebe as benesses de ter um vínculo tão próximo com os genitores e ainda de morar de graça!

Afinal, quando os filhos estão distantes, física ou afetivamente, visitam os pais basicamente nos eventos sociais, não compreendem o significado da rotina, envolvida com a sobrecarga de trabalhos, dos conflitos de gerações e, muitas vezes, da ausência de vida social. A pressão é tamanha que o cuidador aos poucos nem nota que vai deixando de viver sua própria vida.

Uma pessoa que cuida dos pais é igual a uma mãe com filho pequeno. Qualquer ajuda é bem-vinda. Um pai, uma mãe, eles querem, além de tudo, atenção. Eles querem contar suas histórias, ouvir as outras, compartilhar e resgatar suas memórias. E muitos filhos não acham tempo nem para isso. Quando irão encontrar? Quando irão lembrar-se de suas responsabilidades?

Eu conheço uma pessoa que foi até a Justiça pedir que os demais irmãos ajudassem a cuidar da mãe. Ao menos nos finais de semana. Só para ela ter um tempo para si própria. E foi somente com a mão pesada da Justiça que os filhos espernearam. Quem não podia estar com a mãe nos finais de semana pagava cuidador profissional.

Mas nem todo mundo está disposto a arrumar confusão. Sim, porque chamar para a responsabilidade muitas vezes é tido assim. E como é na sua família? Se caso for uma família exemplar, que todos assumam responsabilidades ou que seus pais realmente não precisem, ou sejam falecidos, há duas hipóteses: você pode ser a pessoa que precisa de cuidados ou aquela que delega as tarefas. E então, até quando?

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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3 Comentários
  1. Maria Diz

    Nunca vi tanta verdade nessa opinião

  2. Andrea Diz

    Deveriam,ter leis para acolhimento dessas pessoas, que cuidadoras,porque eles não tem ,nem um seguro pra nada no futuro ?desde de meus 19 ,anos cuido de minha mãe tô com 44 hoje nunca pude trabalhar ,

  3. Elenice Diz

    Quer ver briga é só chamar pra ajudarem. Tenho vontade de entrar na justiça pra dividir responsabilidade, mas com receio vou adiando

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