Nesta semana, o noticiário nacional e internacional foi invadido pela notícia do desaparecimento do submarino da empresa OceanGate que levava um grupo de cinco bilionários a uma viagem de turismo rumo aos destroços do Titanic.
Houve uma espécie de contagem regressiva em relação à quantidade de oxigênio, que se reduzia conforme o avançar das horas, nutrindo ainda uma certa esperança ao público que acompanha a história. Porém, esgotado esse tempo, a Guarda Costeira americana informou que foram encontrados fragmentos do submarino, que sofreu uma implosão.
Um questionamento levantado foi referente ao tempo que a mídia dedicou ao submarino da OceanGate em detrimento às centenas de mortes de refugiados, que desaparecem no Mediterrâneo tentando chegar à Europa. Desde 2014, foram mais de 20 mil mortes, de acordo com levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Em entrevista à CNN Internacional, o ex-presidente dos EUA Barack Obama se lembrou das 700 pessoas mortas na costa da Grécia, que eram traficadas e viraram notícia, mas não na mesma proporção que a dada aos bilionários desaparecidos em uma viagem de turismo. Para ele, em alguns casos, isso é o indicativo do grau do quanto as chances de vida das pessoas se tornam diferentes.
Muitas “explicações” justificariam esse foco em um grupo de cinco bilionários e o ocultamento de milhares de vidas das quais nunca teremos referências, que naufragaram e morreram em busca de novas condições econômicas, de vida. E o fato está justamente na questão financeira. A fortuna dos tripulantes do OceanGate era de R$ 12,6 bilhões, maior que o Produto Interno Bruto (PIB) de Cabo Verde no ano de 2021.
Soma-se a isso tudo isso a curiosidade que o naufrágio do Titanic provoca ao longo dos anos, ainda mais depois do lançamento de filme homônimo, que está entre as maiores bilheterias do cinema mundial.
As cinco vidas perdidas no submarino, sendo uma a do fundador e diretor-executivo da empresa, Stockton Rush, não devem ser desmerecidas, tampouco virarem motivo de graça ou memes. Talvez o episódio sirva para obrigar as empresas que exploram esse tipo de “turismo” a estar mais atentas aos códigos de segurança internacionais.
Estamos falando de desigualdade o tempo todo. A mesma desigualdade citada pelo presidente Lula, na última sexta-feira, 23. “Ou seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom, e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo.”
Vale destacar que nunca será possível ter um clima bom se as pessoas continuarem morrendo de fome. São coisas distintas. Porque a fome obriga a pessoa a tomar medidas drásticas, e isso vai sim impactar o meio ambiente.
A desigualdade que Lula citou em Paris é a mesma lembrada por Obama. Seja na forma como a mídia trata um tema em detrimento de outro, seja como os países ricos não se importam com os pobres. Algo urgente precisa ser feito antes que quem afunde de vez seja o planeta.
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