O racista morre pelo bolso

Quando o bolso do racista é atingido, ele começa a repensar sua postura.

Por AIDA FRANCO DE LIMA | OPINIÃO

A fala de Magno Malta (PL-ES), após mais um episódio de racismo vivenciado por Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior, o Vini Jr., jogador do Real Madrid, de 22 anos, foi insana. Mas, dentro das atitudes do citado político, não causa surpresa.
Vale relembrar, Vini Jr. tem sofrido frequentes episódios de racismo por parte de torcidas adversárias. A última, no jogo do dia 21, foi de uma ala do Valência, que entoou em coro os berros de “mono”, macaco em espanhol, como se fosse um grito de guerra. Lembrando um grito de entusiasmo por um gol. Na verdade, uma goleada contra o respeito ao outro.
Diante de uma cena tão repugnante e grotesca, o jogador mais uma vez se posicionou, obrigando setores da mídia e ligas esportivas a também se manifestarem, ao perceberem que o que tem havido nos estádios merece punição severa. Que isso é jogo baixo.
O governo brasileiro, por meio do Ministério da Igualdade Racial, acionou o governo e a liga espanhola, exigindo ações enérgicas contra o racismo. O presidente Lula, tão logo terminou a reunião do G7, na China, em entrevista coletiva, posicionou-se contra o ocorrido.
E no Senado, Magno Malta foi falar do episódio de racismo, destilando racismo. Em sua fala, ele questionou onde estavam os defensores dos animais, que não se manifestaram, visto que ao xingarem um jogador de macaco estavam humilhando o símio também.
A fala de Malta é ardilosa. Mesmo que fosse de qualquer outra pessoa sem cargo público, já deveria ser combatida com rigor. Mas em se tratando de um senador, a coisa é ainda mais grave. Uma pessoa pública, eleita para defender os interesses da nação, praticando racismo e tentando dizer que a vítima do racismo precisa fazer do limão a limonada.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o depoimento do senador (PL-ES) sobre sua declaração. Também há mais dois requerimentos que pedem que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado instaure processo disciplinar.
Malta, segundo o qual a exposição do racismo é uma forma de revitimizar o jogador, certamente será instruído por advogados para tentar reverter o seu posicionamento, a fim de salvar seu mandato. Provavelmente vai falar tudo que a gente sempre escuta, que seus dizeres foram retirados de contexto e que até tem amigos negros.
Só tem um lugar onde dói para um racista. É no bolso. Porque o racismo não cabe onde há o mínimo de consciência. Quando os times ou os patrocinadores sentirem o reflexo do racismo em seus cofres, ou quando Malta e qualquer outro perderem suas rendas, e mesmo a liberdade, não falarão mais em vitimismo. Até lá, toda vez que dentro e fora do campo existir alguém chorando porque outros se divertem com seu sofrimento, a humanidade estará praticando jogo sujo.

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