O MST brotou com o surgimento da Itaipu

O MST é fruto de um longo processo histórico em que terras agricultáveis foram alagadas ou integradas a grandes latifúndios, sem a devida indenização

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tem ganhado destaque na mídia e é bastante explorada pelos integrantes, ansiosos pelos holofotes. Na semana que passou, a deputada e presidente do PT (Partido dos Trabalhadores), Gleisi Hoffmann, relembrou o nascimento do MST. Foi a partir da construção de Itaipu. O êxodo rural já era um agravante. E a desapropriação para construir a hidrelétrica viria a piorar ainda mais esse problema. 

Foi no ano de 1984, entre os dias 20 e 22 de janeiro, que aconteceu, na cidade de Cascavel (PR), o primeiro encontro nacional do MST impulsionado por conta da construção da barragem de Itaipu e lutas que já ocorriam por todo o Brasil. Ela rememorou que agricultores residentes no entorno tiveram suas terras desapropriadas e parte deles nunca foi indenizada. Era período da ditadura e não havia a quem recorrer.

Algumas dessas famílias foram para a Região Norte do Brasil, mas a grande maioria migrou para as periferias das cidades. O mesmo ocorreu durante a construção das usinas hidrelétricas do Rio Iguaçu e de outras obras que expulsaram agricultores, ribeirinhos e povos indígenas. Nasceu, então, o MST para reorganizar as famílias e recuperar suas propriedades, para lutar pelo direito à indenização e devolução de suas terras. No evento, estavam representantes de 12 estados, porque, como foi dito, o problema não é localizado. É sistêmico.

GRILAGEM

A essas famílias se juntaram outras, excluídas do processo de oferta das propriedades, desde o período das Capitanias Hereditárias, quando a Coroa distribuía terras para as famílias que menos precisavam: as ricas. Quando ocorria de os pequenos produtores terem terras, essas eram anexadas pelas famílias ricas. E para comprovar a titularidade, fraudavam os documentos, pondo escrituras falsas em gavetas com grilos, para que dessem o ar de papéis envelhecidos. O termo grilagem tem origem nesse contexto.

Falar do MST é quase como discutir sobre coentro ou uva-passa na comida. Tem gente que adora, acha que enriquece. Outros simplesmente torcem o nariz, porque é muito invasivo. Até nas palavras é possível perceber os posicionamentos. Quando o termo usado é invasão, entende-se ser algo ilegal. Já a ocupação parece dentro da legalidade.

Tem quem acha que o MST não produz um grão de arroz, que só sabe entrar em terras alheias, e que é o agro que dá conta do recado. De outro modo, há quem destaca que o arroz orgânico sai das áreas desapropriadas. Áreas legalizadas por meio da técnica da grilagem.

Para a construção de Itaipu foram desapropriadas 8.272 propriedades de solo rural e urbano no Brasil e cerca de 1.200 no Paraguai. Da margem brasileira foram removidas cerca de 40 mil pessoas; e da margem paraguaia, aproximadamente 20 mil – Juvêncio Mazzarollo – A taipa da injustiça

O fato é que o MST reflete muitos outros segmentos da sociedade, nos quais nem todos são mocinhos nem todos vilões. E quase sempre, quem opina desconhece a origem do movimento que pode, sim, ter aproveitadores no meio. Do mesmo modo que significa um recomeço, um retorno ao meio rural daqueles que foram obrigados a migrar para a cidade. E o trabalho desenvolvido pelas cooperativas é um dado importante a ser considerado.

É importante conhecermos a história, as origens, os solos ondem nascem os acontecimentos, para que possamos tomar decisões e formar opiniões, sem que caiamos em areias movediças.

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