
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
A mulher de César não basta ser honesta. Tem de parecer honesta. A frase é atribuída ao imperador César, do século 62 A.C. E, migrando para nosso mundo atual, parafraseando-a, dirigida a um percentual de nossa sociedade, ao negacionista não basta parecer ignorante, tem de militar pela ignorância.
Na década de 1970, o sarampo, a varíola e a poliomielite ameaçavam as crianças e, quando não tiravam vidas, deixavam suas marcas. Crianças que cresceram sem nunca correr pelas ruas ou subir em árvores, porque a cadeira de rodas ou muletas as impediam.
De acordo com a Universidade Federal de Santa Maria, a poliomielite foi erradicada do território nacional em 1994. Porém, o país tem alto risco de reintrodução da doença.
Segundo a Fiocruz, na América Latina, as campanhas de erradicação ocorreram nos dois países que ainda registravam casos da doença: Argentina e Brasil. Como a varíola ainda era endêmica no Brasil, o governo brasileiro investiu na vacinação em massa, na organização de uma rede de vigilância epidemiológica e na criação de laboratórios de referência para apoiar o programa de combate. O somatório desses esforços possibilitou, em 1972, a erradicação da doença no continente americano.
Nos anos 1980 e 1990, as escolas se empenhavam em estimular a vacinação, e as filas se formavam. Os pais eram incentivados a imunizar seus filhos, e todos corriam para a vacinação. Uma geração inteira tem na memória o medo do “revólver de pressão” e uma marca no braço, normalmente o direito.
Lentamente, essas e outras doenças combatidas com vacinas foram erradicadas. Porém, de uns anos para cá, principalmente com a conexão generalizada, em que informações deturpadas repercutem mais que algo verdadeiro pela internet, as coisas passaram a se complicar.
Apesar das evidências que comprovam a eficácia das vacinas, o que antes era um discurso de pequenos grupos ao redor do mundo, que preferiam uma vida distante de produtos industrializados e sem consumismo, passou a fazer parte da agenda de quem não se importa com agrotóxico, mas questiona a vacina.
Os negacionistas chegaram para ficar – e já há resultados. No ano de 2016, o Brasil havia conquistado o certificado de eliminação da doença. Porém, em 2019 perdeu esse reconhecimento, pois estava com 81,5% de cobertura vacinal. Mas em 2022 esse índice foi de 53%. Em apenas dez anos, a cobertura vacinal da poliomielite foi de 96,5% em 2012 para 77% em 2022, uma queda de aproximadamente 20%.
O movimento, que cresceu lá fora, ramificou-se no Brasil. Famílias que foram vacinadas a vida inteira agora deixam no fundo de alguma gaveta as carteirinhas das novas gerações. A justificativa é sempre a falta de comprovação dos benefícios da vacina. E diante de qualquer problema de saúde que acometa alguém, já se relaciona à vacinação.
Contudo, não há o mesmo questionamento em relação ao uso de agrotóxicos até mesmo para eliminar o mato da beira da calçada. Não vejo o negacionista, que parece tão preocupado com a saúde, defendendo a preservação das fontes de água, por exemplo.
Ignorância e oportunismo andam de mãos dadas. E para combater esse mal, a vacina mais eficaz é a informação com qualidade.
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